O próximo dia nacional…

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A Câmara dos Deputados aprovou ontem um Projeto de Lei que institui o dia 8 de setembro como o Dia Nacional do Terço dos Homens, em homenagem a um movimento de oração. Apenas em 2022, foram criadas outras datas comemorativas de importância – no mínimo – controversa, como o Dia Nacional do Cristão e o Dia da Harmonização Facial. Esses e outros dias comemorativos não contribuem em nada com a saúde, a educação e a segurança da população, mas a maioria dos políticos brasileiros – tanto de direita quanto de esquerda – só tem capacidade de propor ações dessa, digamos, envergadura. São o retrato de uma sociedade composta – em boa parte – de adoradores de políticos que abdicaram de seu dever de cobrar e criticar seus representantes, uma vez eleitos.

Em homenagem a essa parcela expressiva da população brasileira, parece estar se aproximando mais uma data comemorativa que, certamente, irá merecer uma sessão solene em nosso congresso: o Dia Nacional da Inversão. Pelo andar da carruagem, o dia primeiro de janeiro de 2023 provocará uma colisão de neurônios, uma hecatombe cognitiva, uma retrolavagem cerebral. O Dia Nacional da Inversão irá inaugurar uma nova era nas cabecinhas atordoadas dos dois maiores fã-clubes de bandidos existentes em nossa sociedade.

Como num passe de mágica, uma das seitas irá despertar naquele domingo com a consciência de que os problemas econômicos do país são de responsabilidade do governo federal. Não haverá mais desculpas ou atenuantes, e os governadores e prefeitos deixarão de ser os culpados pela inflação, pelo desemprego, pela miséria, pela fome. A partir de janeiro, os gastos com o cartão corporativo passarão a ser investigados, e qualquer dado não revelado será considerado falta de transparência, e não mais uma questão de segurança nacional. Cada aliado do governo passará por rigorosa averiguação, e todos os seus malfeitos serão lembrados incessantemente. A palavra “governabilidade” passará a ser eufemismo de submissão e entrega. Por falar em palavras, as rachadinhas voltarão a ser consideradas criminosas, as passeatas serão desperdício de dinheiro público, e qualquer tempo ocioso do presidente fará dele um vadio, não mais um “homem do povo”. A política externa será alvo de críticas, principalmente quando o país se aproximar de países comunistas como a Rússia, a China e os Estados Unidos comandados pelos democratas. Subsídios fiscais voltarão a ser paliativos ineficazes, e a reforma tributária será novamente cobrada. As emendas do relator serão tão repugnantes quanto as intervenções na Petrobrás e na Polícia Federal. Deixar de cumprir o teto de gastos será inadmissível, e as pedaladas fiscais – mesmo legalizadas – serão condenadas com incomum veemência. A redução das tarifas por decreto será um crime quase tão grave quanto o congelamento de preços. Toda morte provocada por enfermidades será decorrente do descaso do governo com a saúde, qualquer agressão à imprensa será tratada como intolerância, todo corte de recursos da educação sofrerá as mais duras e indignadas críticas, e qualquer árvore derrubada na Amazônia irá representar um risco à sobrevivência humana no planeta. Naquele domingo, muitos amigos e ex-amigos voltarão a concordar – mesmo que jamais admitam – com muitas das mesmas críticas que tenho feito nos últimos quatro anos.

Enquanto isso, naquele mesmo domingo, os membros da outra seita acordarão com uma venda de tecido vermelho nos olhos, e contemplarão um novo, iluminado e imaculado Brasil. E assim seguirão – vendados – até que um novo dia da inversão amanheça.

Que o primeiro dia de 2023 não seja eternizado como o dia da inversão, e muito menos como o dia da continuidade. Façamos dele o Dia Nacional da Esperança.

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