Comunhão…

As velas acesas emprestavam austeridade e cerimônia ao ambiente. O aconchego pretendido não se manifestava. Rostos estáticos moviam-se no compasso trêmulo da luz. Ansiosos, aguardavam o momento de contemplá-los. O piso frio não se rendera ao calor das chamas. Ali ela estendeu as vestes, restos de seus pudores. Mãos e boca uniram-se, dedos acariciando a fronte. Com os olhos cerrados, caberia ao corpo o vigor das sensações.

Ajoelhado ao seu lado, incumbiu-se ele das primeiras práticas. Sabia que, por ser pura, pouco haveria de compreender. A voz grave bastaria para fazê-la estremecer, mas foram suas palavras ao pé do ouvido que a deixaram eriçada. O arrepio perpassou seu ventre e alojou-se no peito. Perdera a noção de quem era, de quem fora. Jamais algo a preenchera daquela forma. Atento aos suspiros, ele jurou levá-la primeiro ao êxtase. Superado o assombro, parecia pronta para engolir carne, para sorver líquido.

Os fugazes encontros anteriores serviram de ensaio. Ela já havia lhe permitido amostras de textura e consistência. A imagem de suas mãos alternando movimentos bruscos e carícias suaves a arrebatara. Ela tentara disfarçar, mas os bicos intumescidos a inebriaram. Na volúpia do momento, entreolharam-se: ela, cada vez mais enrubescida; ele, esforçando-se para controlar a ânsia de levar tudo aquilo à boca. Ambos escumavam de desejo. Não era chegada a hora.

Poucos dias depois, ele a viu descalça. Fascinado por aqueles pés – pequenos e bem formados –, incitou-os a tocar a pele fina, a percorrer reentrâncias, a curvar-se diante do volume rijo. Ela recusou, a princípio. Seus olhos, entretanto, não conseguiram disfarçar o viço da tentação. Ousada, não tardou a demonstrar destreza. Movimentos ritmados se avolumaram. O sumo jorrava sob seus pés. Não podiam mais postergar. A fusão estava próxima.

As sombras projetadas pelo lume das velas pareciam ganhar vida. Dançavam, libidinosas, como déspotas da liturgia. Depois de sonhos, expectativas e preliminares, o ato estava prestes a se consumar. A espera chegara ao fim. E assim, lado a lado, os dois noviços entregaram-se ao sacerdócio. Pão e vinho – frutos de seus suores mútuos – enfim repartidos e degustados. Suas almas – consagradas pela eucaristia – finalmente em comunhão.

Do altar em frente, seminu e de braços abertos, um homem os abençoava…

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