– O Senhor mandou me chamar, Altíssimo?
– Sim, Moisés. Queria me aconselhar com você.
– Comigo, Todo-poderoso? Não sou digno de lhe dar conselhos, Pai.
– Moisés, deixa de frescura. A gente já se conhece há milênios.
– Perdoe-me, Deus. Como posso ajudá-lo?
– Tô muito preocupado com a Terra. Aquilo ali tá fora de controle. Nem Eu dou conta mais.
– É verdade, Senhor. Tenho acompanhado a transformação do planeta no “Mundo Visto de Cima”. O Senhor já assistiu?
– Não preciso de TV para saber o que acontece no universo, Moisés.
– Claro, Senhor. Perdão. O que pretende fazer?
– Tô pensando em mandar uma nova praga. Você tava lá quando fiz isso pela primeira vez e deu certo. O que acha da ideia?
– Deus do céu!
– Sim?
– Ah, desculpe. Força de expressão. Quis dizer que acho a medida extrema. Tem certeza, Senhor?
– Não vejo outra saída, Moisés. Preciso dar um jeito de parar com as guerras, a poluição, o desmatamento, as raves de baile funk…
– Alguma coisa que obrigasse as pessoas a ficar em casa?
– Sim.
– O que acha de gafanhotos?
– Poderia afetar todas as plantações. Não quero matar a humanidade de fome. É mais pra dar um susto, sabe?
– Entendi. Então acho que tem que ser alguma doença contagiosa mesmo.
– Ah, sempre a mesma coisa. Não tem nada mais moderno não?
– Não sou muito ligado em tecnologia, Senhor. Quer que eu chame o Steve Jobs?
– Não, deixa. Vírus de computador ia ter efeito contrário. Vamos de pandemia, mais uma vez.
– Boa decisão, Senhor.
– Minha dúvida é se vai dar resultado.
– Como assim?
– Lembra o que tinha de gente chamando a Gripe Espanhola de resfriadinho, de guerra biológica, de cerceamento às liberdades?
– Como me lembro. Morriam milhões e as pessoas continuavam dizendo que tudo não passava de uma farsa.
– Meu medo é esse.
– Mas a humanidade hoje é bem mais instruída, Senhor. A ciência não é mais questionada.
– Você é um humanista, Moisés.
– Obrigado, Senhor.
– Não foi um elogio.
– Bem… o Senhor vai começar por onde?
– Algum país bem populoso, pra espalhar rápido.
– Que tal o Brasil?
– Ah, não. Tem que ser o mais distante possível do Brasil.
– Bem que eles dizem que o Senhor é brasileiro.
– Brasileiro? Não, Moisés. É que mando pragas pra lá já faz muito tempo.
– Ué, e por que está tão preocupado agora?
– É que em 2018 eu errei a mão…
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