Alento…

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Escrevo porque reflito. Escrevo porque transpiro, porque meu coração descompassa, porque meus pelos se eriçam. Escrevo porque me agito e porque me aquieto.

Escrevo porque, na forma de palavras, meus medos me assustam menos. Dispersas nas frases, minhas frustrações são toleráveis. Oculta em metáforas, minha dor faz mais sentido. Escrevo porque o espelho me obriga.

Escrevo porque sonho e, nos sonhos, as orações me obedecem. Escrevo porque é assim que rezo quando me falta fé, é assim que choro quando me faltam lágrimas, é assim que enxergo quando me falta luz. Escrevo porque nem sempre me calo.

Escrevo porque minhas opiniões pedem para ser partilhadas, meus pontos de vista suplicam por contatos, minhas verdades se alimentam de confrontos e abonos. Escrevo porque as páginas são perenes mesmo que se queimem, os textos são eternos mesmo que se apaguem, as sentenças são definitivas mesmo que ninguém as leia. Escrevo porque não sei como dizer.

Escrevo para que não me sobrem musas, para que não me bastem motes, para que não me escape o olhar distante. Escrevo porque, transcritas, as feições se tornam eternas. Descritas, as mãos permanecem entrelaçadas. Narrados, os timbres não são esquecidos. Escrevo por contemplar.

Escrevo porque o sorriso me atiça e a agonia me instiga. Escrevo para aprisionar momentos, para libertar angústias, para que o enredo possa ouvir meu eco. Escrevo porque a finitude me apressa.

Escrevo porque transbordo e porque falto. Escrevo porque me indago e não encontro a resposta. Escrevo para me contradizer e endossar, para me benzer e condenar, para que meu olhar se perceba alerta. Escrevo para que minha ânsia repouse ao pé da página tomada. Escrevo porque me conhecer não me basta.

Escrevo porque a plenitude dos detalhes me fascina, os meandros da poesia me afligem, o ritmo da prosa me seduz. Escrevo porque, quando parte do papel, minha voz é promessa. Quando extensão da caneta, meu pulso é fluxo. Escrevo por meus vômitos, meus gozos, meus gritos. Escrevo porque a febre irrompe.

Escrevo porque a letra A tem meu nome, porque tinha uma pedra no meio do caminho, porque a festa acabou, a luz apagou e o povo sumiu. Escrevo porque, quando se vê, já é sexta-feira, porque tem tudo em Pasárgada, porque a tristeza tem sempre uma esperança de não ser mais triste não.

Escrevo porque não tenho razão. Escrevo porque razões não me faltam.

Tormento? Dádiva?

Ar…

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