Distúrbio constrangedor…

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– Boa tarde, doutor.

– Sente-se. Como posso ajudá-la?

– Vim aqui porque estou muito preocupada com o meu marido.

– E por que ele não veio pessoalmente?

– Ele não acha que precisa de tratamento, doutor. Diz que é assim mesmo.

– É assim mesmo o quê?

– … ele não consegue segurar… ai, fico tão constrangida de falar.

– Fique tranquila, o sigilo médico é inviolável.

– É uma coisa muito íntima, sabe?

– Entendo perfeitamente. E posso lhe garantir que muitos homens vivem o mesmo problema, mas também têm vergonha de admitir.

– Verdade? Não sabia. Meu marido se satisfaz, mas eu fico a ver navios. Não entendo o porquê da pressa.

– A culpa pode não ser só dele.

– O senhor acha, doutor?

– Claro. Os dias estão cada vez mais estressantes, são muitas informações a serem absorvidas. Essas anomalias são comuns.

– Anomalias? Isso é grave?

– Depende. Se ele não começar a perceber que existe um problema, isso pode afetar até a relação de vocês.

– Já está afetando, doutor. Eu tento conversar, mas ele não me ouve. Peço pra ele não ir com tanta sede ao pote, pra ponderar, mas ele quer resolver tudo rápido. Eu tenho meu tempo, o senhor entende, né?

– Claro, trabalho com isso há anos.

– O que o senhor me aconselha a fazer?

– Primeiro preciso de algumas informações adicionais para o diagnóstico.

– Pois não.

– Há quanto tempo começaram os sintomas?

– Desde o ano passado. Mas piorou muito nos últimos meses.

– Piorou como?

– Antigamente ele ainda dizia que estava aberto a novas ideias. Agora fica irritado toda vez que eu toco no assunto.

– Uh-hum… e a senhora continua insistindo?

– Cada vez menos, doutor. E, ainda por cima, ninguém ajuda. Ando tão desanimada…

– Você não está sozinha. Muitos sentem-se assim diante dessa doença.

– O senhor já sabe o que o meu marido tem?

– Sufrágio precoce. Ele está tratando o primeiro turno da eleição como se fosse o único. Estamos vivendo uma verdadeira epidemia dessa praga aqui no Brasil.

– E tem solução?

– Tem, mas o grande obstáculo são aqueles que morrem de medo da cura. Fazem o maior terrorismo com quem ainda acredita nela. Aí o povo – que já anda com a imunidade baixa – acaba se contaminando.

– E não há nada que a gente possa fazer?

– Apenas não desista. É tudo que eles querem que você faça.

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