Gente brasileira…

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“Já podeis, da Pátria filhos, ver contente a mãe gentil”.

Raiava, há pouco mais de dois séculos, a liberdade no horizonte do Brasil. A brava gente brasileira despedia-se do temor servil, da subserviência colonial, do jugo português. Grilhões foram rompidos, e nossos peitos e braços pareciam fortes o bastante para nos proteger de qualquer inimigo externo. Estávamos, enfim, livres para construir nosso próprio destino.

Hoje, 201 anos depois de nossa independência, outras falanges – ainda mais ímpias – ameaçam nossa soberania. Agora, entretanto, o jugo que nos oprime não está mais lá fora. Foi, ao contrário, gestado no âmago de nossa sociedade. É o resultado de uma cultura que sempre aplaudiu a malandragem, o jeitinho, a gambiarra. Que jamais deu o devido valor à ética, à competência, ao conhecimento. Que nunca aprendeu a verdadeiramente se indignar.

Há pouco a comemorar quando a pátria idolatrada é mãe gentil apenas para os membros de algumas castas. Há pouco a comemorar quando somos reféns de uma classe política podre, imoral, corrupta. Há pouco a comemorar quando a justiça é ignorada justamente por aqueles que juraram defendê-la. Há pouco a comemorar quando boa parte de nosso povo ainda insiste em acreditar em deuses e mitos.

O Brasil inicia seu terceiro século como nação livre preso à mentalidade tacanha e hipócrita de um líder populista. Um líder com noções retrógradas de economia, transparência e democracia. Um líder que não mede esforços e recursos para ceder à chantagem explícita de um legislativo igualmente atrasado e corporativista. Um líder marcado por escândalos que juiz amigo algum será capaz de apagar. Um líder que só voltou à cena graças ao projeto de ditador que o antecedeu.

O país descansa no feriado depois de uma decisão monocrática do STF fazer de conta que incontáveis e incontestáveis provas de corrupção jamais existiram. Depois de uma profusão de sentenças inocentar políticos de todas as vertentes. Depois de indícios de irregularidades obtidos de forma criminosa servirem de base para que provas de crimes obtidas de forma irregular fossem anuladas. Depois do brasileiro sepultar qualquer esperança no fim da impunidade.

A pátria celebra sua independência com parte de seu povo dividida entre duas seitas que têm como premissa endeusar seu bandido de estimação. Gente que abriu mão de tal forma da própria consciência, que não mais consegue avaliar os fatos, apenas seus autores. Gente que tem a audácia de clamar por ditadura em nome da democracia, de justificar guerras e invasões em nome da paz, de incentivar agressões em nome da união da sociedade. Gente tão pobre e tosca quanto as castas que idolatram.

Por tudo isso – e muito mais -, o 7 de Setembro é uma data menos significativa a cada ano. Quem sabe um dia – por um desses acasos da vida – o brasileiro volte a ter orgulho de seu país. Quem sabe um dia – por um desses milagres da vida -, possamos acordar cientes de que nosso futuro não depende de um novo messias. Assim, quem sabe um dia – pelas nossas próprias ações -, a pátria mãe possa também nos ser gentil.

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