Disfarçando as evidências…

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– Mandou me chamar, presidente?

– Mandei, ministro. Você acabou de entrar pro time, e já preciso da sua ajuda.

– Pois não. Do que se trata?

– Teve gente que ficou decepcionada com a minha live de ontem. Disseram que eu não apresentei provas das fraudes nas eleições.

– É, eu vi a repercussão…

– Tudo culpa dessa imprensa esquerdista que ignora as evidências incontestáveis que eu apresentei.

– E como eu poderia ajudá-lo, presidente?

– Quero elaborar um projeto de lei determinando que indícios podem ser usados como provas.

– Presidente, o código penal brasileiro já contempla essa possibilidade.

– Então por que quase ninguém levou a sério o que eu disse ontem?

– Acho que foi porque o senhor fez só uma coletânea de vídeos de whatsapp.

– E quem disse que vídeos de whatsapp não são confiáveis? Aliás, esse vai ser o primeiro item da minha lei, talquei?

– Primeiro item?

– Isso. Vídeos espontâneos da população têm que ser aceitos.

– A lei também já prevê isso.

– Menos para os vídeos dos meus seguidores, né?

– É que todo indício tem que ser periciado antes de ser considerado válido.

– Bobagem. Quero acabar com essa palhaçada. Anota aí o segundo item: as perícias estão dispensadas.

– Mas, presidente, não vai ser fácil aprovar uma lei dessas…

– Claro que vai. Tô dando credibilidade e voz ao povo.

– Mas a lei valeria também pros seus adversários, não?

– Bem lembrado. Terceiro item: comunistas são inimigos do povo. Vídeos de comunistas jamais serão aceitos.

– Comunistas?

– Sim. Pode colocar no quarto item: no tocante ao item anterior, comunistas são aqueles que não me chamam de mito. Acho que assim fica claro e democrático.

– Presidente, isso não vai dar certo. Vídeos, testemunhos, evidências, essas coisas só têm valor se fizerem parte de um processo, de uma investigação.

– E não foi o que eu fiz? Coloquei um analista de inteligência pra esclarecer tudo, um PHD em informática pra desvendar o programa fraudulento, um estudioso político pra mostrar os absurdos da apuração. Quer mais o quê?

– Com todo respeito, presidente, mas o seu ”analista” é um coronel pau-mandado, o “PHD” é um analfabeto que tava brincando com o computador da casa dele, e o “estudioso” é um astrólogo especialista em fazer acupuntura em árvores.

– Nessas horas ninguém liga pro meio-ambiente, né?

– Vai por mim. Não perde tempo com isso.

– Tá bom. Posso pelo menos fazer uma lei que impeça meu impeachment?

– Ah, essa é fácil. É pra isso que eu tô aqui… mito!

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Veja bem…

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– Mito, mito, mito!

– Parabéns, mito, por vetar o fundão.

– Veja bem, vou vetar só o excesso do fundão. Quatro bilhões tá de bom tamanho, talquei?

– Mas, presidente, assim o valor vai mais que dobrar. Não era pra corrigir pela inflação?

– Tô corrigindo, porra. Em 2020, a inflação foi de 4%. Em 2021, já tá em 8%. Viu? Dobrou.

– Mas é muito dinheiro, mito.

– Se eu me recusar a dar o aumento, vou cometer crime de responsabilidade. Tá na lei.

– Não existe lei nenhuma que proíba seu veto, presidente.

– Meu filho, tô falando da lei do Centrão. Não dar dinheiro pra eles seria muita irresponsabilidade da minha parte.

– Mas, presid…

– Chega de falar com comunista. Você aí atrás, com cara de boiola, tem alguma pergunta?

– Não, mito, só quero parabenizá-lo por finalmente apresentar provas de que houve fraude na eleição de 2014.

– Veja bem, vou apresentar indícios.

– Só indícios, presidente?

– Indícios com indícios de fortes indícios. Você há de convir que é muito indício pra gente ignorar, né? Foi um estudioso do Telegram que me mandou.

– Achei que o senhor iria apresentar provas concretas.

– As provas existiriam se tivesse uma impressora em cada urna, talquei?

– Já tem, presidente.

– Tem o que?

– Uma impressora em cada urna. É assim que o boletim de urna é impresso e divulgado ao final da eleição.

– Nunca ouvi falar disso. Além do mais, é na sala fechada do TSE que eles mudam os votos. Quero transparência.

– Se isso acontecesse, bastaria comparar os resultados da apuração com os dos boletins. Os votos que cada candidato recebeu estão lá.

– Cala a boca! Mais um que não entende nada. Hoje tá cheio de petista por aqui. Você do cabelo pixaim, pode falar.

– Mito, quero só te agradecer pela coragem de mostrar que a vachina do Dória não funciona.

– Veja bem, eu disse que a vacina não tem comprovação científica. Todo mundo sabe disso. Não posso forçar a população a usar algo sem comprovação.

– E a cloroquina, presidente?

– Se todo mundo tivesse tomado cloroquina, quase ninguém tinha morrido.

– Mas até o ministério da saúde já disse que o medicamento não funciona, presid…

– Meu Deus, que que tá acontecendo com esse curralzinho hoje? Pandemia de comunistas? Última pergunta.

– Presidente, é verdade que o senhor vai colocar o Ciro Nogueira na Casa Civil?

– Veja bem, o Ciro é um velho amigo, muito competente, vai ser um ótimo ministro. É uma decisão técnica.

– Mas ele disse que adora o Lula, chamou o senhor de fascista e responde a não sei quantos processos por corrupção.

– As pessoas mudam. Ele já foi do Centrão do mal, hoje ele é do Centrão do bem.

– Presidente, achei que o senhor fosse lutar contra o sistema.

– Chega por hoje. Veja bem, se vocês não me apoiarem, o PT volta, talquei?

– Mito, mito, mito!

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A quarta vez…

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“É tetra, é tetra, é tetra!”

A frase repetida aos berros ao final da Copa do Mundo de 1994 eternizou a narração de Galvão Bueno. Naquele 17 de julho, em Los Angeles, a seleção brasileira conquistava seu quarto título. Eu estava lá, sentado (não, sentado não) atrás da baliza onde a disputa de pênaltis aconteceu. Um dia inesquecível…

Lembro-me de ter acordado bem cedo. Lembro-me, na verdade, de quase não ter dormido, ansioso pela iminente realização de dois sonhos: assistir a uma final de Copa e comemorar uma conquista brasileira.

Eu e meu irmão Marius chegamos com antecedência ao estádio, como fizéramos nos jogos diante de Holanda e Suécia. Agora enfrentaríamos a Itália e quem vencesse se tornaria o primeiro país a ganhar quatro vezes o título mundial. O calor causticante não era capaz de aquecer minhas mãos geladas. Logo atrás de nós, um jovem casal de italianos puxou papo em um inglês carregado:

– Vocês assistiram a todos os jogos do Brasil?
– Não – respondi – viemos para as três últimas partidas.
– Que sorte, não é?
– Depois deste jogo eu espero concordar com vocês – brinquei.
– Tomara que não – retrucou a moça, sorrindo.

Os times entraram em campo. Os jogadores do Brasil vinham, como sempre, de mãos dadas. “Que bobagem” – pensei, torcendo no íntimo para que ninguém largasse aquela corrente. Sabem como é, em time que está ganhando…

Começou a decisão e a tensão tomou conta de todos. O Brasil dominava, mas não conseguia aproveitar suas poucas oportunidades. Eram tempos de Carlos Alberto Parreira e o gol era só um detalhe. O problema é que eu sou muito detalhista.

No intervalo, a nossa amistosa conversa com os italianos recomeçou. Cenas de partidas históricas entre Brasil e Itália eram mostradas no telão, e desviei meu olhar para não reviver o trauma de 82.

– Aquela foi a melhor seleção brasileira que vi jogar – comentou a italiana ao perceber meu desconforto.
– Pra mim também – concordei – e a maior decepção que vivenciei no futebol.
– Nem sempre o melhor vence. É por isso que vamos ganhar hoje de novo.

A confiança dela me deixou irritado. “Sai pra lá, bambina de Mãe Dinah”. A imagem dos italianos comemorando o título veio como um pesadelo. Voltei minha atenção para o campo.

O segundo tempo repetiu o que fora o primeiro: domínio brasileiro, poucas chances de gol e dois insistentes zeros no placar. Veio a prorrogação e Romário chutou para fora a melhor oportunidade da partida. Aquilo não era comum. Seria um sinal? A italiana sorriu, cada vez mais confiante.

Não havia tempo para mais nada. Pela primeira vez, a Copa do Mundo seria decidida nos pênaltis. A Itália desperdiçou sua cobrança inicial e me deixou eufórico. Meu otimismo durou pouco e o Brasil também perdeu a sua. Os italianos vibraram. Os quatro chutes seguintes alcançaram as redes. O empate persistia.

A quarta cobrança italiana parou – assim como a minha lucidez – nas mãos de Taffarel. Olhei em volta e percebi medo nos olhos da italiana. Medo que se tornou pavor quando Dunga colocou o Brasil na frente. Baggio não poderia errar.

As lembranças dos momentos seguintes me vêm em câmera lenta. Cada passo de Baggio em direção à bola é como uma contagem regressiva que termina no êxtase. O alívio, o pranto e os abraços se sucederam.

O telão mostrava 3×2. O mesmo placar que me deixara arrasado em 1982 agora me fazia chorar de felicidade. Olhei para trás e me deparei com a italiana inconsolável. Meu coração balançou. Lembrei-me do sofrimento vivido 12 anos antes e me reconheci naquelas lágrimas. Então busquei o fundo de seus olhos e lhe disse:

“É tetra, é tetra, é tetra!”

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Liberdade seletiva…

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Um povo clamando por liberdade. Assim são vistas as manifestações de milhares de cubanos que tiveram a coragem de sair às ruas, depois de décadas de um regime totalitário, castrador, assassino. O povo cubano parece ter decidido enfrentar de vez a tirania de seus líderes, fato histórico que deveria estar sendo exaltado e comemorado por todos aqueles que se consideram democratas. Bem, não foi o que fizeram PT, PC do B, MST, Guilherme Boulos e muitos outros nomes da esquerda brasileira. Ao contrário, todos se posicionaram no sentido de preservar e proteger a ditadura cubana. Colocaram-se contrários à liberdade da população, às claras, sem subterfúgios.

Felizmente, a grande maioria da população brasileira se solidariza com os anseios do povo cubano. Alguns, entretanto, aplaudiram quando Bolsonaro ameaçou não realizar as eleições do próximo ano, numa evidente afronta à nossa própria liberdade. Vibraram quando o presidente afirmou ter provas de que os pleitos de 2014 e 2018 foram fraudados, quando insinuou que membros do STF estão sendo chantageados após terem sido gravados fazendo sexo com gays e menores, quando disse que um dos ministros é favorável à pedofilia. Mentiras perigosas, verdadeiros ataques às nossas instituições, ditas também às claras, sem subterfúgios.

Os acontecimentos dos últimos dias evidenciaram – mais uma vez – o desapreço que ambos os lados têm pela liberdade. Ambos fingem ser democratas apenas quando lhes convêm. Ambos dizem ser contrários aos regimes totalitários, mas não se acanham em exaltar suas “ditaduras do bem”. Ambos juram ser defensores da pluralidade de ideias, mas são incapazes de lidar com o contraditório. Ambos são hipócritas o bastante para condenarem, no adversário, as mesmas posturas das quais se orgulham.

Se você não faz parte de nenhuma das seitas, e consegue enxergar o quão próximos os dois extremos estão, então seu voto em qualquer um deles é mais do que inconcebível. É uma confissão de conivência.

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Vejo o futuro repetir o passado…

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Não se viam há anos. Seis? Sete? Nenhum deles se lembrava ao certo. Ele a reconheceu primeiro. Viu-a de costas junto ao balcão da cafeteria. Quando notou que ela passaria ao seu lado, virou o rosto para que não lhe coubesse a iniciativa do cumprimento. Em alguns segundos de ansiedade, visualizou do abraço carinhoso ao olhar de desdém. Mas foi sua imagem saindo pela porta e desaparecendo na multidão que o fez voltar a buscá-la.

Lá estava ela, a poucos metros de distância, sentada em uma mesa junto à antiga jukebox que dominava a ala mais intimista da casa. Tinha os cabelos mais claros, em contraponto ao semblante sombrio. Tomava seu café sem pressa, e olhava na direção oposta à dele. Percebeu que pouco tinham mudado. O orgulho ainda os dominava.

Por fim, entreolharam-se.

Ele quis sorrir, mas seus lábios não obedeceram. Seus olhos, sim. Pegou seu lanche no balcão e caminhou em direção à mesa. Ela sustentou o olhar o quanto pôde. Então vacilou. Um instante de hesitação que ele chamou de esperança. A música ambiente dizia que o tempo não para. Ao chegar ao lado dela, ele parou.

– Posso me sentar?

– Se quiser – disse, com frieza.

– Não sabia que tinha voltado.

– Faz mais de ano.

– Não pensou em me ligar?

– Por que deveria?

– Sei lá.

– Pois é. Eu também não.

– Voltou sozinha?

– Então… o que você anda fazendo?

– Ah, vivendo no mesmo clipe sem nexo de sempre.

Ela sorriu timidamente. Ainda se lembrava.

– Você continua se achando um sedutor.

– Não tenho como evitar. Faz parte do meu show.

Ela baixou os olhos. Ele aproveitou para se certificar de que seus anelares não traziam sinais de alianças.

– Será que podemos voltar a nos ver de vez em quando?

– De vez, ou quando?

– Vez ou outra.

– Acho que não nos restam motivos.

– Eu quero um motivo pra viver.

– Desculpe, mas não tenho vocação pra tábua de salvação.

– Será? Foi só você partir e eu me afoguei.

Suas mãos oscilaram. Pousou a xícara no pires, na esperança de que ele não tivesse notado.

– E aprendeu a nadar?

– Na marra.

– Então somos todos sobreviventes.

– A vida continua, não é?

– Mas a emoção acabou. A nossa música nunca mais tocou.

– Eu jamais deixei de ouvi-la.

Entreolharam-se sem hesitações, pela primeira vez.

– Quem sabe você não a canta pra mim amanhã?

– Por que não agora?

– Tenho que treinar meus ouvidos.

– Pra que usar de tanta educação pra destilar terceiras intenções?

– Você me conhece. Minhas intenções são sempre muito claras. Amanhã, aqui, neste mesmo horário.

– Chegarei antes. E lhe trarei mil rosas roubadas.

– Exagerado.

– Sou. Mas preciso te ganhar ou perder sem engano.

– Talvez suas chances aumentem se, amanhã, você me chamar pelo codinome. Ainda é o mesmo…

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Permissões hipócritas…

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– Próximo!

– Puxa, finalmente. Já não aguentava mais essa fila. Não sabia que seria tão demorado.

– O senhor trouxe os documentos?

– Sim. Achei até a carteira de sócio do fã-clube da Cher.

– Excelente. Cópia autenticada de tudo?

– Também. Duas vias de cada. Tô autorizado?

– Calma. A documentação tem que ser analisada. E ainda falta a entrevista.

– Que entrevista?

– Ué, há muitos pontos que precisam ser esclarecidos. Achou que seria fácil assim?

– Fácil? Passei três horas numa fila. E a lista de exigências só cresce.

– Temos que ser cuidadosos, senhor. Somos os únicos com credenciamento válido pra essa autorização.

– Preciso agendar uma nova data?

– Não. Posso fazer as perguntas agora mesmo.

– Ótimo. Quero ficar livre disso o quanto antes.

– O senhor pode começar me mostrando todas as tatuagens do Che Guevara que já fez.

– Que bobagem é essa? Nunca fiz tatuagens.

– Prefere um pôster na parede da sala, né?

– Não tenho pôster de ninguém.

– Nem de Lênin ou Stalin?

– Claro que não. Vê se eu ia ser fã de genocidas!

– Devo alertá-lo que suas respostas não vão por um bom caminho, senhor. Qual é a sua filiação partidária?

– Não sou filiado a partido algum.

– Não precisa ser oficial. Basta a carteirinha de militante do PT ou do PSOL.

– Detesto política.

– Veja bem, senhor. Vou lhe dar uma última chance. Ou me mostra foto sua vestido de “Lula livre”, ou nada feito.

– É mais fácil eu vestir uma camisa escrito “Lula na cadeia”.

– Chega. Pedido indeferido.

– Que absurdo. Eu já apresentei todas as provas de que sou gay.

– Não me interessa. Vai ter que continuar enrustido pro resto da vida. A esquerda decidiu que o senhor não está autorizado a se assumir.

– Não preciso de vocês pra isso.

– Precisa sim. Sem nosso reconhecimento, o senhor terá credibilidade zero. A não ser com os babacas da direita.

– Já estive lá. Também não me deram autorização.

– Ué, por que não?

– Porque a direita só autoriza os gays que consideram Bolsonaro um mito (ou aqueles que se chamam Clodovil).

– Que vergonha, heim? Rejeitado pela esquerda e pela direita. Bem feito. Como o senhor está se sentindo agora?

– Feliz pra caramba…

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Operação Lacoste…

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– Atenção, Pequim. Implantação em andamento.

– Prossiga.

– Chip inserido. Protocolo de instalação de software iniciado.

– Informe o número de série.

– Inteligência artificial 1B743M-BR-BH a postos.

– Recebimento de dados com baixa velocidade, BH. Consegue melhorar?

– 5G indisponível, Pequim.

– Estamos cuidando disso. Rastreamento do DNA autorizado.

– Stand by.

– BH, expressões em inglês não serão toleradas.

– Ok. Influência de Oxford removida. Hospedeiro do sexo masculino, 54 anos, boa saúde… mas já esteve em melhor forma.

– Ascendência?

– Tem de tudo: indígena, africana, asiática e europeia (ou argentina, que é a mesma coisa).

– Características físicas?

– Pele branca, olhos castanhos, cabelos grisalhos, altura 1,82… mas não tarda a encolher.

– Sem brincadeiras, BH. Orientação sexual?

– Hétero… Sean Connery morreu mesmo, não é?

– Esse não conta. Postura diante da pandemia?

– Cuidadoso, mas sem neuras.

– Não desconfia que fabricamos o vírus só pra derrubar o presidente dele?

– Não. Mas vive nos culpando pela falta de transparência.

– E quanto às restrições?

– Acha que máscara protege, que isolamento reduz o contágio, que álcool em gel ajuda, que vacina funciona, todas essas bobagens. Ah, e nunca chamou os governadores e prefeitos que cooptamos de comunistas.

– É o perfeito alienado.

– Sim. Veio até vestido de verde. Louco pra virar jacaré. Esse vai ser moleza.

– Chegou a ser infectado?

– Até agora, não.

– Mesmo trabalhando fora? Certamente toma cloroquina toda semana.

– Não há registros da substância no organismo.

– Pura sorte, então. Posicionamento no espectro político?

– Entre liberal e social-democrata.

– Liberal estilo Bolsonaro?

– Entendi que brincadeiras não seriam mais aceitas.

– Desculpe. Vamos ao que interessa. Instalação do programa “Lula 2022” autorizada. Tem que ser no primeiro turno.

– Pequim?

– Diga, BH.

– We have a problem…

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Tentativa de desenho…

Alguns amigos bolsonaristas e não-bolsonaristas-mas estão compartilhando um estudo em andamento pela Universidade de Oxford sobre a eficácia da Ivermectina no tratamento da Covid. Os compartilhamentos vêm acompanhados de ironias e frases do tipo “Bolsonaro tinha razão”. Bom, vou tentar ser didático (embora saiba que qualquer tentativa de desenho que não inclua uma ovação ao “mito” é logo ignorada pela claque):

1. O estudo está em andamento. Ainda não se chegou a nenhuma conclusão definitiva. Vários outros estudos feitos haviam descartado a eficácia da droga. Tomara que este chegue a uma conclusão diferente. Quanto mais armas tivermos, melhor.

2. Muitos amigos próximos tomaram Ivermectina quando se infectaram (receitada por médicos, inclusive) e alguns outros tomam preventivamente (por conta própria). A autonomia médica, portanto, jamais foi cerceada.

3. Existem centenas de substâncias diferentes sendo testadas pelos cientistas do mundo todo. Certamente veremos resultados promissores em breve. Cabe à comunidade científica mundial (e não a um presidente) aprovar o uso de cada uma delas.

4. Agora vem a parte mais difícil do pessoal entender: mesmo que fique comprovado que a Ivermectina pode ajudar no tratamento, já é certo que não se trata de nenhuma solução milagrosa. Seria apenas mais um, entre tantos outros medicamentos que estão sendo usados na tentativa de se salvar vidas. Portanto, nenhuma política pública de saúde pode ser feita com base nisso. E governos trabalham com políticas públicas, não com propagandas de drogas não aprovadas. É absurdo o presidente dizer à população que basta tomar um remédio para que tudo fique bem. Isso comprovadamente não é verdade. É um crime ele continuar desestimulando o uso de máscaras, promovendo e incentivando aglomerações e, principalmente, contestando a eficácia das vacinas – essa sim, a única política pública na qual ele deveria ter se engajado.

Ah, a mesma instituição que está conduzindo o estudo com a Ivermectina já descartou qualquer possibilidade de eficácia da hidroxicloroquina. Mas, claro, essa deve ser a parte comunista da Universidade de Oxford. É impressionante o que a China é capaz de fazer só para derrubar o nosso presidente…

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Voo às cegas…

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Senhoras e senhores, bem-vindos a bordo do voo 38171, com destino ao aeroporto de Gado Bravo, na Paraíba. Obrigado por escolherem as Linhas Aéreas Azul-Verde-Amarelo, voando sobre o Brasil, mas nunca acima de Deus.

Aqui quem fala é o Capitão Messias, piloto desta aeronave, e peço a atenção de todos para os nossos procedimentos de segurança.

Acomodem suas armas no compartimento acima de sua poltrona ou embaixo de seu assento.

Coloquem o encosto de sua poltrona na posição que quiserem. O uso dos cintos de segurança também é facultativo. Aqui, o direito de ir e vir do passageiro é sagrado.

Mantenha seu Telegram desligado apenas durante a decolagem. Novos memes e notícias fal… de última hora serão servidos durante o voo, junto com a caixa de cloroquina. O Wi-Fi é cortesia, desde que você não pare de compartilhar.

Para sua segurança, informamos que os toaletes estão equipados com detectores de comunistas e isentões.

Não obstrua as saídas de emergência com seus pôsteres do Roberto Jefferson ou com os baldes e panos do Alexandre Garcia e Rodrigo Constantino.

Em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão automaticamente do compartimento acima de suas poltronas. Puxe-as e coloque-as novamente no compartimento. Todo mundo sabe que máscara não serve pra nada.

Em caso de pouso forçado em algum reduto esquerdista, utilize o colete salva-vidas localizado embaixo do seu assento. Ele é composto de camisa da CBF, pixuleco inflável e cacetete da Havan. Vista a camisa amarela, puxe as cordas laterais para inflar o pixuleco e quebre o braço de quem ousar defender o Lula.

Esta aeronave possui seis saídas de emergência. Duas na frente, duas sobre as asas e duas nos fundos. As saídas sobre as asas são de uso exclusivo dos investigados pela Polícia Federal.

Os embarques serão sempre feitos pela porta dianteira. Todo mundo sabe que quem libera entrada na traseira só pode ser boiola.

Em caso de emergência, luzes verde-amarelas acenderão ao longo do corredor, no teto e junto às saídas de emergência. Saiam ordeiramente e cantando “Eu te amo, meu Brasil”.

Qualquer turbulência ao longo do voo terá sido responsabilidade dos governadores e prefeitos.

Claro que isso não vai acontecer, mas, se a aeronave cair, todos já sabem: a culpa é do PT.

Salve-se quem puder… talquei?

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Dedo de prosa…

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– Ei, você aí.

– Tá falando comigo?

– Quem mais?

– Ué, não sei. Tem tanta gente por aqui.

– É com você mesmo. Preciso te fazer uma pergunta.

– Se eu souber responder…

– Você é real mesmo?

– Sabe que eu nunca parei pra pensar nisso?

– Preciso acreditar.

– Em quê?

– Que você existe.

– Você não tá me vendo aqui? Por que não acredita?

– Porque nunca ninguém me olhou assim antes.

– Assim como?

– Com essa mistura de dúvida e reverência.

– O que é reverência?

– Um respeito muito grande, sabe? Uma admiração…

– Ah, isso eu sinto mesmo. As dúvidas também.

– Eu sei. Não se preocupe.

– Elas vão sumir, um dia?

– Talvez sim, talvez não. Mas isso não é o mais importante.

– Não? Achei que fosse.

– Pois é. Muita gente pensa assim. Muitos até sofrem por conta.

– Não estou sofrendo.

– Eu sei. Por isso precisava saber se você é real.

– Acho que sou real sim.

– Que bom! Gosto de olhar pra você.

– Sério?

– Sim. Vejo o coração no seu olhar.

– Mas meu coração não bate no peito?

– Também.

– Trazer o coração no olhar é bom?

– É a única coisa que importa.

– Valeu. Obrigado.

– Promete voltar outras vezes?

– Prometo.

– Fico feliz.

– Posso te perguntar uma coisa também?

– Claro.

– Por que você fica o tempo todo com os braços abertos?

– Tô esperando seu abraço…

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