– Mas, presidente, tá muito em cima da hora. O exame acontece no domingo.
– Não quero saber. Pergunta comunista não entra em prova minha.
– As provas não são do senhor, presidente. Além do mais, a imprensa vai cair de pau.
– Mais? Convivo com injustiças todos os dias. Me acusam de ser antivacina, só porque prefiro cloroquina e água benta; de promover desmatamento (vou acabar proibindo os satélites de sobrevoarem aquele matagal); de destruir a economia (na época do PT, nem existia esse tal de teto); de ser incoerente (qual é o problema do Centrão e do bolsa-família serem do bem agora?); de adorar uma rachadinha (até a Michele sabe que isso é mentira); de…
– Mas, presidente, agora podem acusá-lo de interferência e censura.
– Censura? Tô só defendendo a liberdade dos jovens terem uma boa educação, e não serem obrigados a responder pergunta petista, artista ou gayzista, talquei?
– Mas o ministério já barrou um monte de questões. Não tem nada de errado com a prova.
– Sou bem mais rigoroso. Fui eleito pra isso.
– Mas o senhor nem poderia ter tido acesso às provas. É ilegal.
– E quem disse que eu vi as provas? Ninguém tem prova disso.
– Então por que o senhor resolveu intervir?
– Um dos seus colegas na preparação das provas acabou abrindo o bico pra um coronel amigo meu. Ele sabe ser bem convincente quando preciso.
– Quais são as questões que estão incomodando o senhor?
– A 30, por exemplo.
– Uma questão de química? Qual é o problema dela?
– Apologia à comunidade LGBTI e aquele monte de letrinhas.
– Presidente, a pergunta se refere aos elementos Lítio, Germânio, Berílio e Titânio, entre outros.
– Que coincidência, né? Reconheço de longe essas mensagens sublimitad… sublimimad… subentendidas. Essa tá fora.
– Mais alguma?
– Tem a 64, que fala mal da revolução que salvou o Brasil do comunismo.
– Presidente, a pergunta é sobre mecânica dos fluidos. Fala do golpe de aríete.
– Ah, claro, outra coincidência. Me engana que eu gosto. Também tá fora.
– Acabou?
– Não. Troca o tema da redação. Não quero ninguém escrevendo sobre fake news e sua influência na democracia.
– Ué? Por qu… Bobagem, deixa pra lá. Mais alguma coisa?
– Exclui a 13 também. Não gosto do número.
– Ok, presidente, vou ver o que consigo fazer. Não pegou bem pra mim ter acatado a censura daquela questão da Mafalda, lembra?
– Desenho esquerdista vai ser sempre proibido no meu governo.
– Pois eu achei que o senhor fosse reclamar da questão que fala da sexualidade de Leonardo da Vinci.
– Sou um cara sensato. Não reclamo da sexualidade de ninguém. Só da homossexualidade.
– …