Aperte o cinto, caro leitor. Você está prestes a embarcar em uma viagem inesquecível, daquelas capazes de despertar epifanias no mais cético dos seres humanos. Cesar Oliveira irá conduzi-lo por trilhas até então inacessíveis, e ajudá-lo a identificar as belezas inerentes ao fato de se estar vivo. Prepare-se para uma jornada que – assevero-lhe – possui propriedades terapêuticas. O que se busca descrever neste prefácio não é o ato, mas antes. É a nota antes da melodia, a semente antes do grão, o atalho antes do caminho, o graveto antes do ninho, o sereno antes da chuva, a explosão antes da estrela, a linha antes do linho.
Lembro-me ainda hoje da primeira vez que viajei ao lado de Cesar. Um tal de João nos levou para ver o mar. Poucas vezes o oceano me pareceu tão inebriante. As lágrimas então derramadas não deixaram dúvidas de que – dali por diante – eu o seguiria aonde quer que ele fosse. Quando tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, entendi que ser guia não foi uma escolha. Ele simplesmente é, e isso basta.
Na companhia de Cesar, você descobrirá mundos e rituais sagrados. Poderá tornar-se cais quando as naus dos desafios forem lançadas; templo quando for preciso abrigo; acolhimento quando a solidão for uma ameaça; alívio quando os corpos tiverem sede de amor; chão quando faltar sob os pés; céu quando os horizontes estiverem perigosamente próximos. Não se preocupe com as tempestades e calmarias que virão. Mude o curso, e navegue ao inverso dos ventos. Ao singrar os mares da saudade, embarque na Arca de Noé e atravesse o dilúvio da falta.
Permita-me apenas mais um conselho, prezado leitor: entregue-se. Dê a mão aos aforismos e deixe-se ser guiado pelas sentenças afora. Feche os olhos para admirar os detalhes quase palpáveis das metonímias. Caminhe pelo canteiro de metáforas em flor, e embriague-se com seus perfumes. Faça coro com as prosopopeias, e fique atento ao muito que a brisa tem a lhe dizer. Dispa-se de seus pudores, e liberte sua língua para explorar cada figura de linguagem. Sacie-se.
Ao final do percurso, é provável que você se sinta anestesiado por um bom tempo. Quando tratadas com tamanho zelo, as palavras têm mesmo efeito duradouro. Também não se assuste se – de repente – o crepúsculo começar a lhe parecer enigmático. É sinal de que algumas gotas da sabedoria do autor foram absorvidas. Tampouco se martirize ao reconhecer-se – num ataque de humanidade – mais um Antônio do mundo, atônito diante das frases que Deus sussurra nos ouvidos de Wolfgang. Mas saiba que sua jornada só estará completa se, ao fim e ao cabo, você perceber que seu novo objetivo de vida é um dia conseguir tornar-se um tabaréu.
Boa viagem.