– Ei, você aí.
– Tá falando comigo?
– Quem mais?
– Ué, não sei. Tem tanta gente por aqui.
– É com você mesmo. Preciso te fazer uma pergunta.
– Se eu souber responder…
– Você é real mesmo?
– Sabe que eu nunca parei pra pensar nisso?
– Preciso acreditar.
– Em quê?
– Que você existe.
– Você não tá me vendo aqui? Por que não acredita?
– Porque nunca ninguém me olhou assim antes.
– Assim como?
– Com essa mistura de dúvida e reverência.
– O que é reverência?
– Um respeito muito grande, sabe? Uma admiração…
– Ah, isso eu sinto mesmo. As dúvidas também.
– Eu sei. Não se preocupe.
– Elas vão sumir, um dia?
– Talvez sim, talvez não. Mas isso não é o mais importante.
– Não? Achei que fosse.
– Pois é. Muita gente pensa assim. Muitos até sofrem por conta.
– Não estou sofrendo.
– Eu sei. Por isso precisava saber se você é real.
– Acho que sou real sim.
– Que bom! Gosto de olhar pra você.
– Sério?
– Sim. Vejo o coração no seu olhar.
– Mas meu coração não bate no peito?
– Também.
– Trazer o coração no olhar é bom?
– É a única coisa que importa.
– Valeu. Obrigado.
– Promete voltar outras vezes?
– Prometo.
– Fico feliz.
– Posso te perguntar uma coisa também?
– Claro.
– Por que você fica o tempo todo com os braços abertos?
– Tô esperando seu abraço…