De cota em cota…

O sujeito chega em frente ao balcão de informações da central de concursos públicos federais.

– Em que posso ajudá-lo? – oferece, solícita, a atendente de meia-idade.
– Quero me inscrever para participar do próximo concurso.
– Sinto muito, senhor, mas as inscrições só podem ser feitas pela Internet.
– Eu sei disso – responde o homem – mas é que estou com muitas dúvidas.
– Pois não. Estou aqui para esclarecê-las.
– A senhora acha que eu sou viado?
– Meu Deus, que pergunta é essa?
– A senhora sabe, bicha, gay, boiola, fanta, biba, mordedor de fronha, essas coisas.
– O que é isso, senhor? Eu nem o conheço!
– Eu sei, estou perguntando o que a senhora acha.
– Eu não acho nada! – e começa a olhar para os lados em busca do segurança mais próximo.
– A senhora não está entendendo. Eu quero saber se eu pareço viado para a senhora.
– Não, nem um pouco. – responde, ainda assustada.
A decepção estampada no rosto do sujeito não poderia ser maior. Intrigada, a mulher arrisca prolongar o diálogo.
– Senhor, não estou entendendo. Existe alguma dúvida, com relação ao concurso – enfatiza – que eu possa esclarecer?
– Pra falar a verdade até existia, mas a mais importante era essa mesmo.
– Essa… essa o que? O que o senhor me perguntou não tem nada a ver com o concurso!
– Não tem? Deixa eu contar uma coisa pra senhora. Eu estudo pra concursos há cinco anos. No primeiro, fui até bem nas provas, mas fiquei como segundo excedente. Não passei por meio ponto. No segundo, fui melhor ainda, mas acabei como o décimo quinto de fora. E assim foi no terceiro e no quarto. A cada ano, eu melhorava as notas e ficava mais longe das vagas.
– E o que isso tem a ver com…
– Eu ainda não terminei – interrompe o homem, rispidamente.
– A senhora saberia me dizer por que isso aconteceu?
– Não tenho a menor ideia.
– Porque, a cada ano, existiam menos vagas disponíveis nos concursos. Porque, a cada ano, uma nova cota era implantada. E o pior, eu não tinha como me encaixar em nenhuma delas. Hoje, vinte por cento das vagas são de negros e pardos, mas eu sou quase albino. Vinte por cento são de mulheres, mas eu não menstruo. Quinze por cento são de deficientes físicos, mas eu nunca perdi nem os cabelos. Dez por cento são de índios, mas eu sou louro e não sei pescar. Dez por cento são de refugiados, mas eu sou brasileiro descendente de alemães. Minha única esperança era a nova lei que aquele deputado propôs e que está para ser aprovada a qualquer momento pelo congresso: quinze por cento das vagas são para homossexuais e transexuais. Mas aí vem a senhora e acaba com a minha esperança!
– Olha meu senhor – diz a atendente sensibilizada – sem querer te animar, mas eu reparei que o senhor rebolou bastante quando caminhou até aqui. Acho que o seu caso não está perdido.
– Sério? Nossa, a senhora me deixou bem animado agora. Nunca ninguém tinha me achado afeminado antes! Acho que vou chegar em casa e começar a experimentar uns sapatos da minha mulher só pra treinar.
– O senhor é casado? – interrompe a atendente.
– Sou sim, mas eu posso alegar ser bissexual, não posso?
– Claro que não! Bissexuais não entram na cota. O senhor está achando que é fácil assim? Que o deputado iria propor uma lei idiota dessas? Ponha-se daqui pra fora e estude mais da próxima vez! Pra entrar no serviço público tem que ser por mérito! Cada um que aparece…

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E o amor continua…

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Impossível dizer quando tudo começou. Quando as primeiras almas se encontraram e, a partir dali, passaram a se reconhecer, passaram a se buscar, passaram a perceber que, unidas, evoluiam mais intensamente. Fato é que, mais uma vez, estamos aqui, juntos, vivendo mais uma experiência, e tentando dar, através dela, mais alguns dos passos da longa caminhada a ser percorrida. Um caminho individual que cabe a cada um, e somente a cada um de nós cumprir. Mesmo assim, sabemos que, em nossas experiências de vida, nossos caminhos sempre fazem muito mais do que apenas se cruzar. Eles se emparelham e, por isso, embora tenhamos percorrido distâncias diferentes nas nossas próprias trajetórias individuais, passamos a caminhar lado a lado.

De vez em quando, algumas almas que já percorriam estradas muito melhor pavimentadas, voltam para nos ajudar a avançar por essas nossas trilhas ainda tão rudimentares. São almas puras e generosas que não se contentam em alcançar, sozinhas, um determinado grau de evolução. Elas se satisfazem sim, ao apontar aos outros uma direção que já conhecem. Elas se completam ao perceberem que as sementes de amor que plantaram não se cansam de dar frutos. E hoje, mais um desses frutos recebe a energia e as bênçãos de muitas dessas almas nobres. Esse fruto é você, João!

Seu nome, meu amorzinho, tem tudo a ver com a essência de um desses guias. Não apenas o segundo, que o homenageia diretamente, mas, principalmente, o primeiro. João significa “agraciado por Deus” e a graça de Deus é a síntese de tudo o que o grande guia espalhou neste plano durante todo o tempo em que, por aqui, ele esteve. Ele fez com que os nossos caminhos ficassem mais suaves e menos íngremes, reduziu a intensidade de suas curvas, cobriu fendas e removeu pedras do pavimento, iluminou o horizonte para que pudéssemos enxergar nossa rota, mesmo na escuridão da nossa ignorância. Não por acaso, Fernando significa “o que ousa viajar”. Quem conviveu com aquela alma nobre, entretanto, passou a considerar Fernando também um sinônimo de luz, de doçura, de amor.

Como seu padrinho, João, peço apenas aos grandes guias que me iluminem e me orientem em uma das mais importantes tarefas da minha vida. Que eu possa ser, ao longo de boa parte da sua caminhada, pelo menos um pouco do que o nosso xará em comum foi na minha vida e na vida dos seus avós, da sua mãe e de tantas outras pessoas muito próximas a você. Que eu possa ser seu confidente, mesmo quando você nada me disser. Seu conselheiro, mesmo quando você não quiser partilhar suas dúvidas. Sua referência, mesmo quando você optar por um caminho alternativo ao meu. Que eu possa ser, sempre e acima de tudo, seu amigo!

Seja bem vindo ao nosso convívio, à nossa família, à nossa pequena confraria de amor, João Fernando. Como você pode ver, muitas almas estão aqui hoje para abençoá-lo. Como só você pode ver, inúmeras outras também aqui estão. E, a esta altura, você já percebeu que nenhuma delas precisa de apresentação, não é, João? É porque já faz muito tempo que a gente se conhece!

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Um olhar sobre a terceirização…

Eu tenho uma pequena empresa há quase vinte e cinco anos. Tenho vários funcionários registrados que recebem rigorosamente em dia seus salários. Pago, também em dia, e com enormes sacrifícios, todos os estratosféricos encargos sociais determinados pelas diversas legislações, pela CLT, pelos sindicatos da categoria, etc. Não vou entrar aqui no mérito da discussão sobre o quanto os tão defendidos “direitos do trabalhador” o prejudicam muito mais do que o protegem, pois sei que não tenho paciência para ler respostas do tipo: “se tivesse que pagar menos encargos você não iria repassar essa diferença aos seus funcionários. Iria colocá-la no bolso e lucrar ainda mais às custas do proletariado.” Portanto, para poupar tempo e energia a todos, pode me considerar, de antemão, um capitalista fascista, explorador e insensível que só consegue pensar em dinheiro. Juro que não vou me ofender. Na verdade, dependendo de quem fizer a afirmação, sei que chegarei a considerá-la até um elogio.

Feitas as devidas apresentações, capitalista-selvagem-mas-que-cumpre-as-leis de um lado, leitor do outro, passo ao tema que pretendo abordar neste texto: a lei que libera a terceirização de mão de obra, aprovada ontem no Congresso Nacional. Farei algumas observações a seguir e gostaria, sinceramente, que as diversas pessoas com pensamento discordante se posicionassem, colocassem seus pontos de vista, apresentassem argumentos, pois acredito que só assim poderemos superar os aspectos ideológicos da medida e entrarmos para valer no debate das ideias.

Tenho ouvido muitas críticas, não apenas ao projeto aprovado, mas principalmente à possibilidade de que uma atividade fim da empresa possa vir a ser exercida por uma outra terceirizada. Nos primeiros anos da minha empresa, em meados dos anos 90, chegamos a contratar empresas que terceirizavam mão de obra. É importante que se diga que, naquela época, não existia nenhuma regulamentação da atividade de terceirização. Na verdade, não existe, até hoje, uma legislação específica sobre o tema. As “regras” vigentes foram definidas pelo TST e servem apenas de orientação. Pois bem, os funcionários terceirizados que contratamos recebiam exatamente o mesmo salário que os funcionários fichados na minha empresa. E nem poderia ser diferente pois os salários já eram (e ainda são) definidos pela convenção coletiva de cada categoria.

Por que terceirizávamos, então? Simplesmente por uma questão de logística. Não tínhamos que incluí-los na nossa folha de pagamento e fazer os pagamentos de FGTS, GPS e outros incidentes ao longo do mês. Quando um serviço terminava, também era mais fácil dispensar a mão de obra terceirizada. Afinal, não tínhamos que ir a sindicatos para homologar as rescisões e não tínhamos que desembolsar, de uma só vez, os valores referentes à dispensa. A empresa terceirizada nos cobrava por todos esses encargos mensalmente, e pagávamos tudo, uma vez por mês, através de um boleto e sua respectiva nota fiscal. Para os funcionários, entretanto, nada mudava. Eles recebiam todos os direitos trabalhistas da mesma forma.

Com todas essas facilidades, por que não terceirizávamos tudo? Porque sempre, em qualquer empresa, haverá inúmeros funcionários nos quais você confia. Funcionários que receberam treinamentos, que cresceram sabendo como a empresa trabalha e quais são as suas prioridades, seus objetivos, sua linha de conduta. E isso é imprescindível para o sucesso de qualquer empresa. Portanto, posso afirmar categoricamente que, mesmo depois que a nova lei entrar em vigor, não vou demitir ninguém com o objetivo de contratar um terceirizado em seu lugar. Até porque demitir alguém no Brasil custa muito dinheiro e é exatamente por isso que o índice de desemprego demorou a subir, mesmo depois que o país já estava em crise. Nenhum empresário gosta de demitir. Só fazemos isso em último caso. E não por sermos bonzinhos (lembre-se de que já me autodefini como capitalista explorador), mas porque gasta-se muito dinheiro dispensando um funcionário. Exatamente pela mesma razão, o hoje altíssimo número de desempregados também vai demorar a cair, mesmo que o país volte a crescer. Ter um funcionário registrado custa muito caro. Ninguém quer se arriscar a fazer novas contratações a não ser que esteja muito seguro das perspectivas futuras. Mas isso muda de figura quando passa a existir a possibilidade de contratação através de uma empresa terceirizada, que irá se responsabilizar pelos diversos pagamentos trabalhistas mensais e também pelos rescisórios, se houver a necessidade de dispensa de mão de obra.

Outra crítica à lei que tenho ouvido com frequência se refere à responsabilidade trabalhista das empresas. Mas a nova lei não exclui o direito de todo trabalhador reclamar na justiça caso venha a se sentir lesado. Ele poderá entrar com uma ação contra a empresa terceirizada sabendo que a empresa contratante responde subsidiariamente caso a sua empregadora direta não venha a arcar com suas obrigações. Sabendo disso, parece-me óbvio que os empresários irão procurar cobrar de suas terceirizadas os comprovantes de todos os encargos devidos referentes aos funcionários que lhes prestam serviços. É simplesmente uma questão de bom senso.

Também ouvi diversas vezes que, com a nova lei, as empresas vão passar a terceirizar todos os seus funcionários pois, assim, seu custo com mão de obra será reduzido à metade. Metade como, se os funcionários continuarão fichados, só que em uma empresa diferente? Se uma empresa viesse a me oferecer algo tão milagroso, eu seria estúpido se não desconfiasse que ela não está pagando muitas de suas obrigações. E, nesse caso, eu acabaria tendo que arcar com uma despesa muito maior lá na frente. Já para o preenchimento de cargos mais técnicos, cujos salários normalmente são superiores aos mínimos definidos por lei, continuará havendo a possibilidade de contratação individual de pessoa jurídica, prática já largamente utilizada atualmente. Essa forma, assim como já ocorre hoje, permite que haja condições favoráveis tanto para patrões quanto para empregados, com os primeiros reduzindo consideravelmente sua carga tributária e com os segundos recebendo uma remuneração melhor do que receberiam se registrados fossem.

Portanto, acredito termos aprovado uma lei que pode impulsionar a contratação de mão de obra em um país que tem, hoje, mais de treze milhões de desempregados! Um país no qual mais da metade da mão de obra empregada não tem carteira assinada e, portanto, não recebe benefício trabalhista algum. Uma lei que não retira os direitos do trabalhador, pois este continuará recebendo férias, décimo-terceiro, FGTS, verbas rescisórias, etc., exatamente da mesma forma como acontece em qualquer empresa hoje. Uma lei que mantém o direito que qualquer trabalhador possui de abrir um processo judicial contra seus empregadores. Uma lei que pode conter distorções e, certamente, exigirá uma série de regulamentações, mas que, de forma alguma, pode ser considerada um retrocesso, muito pelo contrário. Se o Brasil não se modernizar, não deixar para trás seus conceitos arcaicos, crises como a que estamos vivenciando serão cada vez mais frequentes e duradouras. E isso não é bom para ninguém!

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Perguntas ou respostas…

Colocar meu filho, hoje com sete anos, para dormir, sempre foi uma experiência absolutamente prazerosa. A cada dia que passa, entretanto, suas observações, filosofias e questionamentos, mais abrangentes e diversificados, têm transformado esses momentos em uma verdadeira terapia.

A princípio, filosofávamos mais sobre a morte, muito em virtude do grande número de perdas próximas que ele vivenciou tão cedo. Suas perguntas iam desde as clássicas “porque morremos?” e “para onde vamos?” até a dolorosa “quando vou abraçar a vovó de novo?”. Com o passar do tempo, suas inquietações chegaram ao mundo da música, das culturas de outros povos, passando pelas angústias de viver e crescer. Para ele, não é o bastante dizer que não gosta de seguir regras. Ele prefere afirmar que “me sinto preso, como se estivesse faltando algo” ou “me sinto mais livre quando estou sozinho com as minhas primas pequenas”.

Ontem, começamos nossa viagem da noite pelo espaço sideral. Ele queria saber a diferença de tamanho entre o Sol e a Terra, a distância entre ambos, a importância do calor solar para as nossas vidas, por que não dá pra viajar até lá. Procurei explicar tudo da forma mais didática que consegui, sem maior profundidade mas, ao mesmo tempo, sem deixar que suas perguntas ficassem sem respostas. Não satisfeito, suas inquietações foram mais longe e seus pensamentos passaram a divagar sobre temas bem mais complexos…

“Papai, como o Universo nasceu?”, começa ele.
“Filho, na verdade ninguém sabe ao certo. Existem muitas teorias a respeito.”
“Me fala todas elas que eu vou saber qual é a verdadeira.”
Já vi que hoje não vou dormir, penso eu.
“Bom, a teoria mais aceita é a de que houve uma explosão que deu origem ao Universo. É o chamado Big Bang.”
“Meus colegas me disseram que foi Deus quem criou o Universo.”
Por que não pensou nessa resposta tão mais simples antes, seu energúmeno?
“Essa é outra das teorias, querido. Mas o Big Bang não exclui o papel de Deus. Muitas coisas são ainda inexplicáveis”, tentei consertar.
“E o que você acha que aconteceu de verdade?”
Bom, já era hora do papo terminar.
“Eu acho que você já deveria é estar roncando há muito tempo! Feche os olhinhos e durma.”
“Tudo bem, papai. Mas, na verdade, eu queria saber só algumas coisas. Primeiro, Deus existe? Segundo, o que ele é? Terceiro, por que Deus criou as pessoas? Quarto, como ele criou os planetas? Quinto, ele é uma pessoa ou uma energia? Sexto, como ele tem tanto poder e a gente não? Sétimo (é sétimo que se fala, né?), foi Deus que provocou a explosão que criou o universo? Oitavo, como são os anjos? Eles têm rostos, asas, nomes?”

Eu já estava sem ar quando ele arrematou:

“Pesquisa isso tudo no Google e amanhã você me fala, tá bom?”

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Meu equinócio de vida…

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O dia 20 de março marca o início do outono no hemisfério sul. O início da minha estação preferida, na qual o calor dos dias sempre ensolarados é mais ameno e o frescor das noites começa a clamar por uma taça de vinho tinto um pouco mais robusto e encorpado. É uma estação mais madura, mais sofisticada, mais elegante, mais rebuscada, sem deixar de ser alegre e vibrante. Se a primavera é conhecida pela volta das flores, o outono é a estação em que a natureza toda se pinta de dourado. Ao caírem, as folhas transformam os caminhos em passarelas verdes, nos convidando a caminhar pelas trilhas multicoloridas e a respirar um ar mais puro, frio e aprazível, ainda sem a aridez do inverno. É a estação do bom gosto.

Exatamente agora, às 10:29 horas da manhã de hoje, está ocorrendo o equinócio de outono. O equinócio é um fenômeno astronômico que marca o momento preciso no qual o sol cruza o equador celeste, que é a linha do equador terrestre projetada na esfera celeste. Em outras palavras, o equinócio marca o exato instante em que o sol ilumina igualmente ambos os hemisférios da Terra. Neste dia e nesta hora, o sol deixa de favorecer um lado em detrimento do outro. Neste dia, seu calor é distribuído de forma igualitária, sem privilégios. Este é o momento em que o sol, literalmente, brilha para todos. Este é o dia no qual o sol é mais generoso, mais justo, mais benevolente e, exatamente por isso, tenho certeza de que este também é o dia favorito do próprio sol. É o dia em que ele se sente completo, em que ele se torna pleno.

Não por acaso, uma pessoa que nasce neste dia age sempre como age o sol no dia de hoje. Espalha sua luz de uma forma natural, espontânea e autêntica a todos que dela se aproximam. Não há como evitar. Todos são igualmente iluminados e capturados pela generosidade dos seus atos. Uma pessoa que nasce neste dia, invariavelmente, tem também a capacidade de trazer no seu olhar a mesma maturidade e confiança do outono. Não é um olhar qualquer. É um olhar que transborda justiça, dignidade, segurança, bondade e ousadia. É um olhar que consegue materializar o sopro de uma brisa leve e transformadora. Uma brisa de outono. É um olhar sofisticado, elegante, misteriosamente sedutor. Ao mesmo tempo, é um olhar alegre, cativante, convidativo ao sorriso e ao deleite. É um olhar que, assim como o outono, convida à vida. Que, assim como o sol, aquece, ilumina, guia, orienta e faz a vida florescer. É um olhar que faz o mundo sorrir.

Sorte de quem convive com alguém assim. Sorte minha por ter, todos os dias da minha vida, o meu próprio outono, o meu próprio equinócio, o meu próprio sol!

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Uma brincadeira sem graça…

Luíz Inácio gostava de Dirceu, que gostava de Antônio, que gostava de Dilma, que gostava de Guido, que gostava de Renan, que gostava de Michel, que gostava de Eliseu, que gostava de Moreira, que gostava de Romero, que gostava de Eunício, que gostava de Aécio, que gostava de José, que gostava de Geraldo, que gostava de Fernando, que gostava de Rodrigo, que gostava de Eduardo, e todos eles diziam que gostavam da gente.

Nos últimos anos, muitas pessoas deixaram de gostar de colegas, de grandes amigos, e até de parentes próximos, simplesmente porque acreditavam que só alguns daqueles nomes gostavam da gente de verdade. Os ex-amigos também pensavam assim, só que achavam que eram outros os que realmente gostavam da gente. E, claro, muita gente achava que, naquele grupo, eles gostavam apenas uns dos outros. E estes também perderam muitas amizades.

Hoje descobrimos que estávamos todos enganados. Os membros daquele grupo só gostavam, na verdade, era do Marcelo. Porque o Marcelo gastava com Luíz Inácio, gastava com Dirceu, gastava com Antônio, gastava com Dilma, gastava com Guido, gastava com Renan, gastava com Michel, gastava com Eliseu, gastava com Moreira, gastava com Romero, gastava com Eunício, gastava com Aécio, gastava com José, gastava com Geraldo, gastava com Fernando, gastava com Rodrigo, gastava com Eduardo, e gastava com muitos outros mais. Marcelo só não gastava com a gente. Afinal, era a gente que gastava com o Marcelo.

E não é que agora, depois de terem semeado discórdias e brigas entre nós, todos eles também brigaram com o Marcelo? Só porque o Marcelo resolveu contar pra todo mundo como funcionava a brincadeirinha deles, e contar também que todos eles participavam. Por isso, agora, eles não gostam de mais ninguém. Muito menos da gente. Quem gostava da gente de verdade eram aqueles parentes e aqueles amigos que a gente deixou de gostar lá atrás. Brincadeira boba, não é?

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Dicas para sobrevivência nas redes sociais…

Você gosta de falar de política e quer continuar sobrevivendo nas redes sociais? Aqui vão algumas dicas:

1) Se você for de esquerda:

a. Jamais seja amigo de algum coxinha, fascista, golpista e entreguista, ou seja, alguém que ache que Fidel era ditador, que o Lula não é Deus ou que pense que a crise atual pode ter uma pequena parcela de culpa da Dilma;

b. Não caia nas provocações dos coxinhas e continue afirmando que o impeachment da Dilma foi golpe mas o do Collor foi justo, que José Dirceu foi condenado sem provas, que os apelidos “mineirinho”, “santo” e “vizinho” nas planilhas da Odebrecht são provas cabais da corrupção de todos os tucanos, e que associar o nome do Lula ao codinome “amigo”, na mesma planilha, não passa de perseguição política;

c. Em hipótese alguma acredite nas notícias plantadas pela Globo golpista, que só quer entregar o nosso pré-sal e nossas terras para o imperialismo americano;

d. Jamais dê crédito aos patrões burgueses e exploradores que só querem enriquecer às custas de uma classe trabalhadora oprimida, ludibriada e cada vez mais pobre.

2) Se você for de direita:

a. Jamais seja amigo de algum esquerdopata, petralha e socialista de IPhone, ou seja, alguém que considere Trump um reacionário, Bolsonaro um retrógrado ou que adore as músicas de Chico Buarque;

b. Não caia nas provocações dos petralhas e continue afirmando que Obama era comunista, que os gays podem fazer o que quiserem desde que não saiam de casa, que quem é a favor da descriminalização do uso das drogas é maconheiro, que no tempo da ditadura não existia corrupção, que bandido bom é bandido morto, e que bolsa família só sustenta vagabundo que não quer nada com a dureza;

c. Em hipótese alguma acredite nas notícias plantadas pela Globo esquerdista, que só quer transformar o país em uma filial de Cuba, da Venezuela ou da Coréia do Norte;

d. Jamais dê crédito às reivindicações de qualquer grupo representante de minorias, que só querem mamar nas tetas do estado.

3) se você for qualquer coisa (qualquer coisa mesmo) entre os dois extremos:

a. Que Deus tenha piedade de sua alma!

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Lemos, muitas histórias…

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Qual é o tamanho da minha família? Que influência as pessoas que a compõem tiveram na minha própria formação? Quantos sobrenomes eu deveria adotar para que se fizesse justiça às minhas gerações ascendentes? Quais são as características, genéticas ou comportamentais, que herdei de cada um dos meus antepassados? Qual é a história que me conta cada um dos meus sobrenomes, registrados ou não?

Ainda que muitas dessas perguntas possam ser respondidas com uma pesquisa mais apurada sobre a minha própria árvore genealógica, sei que as respostas mais precisas e preciosas estarão sempre dentro de mim. Não apenas no meu sangue mas, principalmente, no meu coração. Um coração que é capaz de misturar os já formalizados Lemos e Viegas, com os Marinho, os Gonçalves e os muitos outros de ontem, com os Mendes de hoje, e com quem quer que venha para ajudar a compor o meu amanhã.

Neste fim de semana, uma parte fundamental da minha família se reuniu para reviver histórias antigas e para vivenciar novos encontros. Se reuniu em um lugar que, por si só, carrega tantas lembranças, tantos momentos marcantes para tantos sobrenomes, que seu próprio nome não poderia ser outro, a não ser: Shangri-lá. O nosso pequeno paraíso oculto na Terra, que já havia testemunhado encontros memoráveis, celebrações inesquecíveis, discursos solenes e outros muito bem humorados, caminhadas cercadas de vida e de emoções, árvores e flores plantadas por tantas mãos abençoadas, muitas lágrimas e incontáveis sorrisos, hoje foi palco também do início de novas amizades, da descoberta de novos afetos, do despertar de velhos sentimentos adormecidos pelo tempo. Tempo que não é capaz de apagar a admiração mútua, o amor latente, os exemplos de longa data e as inspirações eternas.

Hoje, no encontro dos Lemos, os Pinheiro, os Silveira, os Monard, os Viegas, os Kerr, os Machado, os Bis, os Gomes, os Azevedo, e muitos outros, mostraram que a nossa família é muito mais do que uma união de sobrenomes. Ela é e sempre foi uma união de almas. Almas unidas pelo amor dos nossos antepassados e pelo amor dos nossos descendentes. Almas que continuam unidas mesmo depois de muitas delas terem cumprido suas missões neste plano. Almas iluminadas que, ainda hoje, continuam a emprestar seus sorrisos e sua energia a um lugar que marcou a vida de todos nós. Nós, que hoje os sentimos presentes. Nós, que hoje os vimos sorrindo. Nós que, por causa deles, hoje aprendemos a nos amar ainda mais. Nós que, em homenagem a eles, hoje lemos para os nossos filhos as suas histórias. Nós, hoje e sempre, os Lemos…

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Um sonho de cinzas…

O carnaval se mostrou democrático como sempre. A festa mais popular do Brasil atraiu gente de todas as idades, classes, raças e credos. Nossos políticos, de todos os partidos, foram devidamente “homenageados” em todos os cantos do país. Ninguém foi poupado. Temer, Lula, Dilma, Cunha, Aécio, Renan, Padilha, Serra, Alckmin, entre muitos outros, viram seus rostos estampados de forma pejorativa nas mais diversas manifestações. Demonstração clara de como a grande maioria da população vê cada um deles hoje: mais um palhaço no salão.

Quem dera as redes sociais pudessem ter o bom senso de, assim como o carnaval, colocá-los todos no mesmo barco. Hoje, o que se vê é uma condenação seletiva. Ruim mesmo é só o bandido do partido dos outros. Não vou nem entrar no clichê repetitivo de que a mídia é parcial. Toda mídia é parcial e sempre foi. Todo veículo sempre teve opinião e isso não é de hoje. Cada um que escolha o que quer ler, ver e ouvir. E que aprenda a pensar por si próprio. Não suporto mais acompanhar relatos de pessoas chamando a Folha de golpista, e se esquecendo de que Janio de Freitas, Boulos, Duvivier, Sakamoto, Bergamo e muitos outros porta-vozes da esquerda escrevem no espaço há muito tempo. Tenho milhões de restrições a esses e a inúmeros outros colunistas e, mesmo assim, faço questão de ler quase todos, até para que possa ter argumentos para os meus próprios posicionamentos. Outros condenam a Globo e outras redes pela grande divulgação das suspeitas contra o Lula, mas enaltecem o Paulo Henrique Amorim como exemplo de repórter imparcial. Uma pessoa que defende veementemente um ex-presidente réu em diversas ações penais! Onde está a imparcialidade dele? Até as condenações são vistas como seletivas. Os réus de um partido são sempre condenados sem provas. Os réus dos outros partidos têm sempre penas pequenas, diante do mal que causaram. Quanta bobagem!

É quase inacreditável que um país em que, infelizmente, a grande maioria dos políticos, de todos os partidos, é composta por bandidos, ainda tenha tanta gente que consiga defender uma parte deles. Eu gostaria mesmo é que, no próximo carnaval, todo político corrupto deste país só pudesse acompanhar a folia pela TV comunitária da prisão. Precisamos começar do zero. Sem os grandes ladrões do dinheiro público nos próximos pleitos, poderíamos eleger nossos governantes com base apenas na competência, na história e nas propostas. Sei que isso é sonho de quarta-feira de cinzas. Mas vou sonhar agora. Não me leve a mal. Hoje ainda é carnaval!

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Canto meu…

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Em algum canto deste mundo, há um canto que me encanta, e não é de hoje.
Canto de esquina entre a alameda flora e a avenida ribeirão,
Canto de cantiga ou de gorgeio,
Canto que a água canta quando esparge na pedra roliça,
Canto do vento que faz dançar as flores,
Canto do som do silêncio que repara a fadiga,
Canto do cantinho preferido da saudade…
Todos os cantos parecem vir cantar aqui.
Aqui foram compostos sonetos de amor e odes à felicidade.
Por aqui, grandes vozes cantaram e seus inesquecíveis acordes ainda ressoam pelas matas.
Talvez por isso, ainda que seja doloroso voltar a cantar em seus campos, sei que é neste canto que me sinto renascer.
E, de renascimento, este meu canto entende.
Lá no cantinho do meu coração, há uma voz que suplica para que eu não me esqueça dele.
Do canto que me aquieta, do canto que me instiga, do canto que me inflama, do canto que me envolve.
Do canto que, por ser de tanta gente, sempre foi e é, cada vez mais, apenas meu!

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