Mollis Manus…

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Não há como identificá-los. Com o tempo, você pode até julgar-se capaz de reconhecer características que lhe pareçam comuns. Ledo engano. Em breve, você será pego desprevenido novamente. Aceite, não há nada a ser feito. Eles não compartilham semelhanças físicas, tampouco são predominantes em determinados círculos. Homens ou mulheres, jovens ou idosos, ricos ou pobres, héteros ou representantes da comunidade LGBTQIA+, as estatísticas se repetem em todos os grupos: a cada 10 apertos de mão que você der, pelo menos um será retribuído por um mão-mole.

Você pode ter acordado bem-disposto, de ótimo humor, certo de que nada seria capaz de atrapalhar o seu dia. Pois basta o cumprimento de um mão-mole para que a piscina de dopamina e serotonina em que estava mergulhado seque instantaneamente. Suas glândulas suprarrenais agora produzem cortisol e adrenalina aos litros, seus batimentos cardíacos disparam, e seus músculos se contraem – fazendo com que você pressione ainda mais a massa flácida e inerte que lhe foi oferecida. Nesse momento, dentes podem ranger e olhos tendem a revirar com imensa facilidade. Se seu interesse é disfarçar a irritação, um sorriso forçado com olhos semicerrados é sempre a saída mais prática. Só não prolongue demais o encontro das mãos, os níveis de noradrenalina podem alcançar patamares irreversíveis.

Estudos recentes mostram que há relatos da presença de mãos-moles desde os primórdios da humanidade. Assassinatos históricos têm sido reavaliados levando-se em conta a possibilidade de que a vítima tenha sido um mão-mole que acabara de cumprimentar seu algoz. A redução nos níveis de violência durante a pandemia parece corroborar essa tese, afinal, foram quase dois anos de cumprimentos feitos com os cotovelos ou, no máximo, através de rápidos e despretensiosos soquinhos. O mundo certamente seria um lugar mais harmônico se os apertos de mão tivessem tido o mesmo destino dos cardápios físicos, definitivamente abandonados em um passado remoto.

Resta-nos, portanto, continuar buscando formas de tolerar os inevitáveis encontros com os mãos-moles que nos cercam. Não há indícios de que eles venham a perceber o mal que causam à sanidade alheia, ou de que possam finalmente descobrir outras utilidades para o polegar opositor que usam de forma tão limitada. Talvez seja um exercício evolutivo a que todos nós temos de ser submetidos. Até que consigamos atingir nosso nirvana, entretanto, recomendo que adotemos o cumprimento oriental, sem toques. Se nem os monges budistas aguentam um mão-mole, falem a verdade: que chance a gente tem?

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