Este é o Lauro, pai da Daniela. Um senhor de 89 anos de idade, forte, lúcido, ativo, independente. Trabalhou até os 81, dirigiu até os 82, bebeu cerveja até os 89. Continuou morando sozinho depois do falecimento de minha sogra, seis anos atrás. A rotina dele começava cedo na academia do Minas Tênis, sua segunda casa. Todos os funcionários do clube o conheciam e o admiravam. Foi dentista da Rede Ferroviária antes de abrir seu consultório. Trabalhou a vida inteira para garantir que suas filhas jamais tivessem de sustentá-lo. Tornar-se dependente era seu maior medo. Ver sua família reunida, sua maior alegria. O último Natal foi o mais feliz, emocionante e harmonioso que passamos em muitos anos. Na última quarta-feira, Lauro pegou sua marmita e foi a pé buscar seu almoço, como fazia com frequência. Ele sempre encontrava desculpas para caminhar. Assim sentia-se livre. No trajeto de volta para casa, entretanto, desequilibrou-se e caiu. A pancada na cabeça provocou fratura no crânio e hemorragia no cérebro. Lauro entrou em coma algumas horas mais tarde. Faleceu há poucos minutos. A marmita não chegou a ser tocada. Assim é a vida: ninguém tem certeza de que estará aqui para desfrutar a próxima refeição.
Vá em paz, meu sogro. Obrigado por tantos anos de amizade, de carinho, de amor. Obrigado por ter trazido ao mundo a luz da minha vida. Sentirei falta do seu abraço. Sentirei falta do seu sorriso ao receber e beijar seus netos. Sentirei falta de jantar com você, nas nossas sagradas visitas das noites de domingo. Lamento que a de ontem – prevista para ser apenas a primeira do ano – tenha se tornado a derradeira.