O nosso queijo Canastra – depois de ter sido alçado à categoria de patrimônio cultural imaterial pelo Iphan – foi eleito o melhor queijo do mundo pelo site americano The Taste Atlas, que conta com a participação de viajantes de todo o mundo.
Apesar da vitória do meu (também) queijo predileto, essa eleição me deixou melancólico. Notem o nível de qualidade dos adversários: o famoso francês Mont d’Or ficou apenas com a quarta posição; os italianos Parmigiano Reggiano, Gorgonzola, Stracciata e Burrata ocuparam do sexto ao nono lugares; e o português Serra da Estrela ficou com a modesta vigésima colocação. Convenhamos, ninguém reclamaria se qualquer um desses tivesse sido eleito o vencedor, tamanha a paridade técnica que os une. Todos eles atendem muito bem a todos os critérios técnicos avaliados em uma eleição desse tipo, tais como aspecto global, cor, textura, aroma, consistência e sabor. Não deveriam todas as eleições ser feitas com base em metodologias objetivas e pragmáticas como essas, e entre competidores diferenciados como esses?
Tomemos nossos políticos como exemplo. É claro que o aroma não deveria ser critério de classificação (até por questões de salubridade dos avaliadores), mas a coerência certamente substituiria bem o quesito. Imagine que queij… ops, que político teria chance de reeleição caso tivesse sido flagrado permitindo o roubo de bilhões de estatais e fundos de pensão? Ou que entregasse o controle do seu governo justamente para os corruptos que jurou combater?
Se colocarmos o bom senso no lugar da consistência, a coisa fica ainda mais complexa. Um político que sabota propositalmente a campanha de vacinação mais importante dos últimos cem anos não poderia sequer participar de alguma eleição pelo resto da vida, a não ser – quem sabe – a de melhor queijo do presídio. O mesmo vale para aquele que defendeu e financiou ditaduras pelo mundo afora, e agora se apresenta como última esperança da democracia. Que tipo de queijo manteria sua textura em uma circunstância como essa?
No lugar da cor – item que certamente levaria a debates, textões e cancelamentos -, melhor seria se pudéssemos avaliar nossos políticos pelo caráter. Na primeira triagem, pouquíssimos candidatos continuariam na disputa, facilitando sobremaneira o trabalho dos eleitores. Político que defendesse tortura estaria, evidentemente, fora do páreo. O mesmo valeria para político que transforma o enterro da própria mulher em palanque eleitoral. Falem a verdade, quem faz isso não merece tempo de cura.
Infelizmente, nossas chances de assistir à vitória de um queijo Canastra na eleição de outubro estão cada vez mais remotas. Na verdade, diante das duas opções mais prováveis no preparo das massas, eu me daria por satisfeito se o eleito fosse o queijo caipira de Mato Grosso do Sul, o queijo novo de São Paulo, ou até o queijo coalho do Vale do Jaguaribe. Esses, pelo menos, ainda não tiveram a chance de azedar.