Odisseia…

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A primeira semana de viagem transcorrera sem atropelos. O embarque em BH e a chegada aos Estados Unidos – hoje em dia bem mais demorados graças aos inúmeros formulários, comprovantes de vacinação e testes de Covid a serem analisados – foram digeridos com maior facilidade que a “refeição” (também conhecida como pãozinho dormido recheado com meia fatia de queijo) servida pela companhia aérea. Aluguel do carro ágil como nunca, e hotel e ingressos fiéis a seus respectivos vouchers prometiam duas semanas livres de perrengues. Como se isso fosse possível…

“Seu voo sofreu alterações. Clique aqui para aprovar o novo itinerário”, dizia o e-mail recebido naquela manhã. Cliquei, temendo me deparar com novas escalas e consequentes acréscimos de pães da véspera. Fui direcionado para outra página: “Não há como executar esta ação por este canal. Entre em contato com nossos operadores”. Os prognósticos não pareciam bons. Liguei. “Todos os nossos operadores estão ocupados. Ligue mais tarde” foi a mensagem ouvida logo após o primeiro toque. Não deveria haver uma fila de espera? Liguei pela segunda vez, alguns minutos depois. A mesma gravação foi ouvida, assim como na terceira, quarta e décima oitava tentativas (essa última já no final da tarde).

Só me restava ir pessoalmente ao escritório da companhia aérea. “Googuei” em busca do endereço e descobri que não havia escritório no centro (por que haveria em uma cidadezinha minúscula e pouco procurada como Orlando?). Acordei na manhã seguinte e fui direto ao aeroporto. Os atendimentos – quaisquer atendimentos – eram feitos nos guichês do check-in. Perguntei a uma das atendentes se havia uma fila separada para quem não estava embarcando naquele momento. “Claro que não”, ela me respondeu, quase tão educadamente quanto Bolsonaro trata a imprensa. Entrei na fila para descobrir que minha volta havia sido antecipada em um dia. “Mas eu já paguei pelo hotel, pelo carro, e não posso perder um dia sequer da companhia do meu filho que mora aqui”, implorei. Sensibilizada, a atendente revirou os olhos e me disse que precisava dar atenção aos demais passageiros da fila. Resignei-me.

Dois dias antes do embarque, um novo e-mail chegou: “Estimado passageiro” – essa delicadeza inicial não podia ser prenúncio de boa coisa – “infelizmente seu voo teve que ser cancelado devido a casos de Covid em nossa tripulação. Para obter mais detalhes, clique aqui”. Cliquei. “Seus dados não foram encontrados. Verifique o número de sua reserva novamente”. Não pensei duas vezes. Entrei no carro e peguei novamente a estrada para o aeroporto, onde encontrei todos os guichês vazios (eram quase 5 da tarde, eles tinham que descansar). Liguei para meu irmão e lhe pedi que tentasse resolver tudo pelo telefone da companhia no Brasil. Só assim consegui saber que minha volta havia sido adiada em 3 dias. Adivinhe quem iria arcar com as novas diárias de hotel?

Chegou o dia do embarque. Eu e a velha conhecida fila nos reencontrávamos.

– Seus testes de Covid não são válidos. Foram feitos há mais de 24 horas da hora do embarque – informou a atendente, assim que pegou nossos documentos.
– Como assim? Fizemos o teste na véspera, como solicitado no site de vocês. Além do mais, a diferença é de menos de uma hora.
– Já falei com meu supervisor. Não podemos fazer nada.
– E o que a gente faz agora?
– Vocês podem fazer o teste aqui no aeroporto mesmo. Custa 65 dólares por pessoa.

Lá fomos nós, correndo feito loucos, para mais uma fila. Cadastros, pagamentos e testes feitos, recebo a ligação do meu filho que havia ficado cuidando das malas junto ao check-in: “pai, eles agora resolveram aceitar os seus testes”. Sabe aquele momento em que você se dá conta de que jogou mais de mil reais na fogueira? Pois é.

Voltamos aos guichês que, àquela altura, me lembravam alvos de um estande de tiros.

– Alguma bagagem extra? – perguntou a prima de Lúcifer.
– Só uma – respondi, entre xingamentos silenciosos.
– São 45 dólares.
– Você vai ter mesmo coragem de me cobrar, depois de ter me feito gastar 195 dólares à toa?
– São 45 dólares, senhor.
– … (pensamentos impublicáveis).

Paguei.

– Onde está o certificado de vacinação da criança? – perguntou-me uma outra atendente, parecidíssima com a menina de “O Exorcista”.
– Ele tem 12 anos. Ainda não tomou a segunda dose.
– Sem certificado ele não pode embarcar.
– Ah, ele vai embarcar sim. Pode ter certeza de que vai.

A possuída me olhou assustada, percebendo o ódio evidente no meu tom de voz. “De 12 anos pra baixo não precisa”, disse uma de suas colegas. “Então tá”, respondeu a emissária do apocalipse. Ninguém checou nada, ninguém se certificou de nada e, no fundo, ninguém sabia de nada.

Embarcamos.

O pão da volta estava particularmente murcho.

Ah, o nome da companhia aérea? Copa Airlines. Viaje por sua conta e risco.

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