Eles vêm para tingir de carmim a superfície do canal,
Deixar enciumadas as cores do entardecer,
Interligar os canteiros de flores aos dos cursos d’água,
Motivar o sol a superar as proezas do amanhecer.
Ah, como são belos os cisnes rosados de Veneza…
As buzinas se misturam aos gritos e aos coros,
Agitam-se as bandeiras, na busca aflita por ar,
Como os rostos que abandonam suas máscaras,
Como as vozes que pedem que lhes venham calar.
Viva a ordem dos cisnes rosados de Veneza…
O ente onipresente é invocado a cada dia,
Seu nome repetido com fervor e devoção.
Não há hipocrisia que os faça abdicar
Da aliança entre o ente e os usurpadores da nação.
A lograda paz dos cisnes rosados de Veneza…
Eis que surge no horizonte o profeta anunciado,
Guia para o cego, voz para o quase lorpa.
Um toque infectante e a mancheia aclama
O mito que cospe tudo que o grei encorpa.
O cordato bando de cisnes rosados de Veneza…
Evidências descartadas, teorias são o novo grão,
Semeadas as discórdias, nutridas as desavenças.
De féretros pedregosos a amostras contaminadas,
Espalham-se delírios que atestem as suas crenças.
Palpáveis como os cisnes rosados de Veneza…
Pouco importa se a cor-de-rosa não lhes é viável.
Quem espera que nas águas fossem vistos seus reflexos?
Há apenas virtuosismo na uniformidade das posturas,
Pois nada há de macular tão arraigados complexos.
Confiem e creiam nos cisnes rosados de Veneza…