Outono…

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Claridade se faz de rogada. Esgueira-se – manhosa – madrugada adentro. Corteja as estrelas, seduz o luar. Espreguiça-se, sem pressa, prestes a amanhecer. A Terra aguarda, ansiosa, que a manhã desperte. Trata-se de uma aurora rara. Eufóricos, os primeiros raios apostam corrida com o outono. Juntos, anunciam a chegada do mais justo dos dias. Aquele em que o sol não faz escolhas. Aquele em que brilho e calor são bens comuns. Aquele em que a luz é plena.

Ela desperta. Levanta-se, abre a janela, saúda e respira o frescor que inaugura a nova estação. Seus olhos irrequietos vislumbram a chegada de noites amenas, taças de vinhos encorpados, trajes elegantes, olhares ousados. O sol pleno a reconhece. São velhos companheiros de alvorecer, quase alma gêmeas. Encontram-se a cada ano neste mesmo dia. O clarão não ofusca, o ardor não transpira. Abraçam-se.

Ela herdou a elegância e o enlevo do outono. Seu olhar intenso pode assustar quem não percebe a gentileza tímida. A boca hipnotiza, o semblante – feito fascinação – entontece. Um sorriso, e a rendição se completa.

Do sol, roubou-lhe o fulgor. Sua presença resplandece. Não há como escapar da chama que arde em faíscas de argúcia, em coriscos de ternura. Não há como não se encantar. É ela quem brilha.

A estrela que me guia vive ao meu lado. Jamais me perco. Acostumei-me ao seu calor. Não sinto frio. Íntegra como o mais justo dos sóis, leve como o frescor do outono, vislumbro o universo em seu olhar. Sua expressão me acalma, sua voz me revigora, seu colo me assanha. Ela é meu sol pleno, meu equinócio de vida. Sua luz é o amor.

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