Legado pra esquecer…

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– Aonde a senhora pensa que vai?

– Ué, ver o ex-presidente, é claro.

– Nome?

– Meu filho, você me conhece. Venho aqui toda semana.

– Seu nome.

– Meu nome? Você deve estar de brincadeira. Fui presidenta disso aqui por quase 6 anos.

– Nunca vi a senhora na vida.

– Ah, já entendi, é pegadinha, né? Pronto, já ri, agora me deixe entrar.

– Só pessoas autorizadas podem passar. O ex-e-próximo-presidente não recebe qualquer uma.

– Olha, você me respeite. Eu não sou qualquer uma. Já fui uma das mulheres mais poderosas do mundo.

– Todo mundo agora vem com esse papinho. Há pouco enxotei daqui um que jurava ter sido o melhor economista de todos os tempos.

– O Guido?

– Não, o Dr. Guido tá lá dentro trabalhando com o chefe. É um gênio das finanças. Tô falando de um que disse ter comprado uma refinaria a preço de banana.

– Nem sei o que é refinaria.

– Claro que não sabe. E já pode ir embora.

– Eu não saio daqui enquanto não for recebida pelo presidente.

– Então serei obrigado a chamar a segurança.

– Não, você vai chamar é a Gleisi, a Maria do Rosário, a Benedita. Elas vão me deixar entrar. Fizemos um pacto de sororidade.

– Essas aí só fazem o que o presidente manda. Sororidade é só da imprensa pra fora.

– Você tá querendo me dizer que foi o próprio presidente quem proibiu a minha entrada?

– A senhora chegou a essa conclusão sozinha? Andou treinando, né?

– Vou ligar pra ele agora mesmo.

– Não adianta, ele não vai atender. Está aguardando o Dr. Geraldo pra uma reunião muito importante.

– Quer dizer que aquele picolé de ch…

– Senhora, aqui não são tolerados insultos aos nossos membros.

– Membros? O cara sempre foi nosso inimigo e tem livre acesso. Eu, que lutei pelo partido, que sofri um golpe, sou barrada.

– Pois é, a vida é injusta mesmo. Agora ponha-se daqui pra fora.

– Isso não vai ficar assim. Vou defender meu legado até o fim.

– Olha, se a senhora ficar quietinha no seu canto, garanto que o presidente saberá reconhecer o seu silêncio mais tarde.

– Ele disse isso?

– Não, é que eu trabalho pra ele desde os tempos do seu Celso. Sei como as coisas funcionam.

– Ah… quando o Geraldo chegar, diga que mandei um beijo, tá bom?

– Pode deixar, senhora. Pode deixar.

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