O Poderoso Chefão, exatos 50 anos depois de sua estreia no Brasil…
– Agora você vem a mim e diz: “Don Corleone, faça justiça”. Mas você não pede com respeito. Não oferece sua amizade. Nem sequer pensa em me chamar de Padrinho.
– Perdoe-me, Padrinho.
– Assim é melhor. Que justiça você busca, Bonasera?
– Preciso dar uma lição nos ladrões que machucaram minha filha.
– Pode contar conosco.
– Muito obrigado, Padrinho. Fico feliz por saber que eles terão o que merecem.
– Sim, vamos levá-los para um centro de cuidados especiais onde receberão o amor e a compreensão que não tiveram na infância.
– Mas… Padrinho, eu quero que eles sofram.
– E eles sofrem, Bonasera. São vítimas de uma sociedade desigual, elitista, patriarcal, racista e escravocrata.
– Mas eles são italianos.
– Ah, sim… e xenófoba.
– Eles não vão pagar pelo crime que cometeram?
– Claro que vão. Com os salários que irão receber, finalmente eles terão condições de pagar por bens até então restritos às classes opressoras.
– Eles serão remunerados? Padrinho, essas pessoas são um perigo pra nossa comunidade.
– Bonasera, o que é uma comunidade senão um grupo de indivíduos regido por normas arcaicas que – paradoxalmente – não respeitam as individualidades de cada um.
– São bandidos.
– São minorias. E, como minorias, devem ter suas demandas e reivindicações respeitadas prioritariamente a qualquer cidadão.
– Padrinho, não estou reconhecendo o senhor. Sempre foi tão frio e impiedoso.
– Bonasera, só com o tempo percebemos que certos comportamentos e palavras não são mais adequados no mundo diverso e inclusivo em que vivemos.
– Mas… e a minha filha?
– Deixe sua filha livre para ser como ela quiser, quem ela quiser, e até o que ela quiser.
– É meu dever protegê-la.
– Ela não precisa de homem nenhum, e saberá se virar muito bem sem sua superproteção, sem sua masculinidade tóxica.
– O senhor anda muito diferente, Padrinho. Esquece. Pode deixar que eu mesmo dou um jeito nesses caras.
– Bonasera.
– Sim, Padrinho?
– Deixe a arma, leve o cannoli.