Opiniões…

20220627_221354

– Cansei de caminhar.

– Quer se sentar naquele banco?

– Pode ser… tô exausta.

– Que praça é essa?

– Hum… acredita que eu esqueci o nome?

– Também tô cansada. Ainda mais depois que a gente teve que escapar da confusão.

– Pois é. Imagina entrar de gaiato em briga dos outros.

– Ainda não entendi por que eles estavam brigando.

– Eram duas passeatas, uma pró e outra contra o aborto. Quando se encontraram, já viu.

– Não entendo como alguém pode ser a favor do aborto.

– Nem eu. Vida é uma coisa muito séria, né?

– Demais…

– Mas você acha que é crime?

– O quê?

– Fazer um aborto.

– Pela lei dos homens e pela lei de Deus.

– E no caso de estupro, de risco de vida da mãe…

– Aí é diferente.

– Pois é, também acho.

– Mesmo assim deve ser duro. Não sei o que eu faria.

– É difícil julgar.

– Demais…

– Acho que nem cabe julgamento.

– Mesmo pra quem aborta sem motivos?

– Existe aborto sem motivos?

– Quis dizer os previstos em lei.

– Mesmo assim.

– …

– …

– Ainda tô tentando lembrar o nome dessa praça.

– Depois a gente olha.

– …

– …

– Então você acha que não deveria ser crime?

– Acho.

– Mas você tinha acabado de dizer que não era favorável ao aborto.

– E não sou mesmo.

– Não entendi. É contra mas não acha que é crime?

– Sabe, quem quiser vai abortar de qualquer jeito.

– Talvez, mas penso que, se for uma coisa legalizada, fica fácil demais.

– Fácil ou mais segura?

– Os dois. É que a ideia de interromper uma vida me dá arrepios.

– A mim também. Mas a gente nunca esteve numa situação em que essa seria uma hipótese, né?

– Isso é verdade.

– Pois é.

– É difícil julgar.

– Demais…

– …

– …

– Acho que começa com “P”.

– O quê?

– O nome da praça.

– …

– …

– Até quantas semanas?

– Como assim?

– Se você aprovasse a descriminalização, permitiria até quantas semanas?

– Ah, sei lá. Talvez 12. Mas depende de muitos fatores. Viu o caso da menina que descobriu a gravidez com mais de 20?

– Com 12, 20 ou 30 semanas, a criança é a mesma.

– É a mesma. Mais ou menos desenvolvida.

– Viva.

– Sim, viva. Até que a mãe não a queira mais.

– Eu acho isso tão errado.

– Pode ser. Mas é crime?

– É difícil julgar, né?

– Demais…

– …

– …

– Vamos continuar a caminhada?

– Bora.

– Olha só a placa lá na esquina: Praça das Perspectivas.

– Putz, como pude esquecer? Gosto tanto daqui.

– Eu também…

Esta entrada foi publicada em Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário