As fotos acima foram tiradas há exatamente um ano. Assim como todo o terminal, os guichês das locadoras de veículos do aeroporto de Orlando estavam às moscas, reflexo do fechamento das fronteiras aéreas. Nosso voo foi dos últimos a deixar os Estados Unidos em direção ao Brasil. A volta foi antecipada, o ansiado reencontro com nosso filho, abreviado. As máscaras – peças que se tornariam corriqueiras dali por diante – foram usadas pela primeira vez. O mundo não era mais o mesmo.
Um ano depois e o medo que vivenciávamos é ainda maior. Tínhamos então, no Brasil, 529 casos confirmados e 4 óbitos. Hoje são quase 12 milhões de casos e 285 mil mortes. Uma tragédia sem precedentes. O sistema de saúde do país está em colapso. Mesmo nos grandes centros, há gente morrendo sem atendimento. Mais de 3 mil pessoas perderam a vida somente ontem. Como chegamos a esse ponto?
O caos em que vivemos tem várias causas. Enfrentamos graves e históricos problemas de infraestrutura, moradia e saneamento básico. Grande parte de nossa mão de obra é informal e autônoma, e depende de seus esforços diários para sobreviver. Nossas empresas sangram para conseguir pagar todos os impostos e encargos a que são submetidas, e raramente conseguem ter reservas financeiras para emergências. Tudo isso dificulta – e muito – a implantação de quaisquer medidas sanitárias e de isolamento.
Mas também somos um povo relapso, egoísta e sem qualquer senso de coletividade. Não por acaso, a maioria de nossos governantes é também relapsa e egoísta. Enquanto a população sofre com o desemprego e a redução de receitas, membros do executivo, legislativo e judiciário de todas as esferas continuam incapazes de reduzir seus salários, verbas e gastos. Vivem – como sempre – em suas bolhas intocáveis.
Para completar a tempestade perfeita, comanda o país a pessoa errada, no lugar errado, na hora errada. Nenhum líder mundial foi tão irresponsável, tão negligente, tão criminoso na gestão da pandemia quanto Jair Bolsonaro. Desde o primeiro dia – através de palavras e ações – o presidente desestimulou todos os protocolos sanitários de combate à Covid. Provocou e incentivou aglomerações, recusou-se a usar máscaras, desmereceu a importância das vacinas, divulgou informações falsas, incitou a população a usar um medicamento ineficaz, colocou um pau-mandado incompetente e submisso para cuidar da saúde, tratou com deboche e escárnio as mortes que se avolumavam, postergou o quanto pôde o início da vacinação, e jamais demonstrou um único momento de empatia e solidariedade para com os familiares dos mortos. Até o auxílio emergencial – razão de seu apoio popular até o ano passado – foi feito sem as contrapartidas necessárias para se evitar o descontrole total das contas públicas. Jair Bolsonaro é um desastre que o Brasil levará décadas para superar.
Mas ainda há esperanças. A vacinação – de uma forma ou de outra – há de avançar. Vacinados, os brasileiros retornarão aos poucos à sua rotina. Lutemos para que isso aconteça o mais rapidamente possível. Que, daqui a um ano, possamos falar da pandemia como coisa do passado. Mas sem esquecer tudo que ela tem nos mostrado. Esquecer, não. Esquecer, jamais!