– Vim assim que pude. Me atrasei tanto assim?
– Um pouco. Esta ansiedade é que faz tudo parecer maior.
– Eu sempre venho, você sabe.
– Fico sem lugar quando você demora.
– Nossos encontros não têm hora pra acontecer. Decidimos isso lá atrás, lembra?
– Eu sei, eu sei. É que… deixa pra lá, bobagem.
– Começou, agora fala.
– Tenho medo de você se cansar, de não aparecer mais.
– Sério? Depois de todo esse tempo?
– Pra mim é como se fosse sempre a primeira vez. Não me permito errar.
– Quem disse que você já acertou?
– Nossa, por que você está tão crítico hoje?
– Nunca deixei de ser.
– Não sei se isso me motiva.
– Pois deveria. Ninguém evolui só com elogios.
– Acho que preciso de um, agora.
– Já lhe disse que gosto da sua criatividade, de acompanhar seu crescimento. Vivemos muita coisa juntos.
– O passado pouco importa. Aposto que você não me perdoaria se eu me acomodasse.
– Nenhuma acomodação é boa. Mas jamais te abandonaria assim, de uma hora pra outra.
– Jura?
– Pra que jurar? Sempre fui sincero contigo. Estamos juntos porque você me faz sorrir e chorar com a mesma facilidade.
– Queria ter feito você pensar.
– Puxa, quanta insegurança. Você me faz pensar também. Satisfeito agora?
– Desculpa. Não falei pra te irritar.
– Conta outra. Você adora me irritar.
– Gosto de te provocar.
– Já parou pra pensar que somos diferentes?
– Como assim?
– O que não é ofensivo pra você, pode ser pra mim.
– Quando foi que te ofendi?
– Foi só um exemplo. Quero dizer que uma mesma ação pode ser interpretada de diversas formas.
– E como faço pra não ser mal interpretado?
– É inevitável, não se preocupe. O que não significa que não precise ter filtros.
– Que tipo de filtros?
– Depende do quanto estiver disposto a se mostrar.
– …
– Te fiz pensar agora?
– Mais do que imagina.
– Tô até me sentindo importante.
– E é… bem mais do que imagina.
– …
– O que você quis dizer com “de uma hora pra outra”?
– Quando?
– Quando falávamos sobre acomodação.
– Ah, que eu tentaria te alertar caso percebesse que você estava se afastando.
– De você?
– De si mesmo.
– …
– …
– Nos vemos na próxima crônica?
– Faz mesmo questão da minha presença?
– É pra você que eu escrevo.
– Conheço esse papo. Eu nem existia quando começou.
– E mudou tudo quando apareceu. Posso contar com você?
– Te dou minha palavra.
– Não, meu querido. Quem te dá a palavra sou eu.