Colocar meu filho, hoje com sete anos, para dormir, sempre foi uma experiência absolutamente prazerosa. A cada dia que passa, entretanto, suas observações, filosofias e questionamentos, mais abrangentes e diversificados, têm transformado esses momentos em uma verdadeira terapia.
A princípio, filosofávamos mais sobre a morte, muito em virtude do grande número de perdas próximas que ele vivenciou tão cedo. Suas perguntas iam desde as clássicas “porque morremos?” e “para onde vamos?” até a dolorosa “quando vou abraçar a vovó de novo?”. Com o passar do tempo, suas inquietações chegaram ao mundo da música, das culturas de outros povos, passando pelas angústias de viver e crescer. Para ele, não é o bastante dizer que não gosta de seguir regras. Ele prefere afirmar que “me sinto preso, como se estivesse faltando algo” ou “me sinto mais livre quando estou sozinho com as minhas primas pequenas”.
Ontem, começamos nossa viagem da noite pelo espaço sideral. Ele queria saber a diferença de tamanho entre o Sol e a Terra, a distância entre ambos, a importância do calor solar para as nossas vidas, por que não dá pra viajar até lá. Procurei explicar tudo da forma mais didática que consegui, sem maior profundidade mas, ao mesmo tempo, sem deixar que suas perguntas ficassem sem respostas. Não satisfeito, suas inquietações foram mais longe e seus pensamentos passaram a divagar sobre temas bem mais complexos…
“Papai, como o Universo nasceu?”, começa ele.
“Filho, na verdade ninguém sabe ao certo. Existem muitas teorias a respeito.”
“Me fala todas elas que eu vou saber qual é a verdadeira.”
Já vi que hoje não vou dormir, penso eu.
“Bom, a teoria mais aceita é a de que houve uma explosão que deu origem ao Universo. É o chamado Big Bang.”
“Meus colegas me disseram que foi Deus quem criou o Universo.”
Por que não pensou nessa resposta tão mais simples antes, seu energúmeno?
“Essa é outra das teorias, querido. Mas o Big Bang não exclui o papel de Deus. Muitas coisas são ainda inexplicáveis”, tentei consertar.
“E o que você acha que aconteceu de verdade?”
Bom, já era hora do papo terminar.
“Eu acho que você já deveria é estar roncando há muito tempo! Feche os olhinhos e durma.”
“Tudo bem, papai. Mas, na verdade, eu queria saber só algumas coisas. Primeiro, Deus existe? Segundo, o que ele é? Terceiro, por que Deus criou as pessoas? Quarto, como ele criou os planetas? Quinto, ele é uma pessoa ou uma energia? Sexto, como ele tem tanto poder e a gente não? Sétimo (é sétimo que se fala, né?), foi Deus que provocou a explosão que criou o universo? Oitavo, como são os anjos? Eles têm rostos, asas, nomes?”
Eu já estava sem ar quando ele arrematou:
“Pesquisa isso tudo no Google e amanhã você me fala, tá bom?”