Conversa de crônica…

20230130_205711

– “O sol, debruçado sobre as brumas da fria manhã, era incapaz de aquecer o pequeno sobrado. Persistente, a claridade penetrava pelas frestas da janela. Acordei.” Você acha que está muito lírico?

– Depende.

– Depende do quê?

– Do que quer contar, de como quer contar…

– Você deveria saber.

– Eu? Não, meu caro. Essa parte é sua, não tenho nada a ver com isso.

– Fico com receio de parecer alguém que não sou.

– Será que seu maior medo não é se revelar demais?

– …

– Às vezes o silêncio também pode ser eloquente.

– Estava tentando elaborar a resposta certa.

– Ela existe?

– Você acha que não?

– O que eu acho pouco importa.

– Pensei que estivesse aqui pra me ajudar.

– De forma alguma. Vim pra desafiá-lo.

– Ando meio cansado de desafios.

– Prefere o vazio?

– …

– Ainda em busca da resposta certa?

– Você me intimida, sabia?

– Que bom. Agora estamos progredindo.

– Você age assim com todo mundo?

– Assim como?

– Saindo pela tangente.

– Só porque não lhe digo as palavras que você gostaria de ouvir?

– Talvez eu não saiba o que esperar.

– E não é melhor assim?

– Se não fosse por este medo de errar…

– O medo estimula. O problema é que você me vê como inspiração.

– E não é?

– Não. Sou consequência.

– …

– …

– Acho que não vou mais usar a palavra “fria” pra adjetivar “manhã”. Está implícito.

– São decisões que lhe cabem.

– Tanto faz pra você?

– Pelo contrário. A excelência mora nos detalhes. Mas prefiro focar no que vem depois do “acordei”.

– Você devia ser terapeuta.

– Quem disse que não sou?

– Mais algum conselho?

– Não lhe dei conselho algum, nem poderia.

– Parece que terei de aprender sozinho.

– Os mestres serão importantes. As experiências, imprescindíveis.

– Você está me dizendo que não existe receita de bolo?

– Onde já se viu receita sem limite de ingredientes?

– Queria saber, pelo menos, como vou terminar.

– Essa é uma questão bastante filosófica.

– Não me refiro à vida. Falo de você.

– Na maioria das vezes – assim como a vida –, sou eu que vou acabar te guiando.

– Será?

– Chegamos ao final e você nem percebeu.

– Chegamos?

– Sim. Estou pronta. Feliz com o resultado?

– …nunca.

Esta entrada foi publicada em Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário