O dia que minha mãe se foi…

Um outro texto sobre minha mãe que não poderia ficar de fora deste blog. No dia 03 de outubro deste ano, apenas 45 dias depois de um diagnóstico que pegou a todos nós de surpresa, minha mãe foi dar sequência ao seu caminho em um plano bem mais elevado. Nem os médicos, tampouco nós da família, imaginávamos perdê-la em tão pouco tempo. Mas nos confortou muito saber que, com sua partida tão rápida, a maior parte de seu sofrimento foi abreviada. Mesmo assim, sei que aquele dia será sempre lembrado enquanto eu viver…

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Minha mãe se foi hoje. Por mais que eu estivesse certo da proximidade desse dia, é quase surreal reler minhas próprias palavras: minha mãe se foi hoje. Mas, ainda que a errônea noção de que “era muito cedo” persista, consigo perceber que, além da imensa saudade e da profunda tristeza, destacam-se também uma sensação de total serenidade acompanhada da inevitável constatação de que a vida é muito breve.

Serenidade ao olhar pra trás e não ter do que se arrepender. Não ficaram mágoas ou assuntos mal resolvidos. O amor e a admiração sempre foram deixados muito claros. Os defeitos e as faltas de ambos sempre foram mutuamente perdoados. Nada deixou de ser dito, principalmente os incontáveis “eu te amo” de ambas as partes. Cada encontro sempre foi aproveitado ao máximo e nossos olhares nunca se esquivaram.

Constatação de quanto a vida é breve ao me lembrar nitidamente da morte da minha avó, ocorrida quando eu tinha 13 anos de idade. Na época, minha mãe era mais jovem do que eu sou hoje. E, de repente, eu percebo que 34 anos se passaram como num piscar de olhos. Como? O que foi feito em todo esse tempo? Não, o que foi feito nessa fração de segundo que agora percorre meu olhar? Tanta coisa e tão pouco…

Obrigado, mãe, por tudo. Pelos erros e pelos acertos, pelas dúvidas e pelas certezas, pelo amor incondicional, pelo apoio, pelos conselhos, pelas broncas, pelo carinho mas, principalmente, obrigado por você ter sido, para mim, um dos meus maiores guias na busca do meu próprio caminho. Obrigado por sempre ter me entendido apenas através do meu semblante, mesmo que eu não dissesse nada. Obrigado por ser minha inspiração de força, de coragem, de determinação, de fé, de generosidade e de desprendimento. Obrigado por ter sido um exemplo de avó para os meus filhos e meus sobrinhos, e obrigado, mais uma vez, pela honra e pelo privilégio de ser seu filho. Vou sentir demais a falta do seu abraço, do seu colo, do seu olhar e do seu carinho. Mas vou ficar bem, pode ter certeza, viu? Todos nós vamos ficar bem. Só não vou sentir falta do seu amor porque este estará presente para sempre no meu coração. Amo você hoje e vou continuar te amando eternamente. Vá com Deus e siga o seu caminho de luz com a certeza de que você atingiu, como poucos, o maior objetivo dessa nossa passagem pela Terra: evolução.

Lamento muito não ter sido profético no poema que escrevi para você quando completou seus 70 anos. Mesmo assim, o reproduzo abaixo em sua homenagem. Obrigado mais uma vez por tudo! Eu amo você de uma forma que não dá pra dizer! Só dá pra sentir…pra sempre!

Para Nilda

Escassos são aqueles que no coração carregam
Caráter de tal grandeza que no próprio olhar se sustenta
Que trazem em cada átomo a placidez por saber
Que, ao amar integralmente, se completa, se contenta.
Que fazem de cada instante, de cada passo e de cada história
Uma nova aurora para aquele que a suas palavras atenta
Que crescem constantemente, que evoluem, que se constroem
Que geram a energia vital que o limite da alma representa.

Muito escassos são aqueles que, presos à noite e ao dia,
São pais, são avós, são exemplos que não se inventa
São guias de toda gente, de toda idade e de toda hora
Que fazem com alegria sacrifícios que a maioria não tenta.

Muito raros são aqueles que, como você, mãe, senhora,
Chegam com tanta energia à metade da vida, aos setenta.
E, se achar exagero a “metade”, dita com tanta prosa,
Há de nos escutar em um tempo buscando rimar com noventa.

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