Bocas abertas…

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Lembram-se daquela expressão “quem fala demais dá bom dia a cavalo”? Pois é, os dois candidatos à presidência que lideram todas as pesquisas de intenção de voto têm mais este ponto em comum: ambos precisam ser lembrados de manter suas bocas fechadas. A falta de noção é tamanha que, de quando em quando, até os aliados mais próximos – também conhecidos como “baba-ovos de bandido em busca de uma boquinha” – vencem o pânico de desagradar ao chefe (ou deus, ou mito, como queiram). Consigo visualizar as mãos suadas, os nós nas gargantas, o pavor de serem escorraçados, excomungados, condenados a voltar ao ostracismo habitual que tanto temem. Quase chego a ter pena dos olhares indecisos, das vozes trêmulas proferindo frases entrecortadas e hesitantes.

“Sabe, chefe” – ou deus, ou mito, como queiram – “todo mundo de bom senso sabe que as vacinas não funcionam, que morrer faz parte da vida, que as urnas eletrônicas são manipuladas, que Putin é um conservador, que o golp… perdão… que a revolução de 64 salvou o Brasil do comunismo, que esquerdista merece ser torturado mesmo, e que ninguém devia ter medo de uma cobrinha. Mas tem gente desinformada e ignorante que não quer votar no senhor exatamente por essa sua, digamos, clarividência. Desculpe a intromissão, mas o que o senhor acha de… talvez… quem sabe… tentar evitar esses assuntos mais polêmicos até outubro? Claro, só se considerar que é uma boa ideia. Qualquer coisa tô ali no fundo assistindo aos vídeos do Gabriel Monteiro, tá?”

“Sabe, chefe” – ou deus, ou mito, como queiram – “todo mundo de bom senso sabe que Ortega, Maduro e Putin são democratas, que a pobreza de Cuba é culpa dos embargos, que Marighella é um herói nacional, que a classe média brasileira é podre e adora ostentar, que o povo tinha que acampar na frente da casa de todo deputado golpista, que imprensa tem que ser regulada mesmo, que a Petrobrás nunca foi tão bem administrada quanto no seu governo, e que a solução pra toda guerra é a bebida. Mas tem gente desinformada e ignorante que não quer votar no senhor exatamente por essa sua, digamos, mente humilde e privilegiada. Desculpe a intromissão, mas o que o senhor acha de… talvez… quem sabe… tentar evitar esses assuntos mais polêmicos até outubro? Claro, só se considerar que é uma boa ideia. Qualquer coisa tô ali no fundo lendo o livro da Márcia Tiburi, tá?”

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