The last call…

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– Não, não preciso de tradutor não. Só me ajuda se eu pedir, talquei?… Hello, Trump? Bolsonaro here.

– What do you want? I’m not in a good mood right now.

– Mood é lama, né? Não? Ah… I know, Trump. You very sad.

– I’m more than sad, I’m pissed.

– Ele disse que quer fazer… Ah, entendi… I am bitched two, Trump. You lose, I lose.

– You have always been a good friend, Bolsonaro. But now you’re on your own.

– Não entendi porra nenhuma… Ah, tô sozinho, né?… I’m lonely but I’m hard in the fall, Trump.

– I know, but be careful about 2022. Don’t let them steal your votes.

– No, no steal. I make votes in paper again.

– That’s not a good idea, you fool. Unless you could burn the illegal ones.

– Puta que pariu, pra que que eu te pago pra me dar aula? Não entendo nada. Ah, queimar, entendi… Good idea Trump. I burn the red votes.

– I wish I could do the same with those blue mail votes.

– I still think you win, Trump. I never play the towel.

– It’s good to know that you are by my side, Bolsonaro. I’m very disappointed in the world leaders. They don’t seem to like me at all.

– Desisto, traduz essa pra mim. Ainda bem que eu não vou querer falar com o tal de Biden… ah, ele tá desapontado… Trump, I am with you always. You my idol.

– Thank you, Bolsonaro. But beware. You have a lot of enemies.

– Yes, I know, Trump. Enemies in newspapers and in Globogarbage.

– I hope you can win again next time. But it’s not going to be easy.

– Don’t worry. Now I have big center with me.

– I heard about that. If you trust them. Bye, Bolsonaro.

– Wait, Trump. I have a… como fala neta mesmo?… new granddaugther. Her name is for you.

– Really? What is her name?

– Georgia… Trump? Trump? Por que será que ele desligou, porra?

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Negócios indecentes…

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– Boa noite.

– Tem horário marcado?

– Sim. Agendei por telefone. Quanto é a hora?

– Depende.

– Depende do que?

– Das suas escolhas, é claro.

– Não sabia que eu podia escolher.

– Desde que possa pagar…

– Nunca escolhi antes.

– Você tá bem crescidinho pra ser marinheiro de primeira viagem.

– Acho que isso não é problema seu.

– Relaxa. Cada um tem seu momento.

– Andei na linha o quanto pude.

– É o que todos dizem.

– Mas a gente acaba se rendendo a novas experiências.

– É a vida. Então, vai escolher ou não?

– Assim, sem analisar direito?

– Pode analisar o quanto quiser. Só não encosta.

– Fica frio.

– Posso saber o que você está buscando?

– Um pouco de tudo. Sem preconceitos.

– Versatilidade, né?

– Por aí.

– Veio ao lugar certo.

– Aquela ali no fundo parece bem… digamos… adequada.

– E não é que você tem um olho bom?

– Não sou tão inexperiente assim.

– Tô vendo. Mas é das nossas horas mais caras.

– Se estivesse preocupado com grana, não viria.

– Bom saber. Mas, já que você está começando, sugiro algo como esta daqui.

– Parece interessante.

– E é. Também é vistosa e não tem a impulsividade da outra.

– Mas será que a performance é a mesma?

– São perfis diferentes. Esta é especialista em preliminares, aquela já chega botando pra quebrar.

– Ainda estou na dúvida.

– É melhor começar mais leve. Além do mais, você vai acabar experimentando todas elas.

– Ok. Me convenceu.

– Ótimo.

– Vocês aceitam cartão?

– Tá louco? Só dinheiro vivo.

– E se eu não ficar satisfeito?

– Sem chance. Pra você ter uma ideia, somos os mais requisitados do Planalto.

– Disso aquele pessoal entende.

– E como. Clientes antigos. Alguns até abriram filiais nossas por lá.

– Vocês têm algum cômodo preparado?

– Aqui em cima. Privacidade total.

– Capricha, heim? Quero virar freguês.

– O objetivo é esse. Nossa carteira de clientes não para de crescer.

– Vamos em frente. Qual é o valor?

– Depende de onde você vai querer divulgá-la.

– Hum… acho que vou começar pelo Twitter, WhatsApp e Facebook.

– Pega o combo “Full fake news”. O YouTube e o Instagram vêm de brinde.

– Ok. Combinado. Sem rastreamentos, né?

– Claro. Essa é a nossa marca registrada. Vai sair pra vereador?

– Não. Deputado. Daqui a dois anos ainda.

– Você está no caminho certo. O Brasil precisa de gente que pense lá na frente…

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O grito…

20201027_114718Você já gritou do alto de uma montanha?

Experimente, é libertador. Sua voz se apresenta e o eco corre para lhe fazer companhia. As ondas sonoras se propagam em direção ao horizonte e você quase é capaz de tocá-las. São as pequenas vibrações que abrem passagem pelas nuvens que ameaçavam detê-las.

Diante do seu grito, até o vento se assusta e segura o ar que soprava até então. As águas que caem nas encostas trocam o rugido pelo sussurro do spray que sobe ao invés de cair. Os pássaros abrem as asas em sinal de aprovação e reverência. Enquanto o eco é ouvido, a natureza se cala. E assiste.

Um sopro mais forte em seguida é sinal de que o vento quer intimidá-lo. Não se deixe impressionar. Ventos não são muito afeitos a desafios. Deixe-o em paz. Agradeça ao sol por sua discrição e ao rio por sua timidez. Ambas são efêmeras, mera gentileza de quem anseia por dissonâncias.

Sua voz e seu novo amigo eco modificaram cada átomo daquele lugar. A montanha jamais se esquecerá. Você também não.

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Lógico…

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– Você viu? O presidente disse que não vai mais comprar a vacina chinesa.
– Lógico.
– Você concorda com isso?
– Lógico.
– Disse que não vai comprar vacinas que não tiverem sido aprovadas.
– Lógico.
– Ok. Mas ele já comprou a vacina de Oxford, que também está na mesma fase de testes.
– Lógico.
– Como lógico? Ele fez o contrário do que afirmou. Justifica agir assim só porque essa vacina tem tecnologia chinesa?
– Lógico.
– Muita gente pode morrer por causa dessa birrinha ideológica. Você acha isso certo?
– Lógico.
– Nenhuma vacina, chinesa ou inglesa, será distribuída sem a aprovação da Anvisa e do Ministério da Saúde. Mesmo assim você concorda com o presidente?
– Lógico.
– Mas, se a vacinação será feita somente após a aprovação, não faz sentido dizer que o povo será cobaia, faz?
– Lógico.
– Espera um pouco. Você está me dizendo que acha que ele está zelando pelo povo e defendendo a ciência?
– Lógico.
– Receitar cloroquina, que não tem comprovação científica, e descartar uma vacina, mesmo após a sua comprovação, é zelar pelo povo?
– Lógico.
– Daqui a pouco você vai me dizer que ninguém deveria tomar vacina alguma.
– Lógico.
– Estamos no meio de uma pandemia e você acha que o presidente deve continuar incentivando a população a não se vacinar?
– Lógico.
– Cara, é difícil de acreditar.
– Em quê?
– Na sua falta de lógica…

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Fundo perdido…

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– Até agora nada? Tô esperando.
– Não sei se vai rolar.
– Como assim? Vai deixar passar uma oportunidade dessas?
– Eu sei que a notícia é boa, mas…
– Mas o quê?
– É que não dá pra competir.
– Não tô entendendo. Competir com o quê?
– Ora, com os memes.
– Ah, esquece os memes.
– Não dá. Toda hora aparece um.
– Fala de alguma coisa que ninguém comentou ainda.
– Esse é que é o problema. Não sobrou nada.
– Não é possível.
– Olha só, já falaram que o dinheiro veio da rachadinha, do fundão, que tava na poupança, que era dinheiro sujo, que tava guardado no cofrinho…
– Puxa, que povo criativo, heim?
– Qual povo? Os caras dos memes ou os políticos?
– Os dois, eu acho. Ah, pensa em alguma coisa relacionada ao tal fim da corrupção.
– Já falaram que a corrupção pode ter acabado, mas a currupção não; que alguma coisa cheira muito mal nesse governo; que agora é a PF que tem que lavar dinheiro; que esse cara é um político reto.
– Que coisa…
– Tô falando, não sobrou nada.
– Apela pro palavrão.
– Já apelaram: isso é que é encher o cu de dinheiro; menino do cu riscado já era, o bom é o do cu endinheirado; depois dizem que tomar no cu não presta…
– É, acho que já abordaram tudo mesmo.
– Pois é.
– Vai escrever sobre o quê, então?
– Ah, sei lá. Posso falar das queimadas, da destruição das matas nativas, dos animais em extinção…
– Fala do lobo-guará.
– Coitado desse. Ficou todo desmilinguido na nota de 200 reais.
– Como se ele já soubesse que ia entrar pelo cano, né?
– Entrar pelo cano! Muito bom! Não tinha ouvido essa em lugar nenhum.
– Mas, eu só quis diz…
– E bem no centrão!
– O que está acont…
– Liga o computador aí. Chupa, turminha dos memes!

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Viagem…

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Estou pronto pra viagem. Será? Viajar pra fora é fácil, que tal viajar pra dentro? Pro fundo. Profundo. Lá onde a luz é escassa. Tornar-me a caça. Qual é a graça? Afagar o que eu não conheço. Esqueço. Mereço desbravar caminhos. Redemoinhos. Reflexos dos meus pergaminhos. Reflito. O espelho que me entrevista é míope. Distorce. Quero me olhar nos olhos. Não foge. Mostra mais que uma fração. São muitas camadas. Sirvo em fatias. O recheio é bom? De quê? Não sei. Receios caramelizados, talvez. Passo a vez. Não estou com fome. Mas tenho sede. Estremeço, mas não de frio. Vou me saciar no rio. Lá vem outro arrepio. E essa mania chata de querer rimar. Ninguém está olhando. Eu vejo. Que olhem, que julguem. Quem deixou? Não pode. Fode. Foda-se. Explode minha lucidez. A luz me serve. O sol chegou e o calor me queima. Com essa tez. Sensatez. Não tenho protetor. E protege? Projeta. Mergulha. Tem uma agulha na areia. Ali não piso. Não dá pé. Bato os pés. Garanto que sei nadar. Boiar, não consigo. Afundo, só de pensar. Estou no fundo da lagoa. Alguém diria “de boa”. Tá vendo? Quem mandou? Eu? Eu nada. Eu nado. Já estive na floresta. Que festa. Seresta de sons, de cheiros, de medos. Acordei em um fiorde. Sob a montanha. Alguém gritou lá de cima. A margem se aproxima. Tem algo no meio do nada. Algoritmo. Agora não tem mais sombra. Ontem era uma árvore. Vi um vulto debaixo dela. Reconheci as mãos, os braços. Saudades dos meus abraços. O colo do meu pai. O cheiro do meu filho que está longe. Distâncias que eu não gosto. Aposto que o vento leva. A vela inflada, ondulada, tremulando feito uma bandeira. Temo. Tremo. Tremenda ventania. Quem foi que agitou a água? A onda quer me levar. Pra onde, onda? Espera. Acalma. Espera a calma chegar. Ruge. Faz sinfonia pro mar. E essa mania que não vai embora. Sangra. Espuma. Quero ajudar também. Quando eu soltar a minha voz vou cantar alto, entende? Repousa. Pousa. Arremete. Deixa desse trem de pouso. Decola. Garante que nada do que eu disse é certo. Tem certo? Decerto que não. Coberto de grãos. Voltei às mãos. De quem? Do Fernando, aquele que viaja.

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11 anos…

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Ele chegou trazendo sorrisos e lágrimas de felicidade. Logo no primeiro olhar, os irmãos se reconheceram e até hoje se veneram. Logo no primeiro colo, ele sabia que estava em casa. Cresce a cada dia com personalidade forte e múltiplos talentos. Desenha com enorme facilidade e tem uma inata noção de perspectiva. Pode vir a ser um ótimo pintor, designer ou arquiteto.

Adora um bom papo e suas perguntas na hora de dormir renderam textos, suspiros e gargalhadas. Sempre foi uma experiência única colocá-lo na cama. É um autêntico contador de histórias. Não lhe faça uma pergunta esperando ouvir “sim” ou “não”. Ele vai narrar todo o fato e ainda justificar as suas escolhas. Da mesma forma, não ouse respondê-lo de forma simples, principalmente se a resposta for negativa. Seus argumentos vão lhe deixar numa tremenda saia justa. Pode vir a ser um ótimo escritor ou advogado.

É louco por anime, jogos, vídeos e fala o tempo todo “de boas”, “tá ligado?”, “tipo”, “mano”. Mas não se acanha em dizer “eu te amo” sempre que se aninha em meus braços. Pode vir a ser um ótimo programador de games ou youtuber.

É o melhor companheiro de viagem do mundo. Fica acordado no carro só pra não perder a paisagem e não deixar de viver a aventura. É doce, carinhoso e tem um coração imenso. Se emociona com facilidade e ama os animais e a natureza. Tem um olhar apurado para a beleza e encontra adjetivos raros para expressar sua admiração diante de tudo que lhe encanta. Pode vir a ser um ótimo biólogo, fotógrafo ou guia turístico.

Adora tudo relacionado à arte. Aos 7 anos, participou de uma ópera no Palácio das Artes e se sentiu tão à vontade no palco como se estivesse no seu quarto. Em uma das cenas, ao perder o protetor auricular que usava, deixou cair seu ursinho de pelúcia para apanhar ambos objetos sem sair do personagem. Pode vir a ser um ótimo ator.

Esse garoto espetacular está fazendo 11 anos hoje. Há 11 anos ele nos enche de alegria, de ternura, de orgulho, de gratidão. Não tenho a menor ideia de qual será sua profissão no futuro mas estou cada vez mais seguro de que ele será um ótimo ser humano. E é só isso que me importa!

Feliz aniversário, meu amorzinho! Te amo, te amo, te amo!

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Vinte e três e contando…

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Há quase 54 anos eu nascia pela primeira vez, pelo menos neste plano. Digo primeira vez porque renasci, mais tarde, muitas outras vezes. Renasci ao ouvir o primeiro choro dos meus filhos, ao me despedir dos meus pais, ao superar obstáculos que julgava intransponíveis, ao me resignar diante de outros tantos, ao me perdoar.

Hoje comemoro o aniversário do maior dos meus renascimentos. Aquele que possibilitou que eu vivenciasse e superasse todos os demais. Aquele que, tal qual o primeiro, me ensinou a respirar. Aquele que, como nenhum outro, me tirou o fôlego.

São 23 anos desde que ela me apresentou à vida. Há 23 anos, ela insiste em me ensinar a viver e, mesmo diante da minha evidente dificuldade de aprendizado, nunca desiste. Há 23 anos, ela faz com que todos os meus problemas pareçam corriqueiros. Há 23 anos, é ela que abre e ilumina meus caminhos. São 23 anos de paz.

Alguns acham que um amor como esse estava escrito nas estrelas. Não saberia dizer. Mas sei que não consigo desassociá-la da vida, do mundo, da natureza. O nome dela está implícito no desenho das árvores. A sua alegria é capaz de emergir do profundo azul do oceano. O seu sorriso faz frente à beleza dos vales, dos fiordes e das montanhas de onde gritamos juntos em busca do infinito.

São só 23 anos, mas o infinito nos espera…

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Avatalhados…

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– Alô.
– Alô. Senhor Nadir?
– Senhora Nadir. Quem fala?
– É do SAC do Facebook.
– Serviço de Atendimento ao Consumidor?
– Não. Serviço de Acolhida aos Chatos.
– Qual é o assunto?
– É sobre o seu avatar.
– Meu o quê?
– Seu avatar. Aquele desenho que deveria se parecer com a senhora.
– Ah, sim. O que tem ele?
– Ele foi denunciado.
– Denunciado? Como assim?
– Hum… vejamos… ele está sendo acusado de racismo, homofobia e gordofobia.
– Hã?
– Tem também uma denúncia de misoginia mas acho que foi confusão devido ao seu nome neutro. Vou desconsiderar.
– Meu filho, isso é alguma pegadinha?
– Claro que não. Seu avatar está sob investigação.
– É só um desenho.
– Um desenho que a representa, não se esqueça disso.
– Olha, desculpa, mas tenho coisas mais importantes a fazer e…
– A senhora não quer apresentar defesa?
– Defesa de que? De racismo, meu filho? Eu sou negra.
– Mas não tão negra quanto o seu avatar. Black face vale nesses casos também, sabia?
– Tá bom, eu coloco um tom de pele mais claro. Satisfeito?
– Claro que não. Tem a homofobia.
– Não fui homofóbica hora nenhuma.
– Nem quando postou seu avatar pisoteando o símbolo LGBT?
– Era só o que me faltava. Ele estava deslizando sobre um arco-íris.
– Deixe essa desculpa para ser usada em seu parecer. Se colar, é claro.
– Não vou perder meu tempo com parecer nenhum.
– Calma, tem a acusação de gordofobia também.
– Que absurdo.
– Foi verificado que o corpo do seu avatar não corresponde ao seu.
– E daí? Tô fazendo regime. Foi uma meta que coloquei pra mim mesma.
– Pois é, gordofobia explícita e confessa. Seu caso parece irreversível.
– Quer saber? Vou apagar o avatar e acabar com essa palhaçada agora mesmo. Já perdeu a graça.
– Infelizmente isso não será possível, senhora. Seu avatar foi conduzido coercitivamente para maiores investigações.
– Gente, isso parece um pesadelo.
– Que ainda está longe de terminar. Esses crimes cibernéticos estão sendo muito visados.
– Crimes? Não cometi crime nenhum.
– Não cabe à senhora decidir o que é crime ou não.
– Veja bem, não queria usar das minhas influências mas meu avatar está sendo liberado agora mesmo.
– Não acredito. Como a senhora conseguiu tão rápido?
– Sou amiga do avatar do Gilmar Mendes…

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Agora é assim…

– Pai, tô saindo.
– Aonde você vai?
– Vou comprar a carne pro churrasco que vou fazer com os meus amigos hoje.
– Você comprando carne? Quem diria. Sempre foi vegetariana.
– As pessoas mudam.
– Quer ajuda?
– Só pra descarregar as bebidas.
– Que bebidas?
– Ué, cerveja, vodka, rum.
– Minha filha, você nunca bebeu nada disso. No máximo um espumante de vez em quando.
– Pois é. Agora detesto espumante e adoro uma cachaça.
– Você está passando bem?
– Tô ótima. Por quê?
– Tô te achando muito estranha.
– Tá tudo certo. Dá uma força pra mamãe. Ela tá cuidando da salada de repolho com jiló.
– Ah, agora chega! O que que tá acontecendo? Você sempre odiou repolho e jiló.
– Pois é, né pai? Olha o tempo que eu perdi na vida.
– Não estou te reconhecendo.
– Sou assim agora.
– Mas…
– Ah, e antes que você se assuste, a playlist do churrasco só vai ter funk, sertanejo e pagode.
– Minha filha, você é pianista clássica. Acho que vou te levar no médico.
– Exagero seu. O Adalberto sempre me disse que você era exagerado mesmo.
– Que Adalberto? Seu ex-namorado?
– Sim. Nós voltamos. O churrasco é com a turma dele.
– Filha, o cara é um cafajeste, marginal, traficante e ainda vivia te colocando chifres. Você enlouqueceu?
– Pai, ele mudou. Merece uma segunda chance.
– Filhinha, ninguém muda assim de uma hora pra outra.
– Será, pai? Você há pouco tempo vivia xingando o Gilmar, o Toffoli, o Centrão, as pedaladas da Dilma, o assistencialismo do PT e todo mundo que criticava a Lava Jato.
– Bem, as circunstâncias mud…
– Que circunstâncias, pai? Você dizia que o tal do mito iria acabar com a corrupção e colocar essa turma toda na cadeia.
– Filha, olha só…
– Você me chamava de comunista quando eu gritava “ele não”, lembra?
– Mas, querida, eu n…
– Agora até o Renan virou aliado dele. Renan Calheiros, pai!! E você continua apoiando o sujeito.
– Querida, acho que…
– Então não venha me dizer o que eu posso ou não posso fazer, fui clara?
– …
– Vai, fala alguma coisa.
– Quando você for comprar cerveja, traz Kaiser ou Schin, tá bom?

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