Confluência…

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Perco o fôlego. Suor reveste de sal minha pele insossa. Lufadas de incertezas – prontas a me descompassar – esgueiram-se por entre troncos lúgubres. Recolho-me. Relva e brisa dançam à minha frente, alheias à minha existência. Sou um átimo. Respirar é cada vez mais difícil. O ar que exalo recende a melancolia. Minha fugacidade é carente de afagos.

Claridade ofusca. Halos de sensatez centelham, convictos. Como se mede a perícia na vida? Resplandece a razão, abafam-se os temores. Fulgor e insuspeição chispam naquele sorriso. Desanuviada a lucidez, boca desfaz-se em mel. Olhos suscitam metamorfoses. O feitiço é contagioso.

Tarde cai. Anuncia-se o crepúsculo. Fios desenrolam-se pelos corredores de meu dédalo. Escapo por um triz, bafejado pela sorte. O lume pálido aponta a saída. Receio prosseguir, mas a chama inquieta de uma vela ilumina meu olhar. Monções egressas prometem inflar meus pulmões viciados. Seguro o hálito.

Volto-me para a escuridão. Acostumado às cruvianas, conclamo égides a me protegerem do bafo ardente que se aproxima. Inexistem mãos quentes para quem se habituou às geadas. O clarão insiste, certo de sua destreza. Perco-me em seu esplendor. Atmosfera urde – ofegante – a súplica por oxigênio. Alentar é preciso. Suas fagulhas acendem minhas artérias. O medo das queimaduras é perene. Que bons ventos o levem.

Sol e semblante competem pelo prêmio de mais duradouro brilho. Como um farol, perspectivas de cognição despontam no horizonte. Luzeiro se alastra como desabafo reprimido. Só me cabe inspirar. Envolvente, a aura bajula meu corpo nu. Hesito, acuado. Contrariada, a lâmpada ameaça apagar-se para sempre. A decisão é minha. Farto de lampejos, escolho a vida. Renovo-me.

Minuciosa, forma-se a teia que irradia aclaração. Inspiro vestígios, emano fé. Rajadas de serenidade não mais me assustam. Abatem-se dogmas, atentos ao nosso querer. O círio aceso que trago nas mãos só me serve de amuleto. Há muito perdeu a capacidade de criar sombras. Somos dois corpos luminosos, faíscas da eternidade. Madrugada irrompe. Constelações nos alumbram.

Sopro a vela, enfim. A luz não se apaga.

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