– … e aqui fica a área de serviço, com tanque e espaço pra máquina de lavar.
– Acabou?
– Ah, não. Ainda vou levar a senhora pra ver a vaga de garagem e o salão de festas.
– Digo no apartamento. Você já mostrou tudo?
– Ué, acho que passamos por todos os cômodos. A senhora sentiu falta de alguma coisa?
– Claro. Onde é que eu vou soltar meus puns?
– Não se preocupe, o condomínio é pet friendly.
– Não tô falando de cachorro, meu filho. Quero um lugar pra soltar meus puns. Vai me dizer que você não solta.
– Eeeh… desculpe a confusão. Bem, já passamos pelo banheiro, lembra?
– Nem pensar. O banheiro fica ao lado da sala. Que falta de respeito. Vocês acham que a gente não tem dignidade?
– Imagina, senhora. Não foi minha intenção. A senhora tem algum lugar de preferência pra solt… quero dizer… pra ficar à vontade?
– Fico à vontade no quarto. Mas pra soltar pum eu prefiro uma varanda.
– Os apartamentos deste prédio não têm varandas.
– Pois é, olha só o desleixo com a população. Só porque a gente é pobre. Aposto que você é daqueles que acham que só rico pode soltar pum, não é?
– Senhora, que isso? Tudo aqui foi feito com esmero, visando apenas o conforto dos moradores.
– Se vocês tivessem preocupação com as pessoas não tinham esquecido da varanda do pum.
– Mas o apartamento é arejado, tem ventilação cruzada, o pum vai embora rapidinho.
– Que absurdo. Nunca fui tão ofendida assim na vida. Vou chamar a polícia pra você.
– Polícia?
– Isso mesmo. Discriminação de classe social dos puns é crime, sabia?
– E se eu conseguir um desconto de 20% pra senhora?
– Você acha que vai conseguir me comprar com essa mixaria?
– 25%.
– Se chegar a 30% eu finjo que não ouvi as barbaridades preconceituosas que você disse.
– Fechado.
– Mas com uma condição.
– Qual?
– Esse prédio tem espaço gourmet do porre, não tem?