Cenário um: você está jogando sua pelada de todo sábado com seus amigos. Aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, com a partida empatada, o centroavante do seu time recebe a bola na intermediária, deixa os dois zagueiros pra trás, invade a área e, ao driblar o goleiro, tropeça sozinho e cai. O juiz marca pênalti. Ele se levanta sorrindo e diz ao juiz que não houve falta. Todos aplaudem sua atitude, inclusive você e os seus companheiros de clube. Em seguida, saem juntos para tomar uma cerveja.
Cenário dois: você é jogador profissional de um grande time. Aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo da finalíssima do campeonato nacional, com a partida empatada, o centroavante do seu time recebe a bola na intermediária, deixa os dois zagueiros pra trás, invade a área e, ao driblar o goleiro, tropeça sozinho e cai. O juiz marca pênalti. Você e o estádio lotado explodem em comemoração, mas ele se levanta e diz ao juiz que não houve falta. O que acontece depois não vem ao caso.
Algumas reflexões sobre os dois cenários:
– se você acha que a atitude do centroavante foi inadequada e demagógica em ambas as situações, você precisa rever seus conceitos de honestidade;
– se você acha que a atitude do centroavante foi adequada no primeiro cenário e estúpida no segundo, você precisa rever seus conceitos de ética;
– se você acha que foi necessária a mesma coragem do centroavante em ambas as situações, você precisa rever seus conceitos de postura frente aos dilemas da vida;
– se você acha que o centroavante seria um mau caráter caso ele não tivesse se manifestado, você precisa rever seus conceitos de ser humano;
– se você acredita piamente que nem hesitaria em se comportar exatamente como o centroavante, e ainda chama de desonestos aqueles que admitem não saber como agiriam, você precisa rever seus conceitos de arrogância;
– uma coisa é certa: quando situações como essas acontecem de verdade, ela faz com que, no mínimo, tenhamos a oportunidade de repensar muitos dos nossos próprios conceitos!