Interpretações imorais…

– Oi, amor. Vamos almoçar?
– É melhor você não falar nada, Serginho. Eu descobri tudo.
– Que isso, amor? Do que você está falando?
– Eu sempre desconfiei de você, Serginho. Essa sua carinha de santo nunca me enganou.
– Mas, Marina, eu não fiz nada.
– Nada? Tem certeza? Você tem coragem de dizer que não conhece nenhuma Zara?
– Zara? Não, não conheço.
– Você é muito cara de pau! Eu já sei de tudo, Serginho. Contratei um detetive que hackeou seu celular. Tenho as primeiras mensagens transcritas aqui comigo. E isso é só o começo. Ele ainda vai me mandar muitas mais.
– Você enlouqueceu? Era só me pedir que eu te mostrava minhas mensagens. Não fiz nada de errado e não conheço nenhuma Zara.
– Você não me engana, seu monstro. Tenho a conversa em que você fala dela e de outras pro Renan.
– Que Renan? O que foi meu colega de escritório? Nunca falei de outra coisa com ele a não ser de trabalho. Além do mais já disse que não conheço nenhuma Zara.
– Ah é? Que tal esse trecho aqui?
“Renan, não sei mais o que eu faço. Zara está me deixando louco. Não tô dando conta.”
“Sério? Um mês atrás parecia que não iria dar em nada.”
“O mundo dá voltas.”
“Cuidado pra não atrapalhar seu relacionamento com as outras.”
“Pois é. Como se pudesse me cobrar exclusividade. Não está nem me sobrando tempo pra Marisa.”
– Peraí, Marina. Acho que você realmente enlouqueceu. Eu só estou falando de trabalho aí.
– Trabalho, seu cara de pau?
– Sim, eu era representante comercial até três anos atrás, lembra? Zara é uma rede de lojas.
– E onde é que eu entro na história pra você dizer que não tinha tempo pra mim?
– Desde quando você se chama Marisa?
– É claro que isso foi um erro de digitação, não é, Serginho?
– Marisa é outra rede de lojas, meu amor. Eu vendia pras duas, além de outras mais. Não acredito que você duvidou de mim por causa disso.
– Ah, é? E como você me explica essa parte que vem em seguida?
“Apesar de todas as cobranças e do ciúme eu sou louco por ela.”
“Eu sei. É que o coração não foi feito pra pensar. Também já passei por isso.”
– Tava falando de loja também, Serginho?
– Claro que não. Mas essa conversa eu tive com a minha mãe e há menos de um mês. Não tem nada a ver com a outra. Aliás, eu estava falando de você. Esse hacker que você arrumou tá fazendo tudo parecer errado.
– Conta outra, Serginho.
– Duvida? Confere as datas e os horários pra ver se batem. Esse cara tá colocando as mensagens na ordem que ele quer e você tá caindo na manipulação dele.
– Puxa, meu amor, é verdade, me perdoa.
– Vamos esquecer isso, Marina. Tenho que ir agora. Perdi até o apetite.

– Boa noite, amor. Tá mais calma agora?
– Some daqui, seu canalha.
– Pelo amor de Deus, o que foi desta vez?
– Nunca imaginei que você fosse gay, Serginho!
– Gay, eu?
– Eu descobri tudo e quero o divórcio. Você pode ser feliz com o seu Ermenegildo Zegna!

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