O final de cada ano sempre foi, pra mim, uma das épocas mais aguardadas. Mesmo depois de adulto quando, consequentemente, o Natal e o Réveillon deixaram de ser sinônimos de férias, essa preferência se manteve. Ansiava vivenciar aquela atmosfera diferente que tomava conta das pessoas, caminhar pelas ruas mais cheias e enfeitadas, acompanhar minha mãe nos preparativos para as ceias, participar dos encontros, das conversas e das orações que sempre marcavam as noites de festa. Mas um motivo em especial sempre pesou nessa minha escolha…
Personificado pelo meu primo, depois pelo meu pai e, por último, pelo meu irmão, Papai Noel se fez presente durante muitas e muitas noites de Natal. E, em cada uma daquelas noites, acompanhei de perto os olhinhos de várias crianças se iluminando ao primeiro badalar do sino com o qual Papai Noel anunciava sua chegada. Os gritos de ansiedade e excitação e as expressões de encantamento dos pequeninos, inevitavelmente contaminavam meu rosto com sorrisos duradouros e lágrimas veladas. À medida em que as crianças cresciam, outras tomavam seus lugares, e a magia daquela noite permanecia intacta. Ano após ano, os sorrisos e as lágrimas se repetiam e se renovavam. Afinal, com o passar do tempo, muitas daquelas crianças se tornaram irmãos mais velhos, se tornaram tios, se tornaram pais, e a emoção apenas trocava de lado. Quando deixavam de acreditar no mito, os outrora meninos passavam a ter certeza da existência de tudo que ele representava. Passavam a entender que o nosso Papai Noel sempre fora, simplesmente, amor. Por isso, a cada ano, a voz e os conselhos do Papai Noel ficavam gravados na minha memória e nos corações de cada criança. E a gente mal podia esperar pela visita dele no Natal seguinte.
Nos últimos Natais, entretanto, Papai Noel deixou de fazer parte das nossas celebrações. Assim, meu filho menor e minhas sobrinhas pequenas acabaram vivenciando muito menos aquela ansiedade gostosa, aquele frio na barriga, aquela expectativa boa que antecedia o encontro com o velhinho sorridente que trazia muito mais do que presentes. Trazia bondade, admiração e ternura no olhar. Trazia paz e sabedoria nas palavras que ecoavam no silêncio profundo de uma sala envolta em uma penumbra quase etérea. Um silêncio tão grande que, sempre que me lembro daqueles momentos, não consigo dissociar a voz do Papai Noel do som das batidas apressadas do meu próprio coração. Quem teve a oportunidade de estar presente em alguma daquelas noites fascinantes, sabe o quanto os conselhos do Papai Noel foram importantes na formação da índole de tantas pessoas. O quanto aquele Papai Noel sintetizava a mensagem de paz e de harmonia que deveria fazer parte do Natal de todos.
Papai Noel foi embora não por escolha própria. Na verdade, sua partida representou apenas o fim de um ciclo. Por mais tristes que sejam os fins, eles sempre marcam outros inícios, igualmente abençoados. Espero, entretanto, mesmo neste novo ciclo, que Papai Noel um dia ainda volte para emocionar novas crianças que ainda hão de chegar. E, quando isso acontecer, estou certo de que ele irá me reconhecer e se recordará de todas as palavras, de todos os conselhos e de todos os olhares que já me dirigiu ao longo de tantos anos. Ao enxugar minhas lágrimas de emoção por vê-lo novamente, Papai Noel irá perceber que, a cada Natal, a minha oração mais fervorosa pedia apenas que ele voltasse no próximo ano. Que estar com ele sempre foi o meu mais precioso presente. Por isso, antes de ir embora, sei que Papai Noel vai me beijar, segurar a minha mão, olhar no fundo dos meus olhos, e me dizer baixinho: “Filho, não houve uma única noite de Natal que eu não estivesse aqui”!
Neste e em todos os Natais, que o verdadeiro Papai Noel esteja sempre presente nos corações dos homens.
Feliz Natal a todos.
Feliz Natal, Papai Noel.
Feliz Natal, papai!