Ainda não sou capaz de apontar, com segurança, qual candidato à presidência receberá meu voto no próximo ano. Entre os nomes lançados e especulados até agora, ainda não identifiquei aquele que personifique inteiramente meus anseios de liberdade individual, valorização da meritocracia, responsabilidade fiscal, descentralização do poder, redução do peso do Estado, e isonomia de oportunidades a todo cidadão. Apesar da enorme ansiedade, sei que não devo ter pressa para me decidir. Afinal, na minha opinião, a eleição do ano que vem será, simplesmente, a mais importante da história brasileira até agora. Chegamos ao ponto de inflexão da nossa própria sobrevivência. Mudamos a curva ou perecemos, simples assim. A próxima oportunidade será também a última para um país em frangalhos. Nossa cota de erros se esgotou. Eu e todos os brasileiros teremos tempo suficiente para analisar a história, as propostas, a coerência e as intenções dos postulantes ao posto mais importante do Brasil. Entretanto, além de todas essas observações tão relevantes, creio que deveremos estar particularmente atentos à forma como cada candidato irá lidar com os riscos do populismo eleitoral.
Não me refiro, é claro, ao populismo rasgado, ostensivo, insolente, tão em voga nas últimas décadas da política brasileira. Uma candidatura com tal inclinação não poderia sequer ser considerada uma opção diante do desolador cenário em que nos encontramos. Refiro-me ao populismo velado, escondido nos pequenos detalhes, dissimulado nas mais inocentes arguições. Aquele que faz até os simpatizantes do liberalismo recorrerem a metáforas ininteligíveis sempre que questionados sobre um determinado assunto. Aquele que os levam a se justificarem demoradamente primeiro para, somente depois, emitirem, rápida e seletivamente, suas opiniões. Aquele que os fazem engolir em seco, enquanto secam suas esperanças de que respostas monossilábicas possam satisfazer seus interlocutores. Aquele que os fazem calcular quantos votos perderiam caso o ponto de vista integral, sem cortes, viesse a ser pronunciado.
Vivemos em um país que não permite que as verdades de cada um, assim como suas reais intenções, possam ser apresentadas sem um véu que as embacem. E já passou da hora de acabarmos com esse contrassenso, com essa ilusão consensual, com essa interpretação tendenciosa dos fatos. Que tipo de líder pode surgir em um ambiente tão deturpado? O que queremos ouvir dele? Embromações? Meias verdades? Realidades açucaradas para atender às expectativas de um povo que se habituou a ser enganado sistematicamente? Palavras autocensuradas pelas regras impostas por uma sociedade mimada pela farsa do politicamente correto? É momento de decidirmos qual é o perfil do líder que buscamos desta vez.
Os estudiosos da arte da oratória afirmam que o uso de metáforas e parábolas nos discursos proferidos pelos comandantes de diversas culturas sempre facilitou sua comunicação com as massas. Inúmeros líderes da história se valeram e continuam se valendo desse artifício em todo o mundo. Somente assim, dizem eles, o povo, ignorante em sua maioria, é realmente capaz de compreender suas mensagens. No Brasil, como de costume, levamos essa “linguagem popular” a outro nível. Aqui, o populismo está a serviço da desvalorização do ser humano. Cultura, preparo, competência, educação, iniciativa, capacidade de empreendedorismo, todas essas qualidades passaram a ser tratadas como valores elitistas, quase repugnantes. Através dos simbolismos e das bravatas populistas, o país conseguiu a façanha de desestimular o esforço individual, o desejo de crescer, de produzir, de gerar empregos, renda e riqueza. Os discursos repletos de metáforas, tão bem usados em épocas longínquas, só têm feito com que o sucesso individual seja tratado como crime, e não como mérito. Como motivo de escárnio, e não de admiração. É tempo de mudarmos esse triste quadro.
Por tudo isso, a primeira coisa que espero dos meus candidatos em potencial é que não tentem usar subterfúgios para divulgar suas ideias. Que não tratem as pessoas como limitadas, como idiotas. Quero propostas claras, compostas de metas claras e factíveis, origem clara dos recursos necessários, e plena viabilidade jurídica e constitucional. Quero honestidade, coerência e sinceridade diante de qualquer assunto, mesmo os mais polêmicos. Quero opiniões fortes e bem fundamentadas, ainda que muita gente discorde delas. É primordial que eles entendam que ninguém vai conseguir agradar a todo mundo o tempo todo. E aquele que insistir nisso certamente irá se perder. Quero alguém que tenha a coragem de se posicionar a favor de temas impopulares e seja capaz de explicar com clareza os motivos que o levaram a tal posição. Quero alguém que não tenha como meta a sua própria reeleição no pleito seguinte. Quero alguém comprometido com o desenvolvimento intelectual do Brasil, em todos os seus aspectos, com todas as suas complexidades. Quero, finalmente, alguém que enxergue o populismo como a anomalia que é: uma distorção patética dos fatos, um escambo obsceno em que um abre mão da dignidade em troca do voto do outro, um manto de turbidez que a democracia brasileira não pode mais se permitir usar!