O atleticano…

Ser atleticano é ser diferente de qualquer outro torcedor do país. Para o atleticano, não há limites para a sua paixão pelo Galo. Para o atleticano, não existem o impossível e o improvável, e mesmo que existam, esses são ignorados. Para o atleticano, torcer é fazer o seu próprio sangue ferver, é ignorar o que dita a razão, é ser guiado pela força da sua própria e única crença.

Ser atleticano é comemorar uma vitória por dias a fio, é encarar cada partida como a motivação maior da sua própria existência, é experimentar o êxtase a cada gol marcado, a cada defesa, a cada drible e a cada desarme feitos.

O atleticano não apenas gosta do seu time, ele o possui. Em suas veias não corre apenas sangue, mas também energia pura para vibrar a cada jogo. O Galo é a sua religião máxima, é o seu elo de ligação com a felicidade, é sua razão principal para viver. Para o atleticano, torcer é mais do que uma ação, é uma filosofia de vida. Assistir a um jogo do Galo é mais do que uma distração, é um culto à espera do próximo milagre, que, cedo ou tarde, sempre acontece.

Ele não concebe torcer apenas por amor pois, para o atleticano, amar é pouco. Quando o atleticano torce, todos os limites são ultrapassados. Tudo é permitido. Quando ele vibra, todos ao seu redor são levados com ele, como um redemoinho que suga tudo para dentro do seu turbilhão. Quando o atleticano grita, deixam de existir os conceitos de certo e errado. Os ponderados se tornam loucos e os céticos se tornam crentes. Não existem mais adversários, apenas inimigos a serem abatidos. E, para o atleticano, não existe o melhor hoje, pois o Galo é o melhor sempre.

Tudo isso faz do atleticano um torcedor ímpar.

E sendo assim, o atleticano é, pra mim, tudo aquilo que eu jamais gostaria de ser!

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O dono da verdade…

Diante de uma situação política, econômica e social cada vez mais caótica no país, tenho buscado ler e ouvir as mais diversas opiniões, vindas dos representantes das mais diversas linhas de pensamento, a respeito das causas, das perspectivas, das soluções e dos sonhos que cada um imagina para o Brasil. Quanto mais eu leio e ouço, mais me intriga e surpreende a forma como o ser humano se comporta. Entretanto, mais surpreendente ainda, é a imagem que cada um faz de si próprio. É óbvio que, a partir do instante em que alguém tem uma convicção, e que a expõe, é a verdade dessa pessoa que entra em discussão. E, sendo uma verdade para quem a coloca, é natural que o autor se veja compelido a defendê-la, a lutar por ela, a mantê-la viva e intacta, como alguém que procura preservar um bem precioso de um larápio disposto a levá-lo e a destruí-lo. Esse bem, no caso, muitas vezes é a ideologia de toda uma vida, construída ao longo de décadas e presa a conceitos, há muito, distantes da realidade atual.

Hoje em dia, com a internet, com as redes sociais, essa exposição de opiniões se tornou muito mais rápida e profusa. Todo mundo comenta sobre todos os assuntos. Hoje, conheço opiniões de amigos distantes com muito maior propriedade do que sabia como pensavam, anos atrás, inúmeros membros da minha própria família. As pessoas estão mais expostas e isso, naturalmente, exige maior coragem e disposição para que elas possam argumentar continuamente, que possam lidar com opiniões contrárias, muitas vezes agressivas. Como se qualquer opinião divergente fosse inaceitável, doente ou até criminosa. Como se cada argumento antagônico representasse a imagem do ladrão de ideias e de ideais, do usurpador de sonhos.

Nos debates do dia a dia, o maior dos problemas que enfrentamos hoje são os rótulos. É impossível emitir uma opinião e não ser rotulado. Eu mesmo já perdi a conta dos nomes (publicáveis) a mim imputados. Já fui chamado de coxinha e fascista por uns e de esquerdista por outros. Alguns me disseram que sou retrógrado. Outros, progressista em demasia. Partindo para um exemplo prático e até banal, quando disse que não vou apoiar o impeachment da atual presidente enquanto não houver implicações legais que justifiquem tal ato, fui chamado até de petralha. Mas quando, na mesma discussão, disse não entender como uma manifestação popular pedindo a renúncia da presidente pode ser qualificada como golpe, enquanto que as mesmas manifestações feitas no passado, e direcionadas ao Collor e ao FHC, eram vistas como democráticas e legítimas, fui chamado de fascista, golpista e coisas muito piores. Será que existem incoerências tão grandes assim na minha visão, na minha verdade?

Nos vários debates que tenho feito, principalmente com pessoas cujas ideologias diferem inteiramente das minhas, busco ser sempre comedido, fornecendo apenas argumentos, e evitando rotular quem quer que seja, mesmo quando alguns deles já se autorotulam. Essa foi a forma que encontrei para poder ter real acesso às diversas linhas de pensamento, e escapar da superficialidade reinante na maioria das discussões vistas nas redes sociais a cada dia. Foi a maneira que me permitiu conversar sem ser visto como o usurpador de bens, o que afastaria imediatamente qualquer possibilidade de interação. Essas experiências têm sido extremamente gratificantes pois, ainda que me depare com radicais de todos os lados, sempre existe alguém querendo, realmente, compartilhar a sua verdade, sem medo de vê-la subtraída indevidamente. E, quando essa liberdade mútua acontece, na grande maioria das vezes, percebo que temos muito mais em comum do que eu poderia ter imaginado a princípio.

Em virtude de debates como esses, já mudei meus pontos de vista em relação a diversos assuntos. Em outras ocasiões, os argumentos contrários até reforçaram a minha forma de pensar. Creio, e espero, ter provocado o mesmo impacto junto àqueles com quem debati. Alguns até chegaram a me provar isso, seja falando diretamente, ou simplesmente apagando meus comentários por não terem mais como contra-argumentar. Muitos amigos dizem que sou muito paciente, por manter a calma mesmo quando estou sendo ofendido. Ao contrário, acho que sou, na verdade, extremamente impaciente, uma vez que não consigo me conter quando leio ou escuto opiniões que considero absurdas, ou outras que me mostram uma faceta da questão em pauta que eu jamais havia considerado.

Aprendi a separar a ofensa escrita, muitas vezes involuntária e frequentemente oriunda de uma reação natural de autodefesa, da ofensa moral, baixa e quase sempre decorrente da completa falta de conhecimento do que está sendo discutido. Aprendi também a não permitir que um sentimento de carinho e admiração pudesse vir a ser afetado por discussões envolvendo opiniões e ideologias diametralmente opostas às minhas. Mas aprendi, acima de tudo, a me considerar sempre, e cada vez mais, o dono da verdade! Porque uma verdade única a todos não existe e nunca existirá. Cada um tem a sua. Até mesmo quando alguém me convence de alguma coisa, essa nova verdade passa, imediatamente, a me pertencer também. É uma verdade rígida e imutável, mas só até que o meu próximo tenha a generosidade de compartilhar a verdade dele comigo. É uma verdade que convive bem com todas as outras verdades. Mas é uma verdade que, de verdade, só existe porque é minha. E ninguém tasca!

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Hoje eu vou pra rua…

Vou pra rua hoje! Vou com o objetivo claro de protestar contra um governo que saúda a mandioca, mas que sabia perfeitamente que não se pode segurar preços artificialmente, e nem se pode baixá-los por decreto. Um governo que dobra uma meta inexistente, mas que tinha plena consciência da verdadeira situação do país, oposta àquela amplamente propagada antes de vencer as eleições. Um governo que chama Roraima de capital, mas que optou voluntariamente por uma matriz econômica desastrosa, inflacionária, e totalmente irresponsável com as contas públicas. Um governo que reverencia as crianças e todas as figuras ocultas atrás delas, mas que nunca investiu na educação de base e tampouco na qualidade da educação dos demais níveis. Um governo que se orgulha das vacas não tossirem, mas que não percebe que a inclusão social, tão alardeada, se restringiu apenas a uma maior capacidade de aquisição de TV’s e fogões, enquanto a saúde, a educação, o transporte público e a segurança foram sempre deixados em segundo plano. Um governo que se considera sapiens, mas promoveu e foi financiado por desvios bilionários vindos de todas as estatais, de todas as autarquias públicas. Um governo com uma visão tão distorcida da realidade, que se esquiva, diuturna e noturnamente, de qualquer responsabilidade na crise vivida hoje no Brasil, e encontra os culpados na imprensa, na crise externa, na Polícia Federal, na Copa, na seca, no Congresso, no FHC, nos pessimistas e nos golpistas de plantão.

Vou pra rua hoje! E também não vou deixar de protestar contra toda a classe política deste país. Contra um presidente da câmara mau-caráter, corrupto e interesseiro. Contra um presidente do senado igualmente traiçoeiro, ardiloso, manipulável e manipulador. Contra deputados e senadores que se comportam como uma boiada sendo cegamente conduzida, sem ideologias, sem voz própria, sem novas ideias, sem boas intenções. Uma boiada que custa bilhões ao país todos os meses e não contribui em nada, muito pelo contrário. Contra uma oposição fraca e também corrupta, cujo único interesse neste momento é a deterioração ainda maior da situação econômica e política do país, para que possa se apresentar como salvadora da pátria.

Vou pra rua hoje! Mas não vou em defesa de ninguém, simplesmente porque não acredito que tenhamos hoje políticos que mereçam ser aplaudidos. Vou pela minha consciência e não por orientação de qualquer partido. Vou despido de qualquer motivação golpista, quero apenas que os culpados, de todas as ideologias, de todos os partidos, paguem por estarem roubando, mais do que o nosso dinheiro, mas principalmente a nossa esperança. Vou apenas com uma única e real motivação: vou pelo Brasil!

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Naquele sorriso…

Hoje é o aniversário dele! Mesmo não podendo mais abraçá-lo, este será sempre um dia de reverência e de celebração. Pois, nesta data, nasceu o portador do sorriso mais doce, mais constante, mais intenso e mais verdadeiro. Hoje, e todos os dias, sei que estarei pensando e falando sobre ele. Sei que o meu amor nunca irá diminuir com a sua ausência. E sei que a saudade que sinto jamais deixará meu coração inteiro novamente. Sei também que, por mais que eu me esforce, nunca conseguirei dizer ou escrever sobre o muito que aqueles olhos me transmitiam, o quanto aquela voz me inspirava, e tudo que aquele sorriso resumia. Muitos não tiveram a oportunidade de conhecê-lo. E sempre que eu falo do quanto a sua presença irradiava paz e sabedoria, me perguntam o que fazia dele uma pessoa tão singular. Invariavelmente, eu respondo que qualquer palavra seria insuficiente para descrevê-lo. Entretanto, sua essência sempre esteve estampada no seu sorriso.

Naquele sorriso, estava a serenidade com a qual ele encarava todas as dificuldades. Estava a prudência com a qual ele norteava suas atitudes. Estava o otimismo com o qual ele enxergava seu mundo e o mundo daqueles a quem amava. Estava a alegria que transmitia a todos que dele se aproximavam. Estava a luz que ele sabia, como ninguém, acender no íntimo de cada um. Estava a sabedoria que seus conselhos despertavam. Estava a sua disponibilidade quando chamado a ajudar. Estava a resignação com a qual ele aceitava as vicissitudes do dia a dia. Estava o amor com o qual ele conseguia tocar o coração de todos.

Ele, que fez do seu caminho um repertório infindo de exemplos e ensinamentos, que dizia as suas verdades de uma forma suave e doce, que sugeria sem imposição, que guiava sem ditar regras, que liderava sem arrogância, e que, de tão sábio, se considerava apenas mais um. Ele, que sabia contra-argumentar sem discórdia, que conseguia mostrar o caminho certo sem desmerecer os alternativos, que era capaz de olhar para as pessoas de tal forma que, quando se davam conta, irremediavelmente se percebiam apaixonadas, como se não houvesse outra alternativa. E não havia mesmo… Tudo isso sempre esteve claro naquele sorriso.

Naquele sorriso, vi a confiança para ensaiar meus primeiros passos, vi a paciência para lidar com minhas limitações, vi a perseverança no incentivo incessante das minhas próprias escolhas, vi euforia e moderação, orgulho e advertência, apoio e tolerância, amor e mais amor ainda. Todos disponíveis naquele sorriso.

Naquele sorriso, eu sinto a força e a textura das suas mãos, o aconchego dos seus braços, a doçura e a alegria do seu olhar. Naquele sorriso, ainda estão o ombro onde me recostei tantas vezes, a lucidez de um ser iluminado, a consciência cósmica tão nítida, entremeada de paz e de amor plenos. Naquele sorriso, repousa a certeza do reencontro, a certeza do renascer, a certeza da vida. Naquele sorriso, ainda mora uma criança que se sentia completa naquele abraço, que se descobriu protegida e abençoada por aquele que só sabia amar integralmente, sem limites, sem ressalvas, sem compensações, sem contrapartidas. E hoje, sei que aquele sorriso vai acalentar para sempre o adulto que fez da palavra PAI a mais sagrada e a mais venerada de todo o seu vocabulário. Eternamente, naquele sorriso…

Por ele, orgulho, saudade, respeito, gratidão, idolatria, admiração, ternura e amor, são sentimentos que estarão sempre aflorados no meu olhar! E, no meu próprio sorriso, estará sempre a felicidade por ter tido o privilégio inigualável de chamá-lo de exemplo, de amigo, de pai! No meu próprio sorriso, estará sempre a centelha de um amor tão sublime, que contaminou gerações de famílias e de amigos, que inspirou vidas, que repartiu luz, harmonia e mansidão. No meu próprio sorriso, estará sempre a esperança de evoluir e ser capaz de sorrir como ele, pelo menos uma vez na vida, antes de, finalmente, poder vê-lo de novo sorrindo pra mim!

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O brilho dos meus olhos…

Raras são as vezes em que conseguimos expressar, unicamente através do nosso olhar, toda a avalanche de emoções que nos envolve. Na maior parte do tempo, essa omissão é resultado de uma escolha consciente, afinal, acreditamos ser mais fortes quando conseguimos esconder nossos sentimentos mais profundos. Sentimentos são sinais de covardia, são pontos fracos prontos para serem explorados por todos aqueles que julgamos adversários na busca de uma supremacia física, psicológica, intelectual ou emocional. Como se cada um de nós participasse de uma corrida na qual apenas o vencedor pudesse atingir a glória. Somente o primeiro fosse merecedor de reconhecimento, e somente ele tivesse o direito de ser tratado como um verdadeiro líder. Tendemos, portanto, a nos postar como pessoas alheias ao turbilhão interno que cada um vivencia a cada dia.

Mas essa postura apenas esconde uma insegurança que vai além da necessidade quase inata que temos de parecer mais fortes do que somos. Porque o sentimento de vulnerabilidade, ao invés de nos diminuir, apenas nos engrandece. Só quando nos encontramos assim, vulneráveis, é que percebemos que somos capazes de sair da nossa zona de conforto e nos prepararmos para o jogo aberto, sem personagens, sem maquiagens. Uma pessoa sensata e emocionalmente estável não é aquela que oprime seus sentimentos e emoções, mas sim a que sabe lidar com eles de uma maneira positiva, buscando autoconhecimento, compreensão e crescimento.

Entretanto, existem situações na vida nas quais tudo o que mais gostaríamos é que os nossos olhos pudessem mostrar a todos o que há de mais profundo no nosso ser. Quando queremos e imaginamos que o nosso olhar está sendo mais explícito do que qualquer palavra que pudéssemos proferir. Nesses momentos, nossas emoções são tão claras para nós mesmos, que temos a certeza de que elas estão à mostra, expostas, escancaradas. Muitas vezes isso se confirma. Mas muitas vezes não. Muitas vezes a mensagem que passamos, não é sequer próxima daquela que realmente habita em nosso íntimo.

Quisera eu poder dizer àqueles que amo, apenas com o meu olhar, o quanto me orgulho deles. Quisera eu poder dizer ao meu filho pequeno o quanto o adoro e admiro, mesmo quando o repreendo mais rispidamente. Quisera eu poder dizer ao meu filho mais velho sobre tantos e tantos momentos nos quais meu olhar não buscou esconder a imensa felicidade por tê-lo ao meu lado, por vê-lo crescer como homem, como ser humano. Desde o momento em que seu primeiro choro cessou nos meus braços, meu olhar para ele só fez brilhar. Brilhou quando o vi sorrindo pela primeira vez, balbuciando suas primeiras palavras, e arriscando seus primeiros passos. Brilhou quando ele formou timidamente o seu verdadeiro grupo de amigos, e enfrentou corajosamente as situações que o impediam de se sentir inteiro. Brilhou quando o vi feliz a cada breve instante, a cada momento em que o seu sorriso era tudo o que importava. Brilhou quando percebi que as suas lágrimas de alegria transformavam um momento já sublime, em uma experiência quase etérea de felicidade. Brilhou de orgulho quando ele mostrou a personalidade de fazer suas próprias escolhas, muitas delas na contramão do caminho escolhido pela maioria. Brilhou quando ele começou a adquirir a segurança de se permitir errar, de tentar de novo e de melhorar a cada dia. Brilhou quando percebi a firmeza de um caráter grandioso, mesmo ainda em formação, e de uma índole repleta de bondade e de carinho. Brilhou de emoção cada vez que o vi sorvendo as sábias palavras da alma mais evoluída que cruzou o seu caminho, e brilhou ainda mais quando entendi que aquelas palavras realmente haviam incutido nele a certeza do quanto era uma pessoa única, singular, especial. Meu olhar brilhou e brilha a cada dia, todo dia, a cada instante e cada vez com mais frequência.

Entretanto, sei que muitas vezes ele não pôde perceber toda a intensidade desse brilho que sempre imaginei nítido nos meus olhos. Talvez porque, entre as minhas inúmeras limitações, uma das mais graves é não possuir aquele olhar doce, límpido e cristalino que emoldurava as sábias palavras que ele teve o privilégio de ouvir por tantos anos. Sei que a comparação chega a ser injusta, pois poucas são as pessoas que conseguem fazer dos seus olhos humanos uma janela constantemente aberta para a sua alma. Mesmo assim, fico extremamente feliz com a certeza de que aqueles mesmos olhos que me inspiraram ao longo de toda a minha vida, também serão sempre um parâmetro para o meu filho. E espero que, com o passar dos anos, ele também possa perceber o quanto os meus olhos, à minha maneira, sempre estarão brilhando por ele.

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Pontos de vista…

Você é a favor da redução irrestrita da maioridade penal?
Não.

Você é a favor da redução da maioridade penal para crimes hediondos, como aprovada nesta semana em primeiro turno pelo congresso?
Sim.

Você considera correta a manobra feita pelo presidente da câmara Eduardo Cunha para votar praticamente o mesmo texto, menos de vinte e quatro horas depois de ter sido derrotado?
De forma alguma.

Mesmo lembrando que o governo, o PT e todos os demais partidos já se valeram de manobras semelhantes diversas vezes?
Mesmo assim. Uma canalhice não justifica a outra.

Você acha que essa redução vai solucionar os problemas de violência do Brasil?
De jeito nenhum.

Você acha que essa redução vai ajudar a diminuir os índices de criminalidade no país?
Não.

Você acha que essa redução vai aumentar os problemas das penitenciárias superlotadas?
Sim.

E mesmo assim você é a favor? Por que?
Porque eu entendo ser o justo. Porque eu acredito que uma pessoa de dezesseis anos que pratica um crime hediondo, não é mais apenas um adolescente indefeso à procura do seu caminho na vida.

Mas você não acha que, se ele fosse internado em uma instituição como a Fundação Casa, ele teria uma chance maior de se reabilitar?
Não. Estatisticamente, o percentual de adolescentes que praticaram crimes hediondos e se recuperaram na Fundação Casa é o mesmo que o de adultos nas penitenciárias: zero.

Ao defender a redução, você não se sente insensível aos direitos humanos, retrógrado e fascista?
Não mesmo.

E você considera os que defendem a manutenção da maioridade verdadeiros esquerdopatas, retardados funcionais e acéfalos?
Claro que não. Eles apenas têm uma opinião diferente da minha em um assunto absolutamente polêmico. Nada mais natural. Além do mais, acho que existe um consenso geral de que a única maneira realmente efetiva para que o Brasil avance nesta área é o investimento maciço em educação.

Você aceitaria ouvir e analisar argumentos contrários à sua posição sem se sentir ofendido?
Claro. Tenho feito isso o tempo todo e vou continuar fazendo.

Então por que essa indignação, essa violência verbal, esses insultos e ataques de parte a parte?
Porque hoje, e cada vez mais, as pessoas só respeitam as opiniões concordantes. As discordantes, pensam elas, vêm sempre de imbecis. Vivemos o tempo da condenação alheia em rito sumaríssimo.

Que pena!

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Reflexos…

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Deitado de bruços sobre o granito que reveste o banco da sauna a vapor do edifício onde moro, abro os olhos lentamente. Na lâmina d’água que se forma sobre a pedra, observo o reflexo distorcido do meu próprio rosto. Distorcido pela água que se movimenta a cada respiração. Distorcido porque a imagem que contemplo em quase nada se parece com aquela que costumava ver quando deitado junto à piscina que marcou a minha infância…

Era uma piscina simples, retângulo perfeito que se posicionava à frente da sede do sítio do meu padrinho. Seu deque, coberto de pedras São Tomé irregulares, tinha um caimento pequeno. Quando eu saía da piscina e me deitava sob o sol para me aquecer gostava de ver meu reflexo na lâmina d’água que se formava a partir das gotas que caíam do meu próprio rosto. O céu azul atrás deixava meus olhos na penumbra, mesmo assim eu conseguia perceber o quanto brilhavam. E eu admirava o caminho que a água percorria através dos rejuntes de cimento em torno das pedras, como pequenos rios que contornavam continentes disformes de areia batida. Muitas viagens fiz naqueles breves minutos de contemplação. Olhando para trás, acredito aqueles terem sido meus primeiros momentos de meditação. Uma meditação involuntária e natural, quando simples gotas d’água conseguiam me levar a mundos e tempos distantes. Quando o reflexo da minha própria imagem era capaz de esvaziar a minha mente. Relembro meus problemas e preocupações da época: as provas escolares tão difíceis, o relacionamento conflituoso com colegas com quem não tinha afinidade, a minha autocobrança por me sentir exemplo para meus irmãos menores. Desafios que, na época, pareciam-me quase intransponíveis. Deitado hoje, ainda consigo ouvir ao longe as conversas alegres do meu padrinho Hélio, minha tia Flávia, minha avó Bili, meus primos e irmãos, meu pai e minha mãe. É impressionante como uma simples postura pode ativar tão vividamente memórias cada vez mais longínquas. Chego a sentir a paz daquele lugar, a brisa leve sobre o meu corpo. Se levantar os olhos, sou capaz de apostar que verei as palmeiras e o caminho sinuoso que levava à entrada do sítio. É um lugar que vive dentro de mim a todo instante…

Como num piscar de olhos, vejo-me deitado à beira da piscina que testemunhou as maiores mudanças na minha vida. O revestimento agora é de cerâmica e a água preenche rejuntes retos e perpendiculares entre si. O caimento é um pouco maior e, em função disso, os rios recém formados tornam-se velozes e caudalosos, embora breves e efêmeros. Também parecem ser mais rápidos os acontecimentos vividos em torno daquele lugar. Desde o seu planejamento e sua construção, aquele passou a ser meu porto seguro, o local perfeito de encontro com a minha família. As vozes que escuto estão mais próximas e ainda mais vívidas. Meus pais, meus irmãos, minha esposa, minhas cunhadas e meus amigos. Com o tempo, somaram-se a essas os sons emitidos por inúmeras crianças. E, por muitos e muitos anos, aquele lugar acompanhou o crescimento constante do número de vozes, na mesma medida em que cresciam os primeiros cabelos brancos no reflexo visto na lâmina d’água. Aquele oásis de harmonia acompanhou a transformação de crianças em adolescentes, adolescentes em adultos, adultos em idosos, solteiros em casados, casados em pais. Acompanhou, acima de tudo, a transformação da felicidade individual em felicidade coletiva, uma vez que todos se sentiam plenos naquele lugar repleto de verde, de sol e de água. Também cresceram as árvores, dentro e em volta daquele Canto de paz. Cresceram tanto que quase interrompem a visão do lago e da trilha. Deitado hoje, no granito da sauna, ainda consigo ouvir o som de pessoas correndo e bolas sendo chutadas em direção ao gol. Gritos alegres, sorrisos e gargalhadas abertas, a começar da mais constante delas. A mais forte, a mais verdadeira, a mais contagiante. Ouço o som do pequeno sino que anunciava que o almoço estava servido, e o burburinho das conversas em torno da mesa da varanda, junto à piscina. Ouço os inevitáveis elogios ao sabor da comida que minha mãe preparara e o tilintar dos copos em um dos vários brindes do dia. As minhas preocupações e problemas não eram mais os mesmos, nem tão simples. Entretanto, assim como as provas escolares de outrora, foram sendo superados um a um, com maior ou menor dificuldade, com maior ou menor sofrimento, mas sempre com uma imensa dose de gratidão. Este lugar não apenas vive em mim. Sou eu quem vai viver nele para sempre…

De repente, volto a contemplar meu reflexo no granito da sauna. Percebo, então, que as minhas lágrimas também alimentam a lâmina d’água que reflete meu olhar. Deixo-as rolar, pois sei que as lágrimas mais valiosas são aquelas que derramo ao me perceber vivenciando o eterno. Não tenho como prever os acontecimentos, mas acredito que ainda virei a me lembrar deste exato momento em um futuro que, mesmo que seja distante, me parecerá próximo. As preocupações, os problemas, as dificuldades continuam presentes. Talvez a vida fosse sem graça sem eles. E, talvez, eles venham a me parecer, em breve, tão insignificantes quanto aqueles tantos já superados. Mas é gratificante perceber que também continuam presentes a alegria, a harmonia e a felicidade. Por isso, agradeço a Deus pelo privilégio de ainda me sentir protegido pela aura abençoada dos lugares e das pessoas que me guiaram até aqui, que ajudaram na formação da minha índole, que me indicaram uma direção a ser seguida…

Ainda contemplo meu próprio olhar na lâmina d’água sobre o granito. Não há rejuntes e, portanto, não há rios recém-formados desta vez. E a pequena lâmina d’água sob o meu rosto me remete apenas ao mar…

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Segundo desabafo…

Cansei de ler jornais, cansei de ouvir notícias, cansei de procurar me informar sobre o que acontece no país. Cansei de imaginar como deveriam ser as atitudes dos nossos políticos. Cansei de ler emails partidários e tendenciosos, falsos ou verdadeiros. Cansei de tentar entender quais são os caminhos para que o Brasil possa voltar aos trilhos. Cansei até de tentar me colocar na posição das pessoas cujas ideologias divergem inteiramente das minhas. E cansei porque não vejo mais sentido algum nisso. Cansei porque não enxergo uma saída, não vejo a luz no fim do túnel. Eu, que sempre fui um otimista por natureza, não consigo vislumbrar um porto no qual o navio à deriva chamado Brasil possa atracar.

Não temos governo, não temos congresso, não temos situação e nem oposição. Todos trabalham única e exclusivamente em prol de si mesmos. O governo é inacreditavelmente incompetente e altamente corrupto. Na bonança, seus líderes são os primeiros a se vangloriar de seus supostos feitos, inéditos na história do país. Nas dificuldades, são os primeiros a querer fugir da raia, a abandonar o barco, como se responsabilidade alguma tivessem na situação caótica na qual o país se encontra hoje. Quebraram deliberadamente o Brasil para que pudessem ganhar uma eleição. E a atual oposição fez exatamente o mesmo há dezesseis anos, então ela também não tem moral alguma para criticar essa postura agora. Poderia criticar sim a condução da economia, o intervencionismo absurdo do estado, a limitação do livre mercado, mas até isso cai por terra quando ela vota a favor de medidas populistas e retrógradas apenas para se colocar contra o governo. É o quanto pior melhor para quem está na oposição. E o país? Isso não importa. Tampouco importa para a situação, pois o que vale é se manter no poder, a qualquer custo. Literalmente, a qualquer custo!

Não há coerência, não há ideologia, e não há um mínimo de vergonha na cara de nenhum deles. Planejamento em longo prazo? O mais longe que eles conseguem vislumbrar é a eleição seguinte. Por isso, ninguém investe pra valer na educação básica, na preparação intelectual e cultural das novas gerações, na capacitação de um sistema de ensino que priorize o aprendizado, e não apenas números e estatísticas que só servem para ser arrotados com arrogância nos debates de televisão, ou nas propagandas pagas com o nosso dinheiro. Um sistema corrompido, no qual só se alcança o cargo almejado aquele que já tenha se vendido, aquele que já faça parte do esquema. Um sistema podre e viciado, de cartas marcadas, e que ninguém quer combater de verdade. Quando o atacam, é um falso combate que não passa de pura demagogia.

PT, PSDB, PMDB, PSB, PDT, PSOL, PCB, e todos os incontáveis P’s existentes no país só sabem legislar em causa própria. Não existe altruísmo de parte alguma, em momento algum. Quando não movidos por interesses escusos, usam o nome de Deus para justificar seus despautérios. Outras tantas vezes, se declaram defensores das famílias ao se recusarem a perceber que o mundo hoje não é o mesmo do início do século passado. Que família eles pensam estar defendendo? Certamente não as famílias unidas pelo amor. São, portanto, corruptos, egoístas, alienados, e voltados apenas para os seus próprios interesses. E o que realmente desanima é que são esses senhores e senhoras, homo, homens e mulheres sapiens, que detém nas mãos os rumos de uma nação absolutamente privilegiada, em praticamente todos os sentidos!

Por tudo isso, devo admitir, estou cansado e desmotivado. Vou concentrar minhas forças em tentar fazer o meu melhor a cada dia, junto aos meus colegas, amigos e familiares. Não que eu já não fizesse isso, mas não vou mais perder meu tempo e meu humor com pessoas cuja falta de caráter nada mais é do que uma característica comum a todos. Sei (ou, pelo menos, imagino) que existem no planalto e nas demais esferas governamentais pessoas de bem. Por motivos óbvios, não estão ocupando nenhum cargo relevante na câmara, no senado ou no executivo. Mas devem existir com certeza. Mesmo assim, não me arrisco a apontá-los. Espero apenas que eles se unam um dia, e que possam comandar uma verdadeira revolução no país e para o país. Que, pela primeira vez em muitos anos, mesmo que não seja reconhecido em um primeiro momento, alguém no Brasil possa voltar a ter orgulho de ser um político. E que não demore muito, para que a gente possa ainda ter, pelo menos, um futuro com o qual sonhar.

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Primeiro desabafo…

Sempre me considerei um cara de mente aberta! Pelo menos, era o que eu pensava. Sou inteiramente a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Acho absolutamente natural e legítimo que todos busquem a sua própria felicidade, da forma e ao lado de quem bem entenderem. Sou a favor da descriminalização das drogas. Não acho que a legislação vigente hoje, que pune o usuário, seja eficiente no combate ao tráfico e à criminalidade. Sou a favor da descriminalização do aborto. Não o aprovo, mas acho que cada pessoa deve ter o direito de ser responsável pelas suas próprias decisões. Nunca julguei as pessoas pela cor, pela opção sexual, pela roupa, pela posição social ou pelas suas escolhas. Sempre achei que, na vida, mais do que o certo e o errado, o que conta mesmo são seus atos e as consequências deles. E que cada um busque ser feliz em paz com a sua própria consciência.

Mas agora descobri que não sou tão mente aberta assim. Pois não me entra na cabeça, por mais que eu me esforce, razões que possam levar diversas pessoas que considero inteligentes, cultas e esclarecidas, a defender, elogiar e justificar as ações tomadas pelo governo da atual presidente. Por mais que eu busque, não consigo enxergar pontos positivos que superem toda a incompetência, o despreparo, a manipulação, o aparelhamento e a corrupção em massa que marcaram essa administração nos últimos quatro anos! Entendo que realmente não dispomos de nenhum grande nome como alternativa, mas achar que estamos no caminho certo, é demais para a minha capacidade de discernimento. Por isso, cheguei à conclusão de que estou longe de ser o cara descolado que pensava ver diariamente no espelho. Talvez o problema seja eu mesmo mas, de qualquer forma, descobri que, neste ponto da minha vida, isso não me incomoda nem um pouco!

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Neste dia de domingo…

Pela primeira vez na minha vida, este é um domingo sem planos. Não há compromissos inadiáveis para o almoço, não há cartões a serem escritos com antecedência, não há flores a serem encomendadas, e não há busca por palavras jamais ditas, na tentativa de agradecimento por um amor jamais restrito.

Pela primeira vez na minha vida, este é um domingo sem encanto e sem magia. Um domingo cinza e chuvoso, mesmo com o sol brilhando lá fora.

Pela primeira vez na minha vida, este é um domingo carente de abraços. Na verdade, carente daquele colo e daqueles braços.

Pela primeira vez na minha vida, a alegria deste domingo foi substituída por uma enorme saudade e, no lugar da expectativa de encontrar dois olhos marejados de emoção com a minha chegada, está a certeza de que são as minhas lágrimas que irão rolar por uma ausência particularmente doída hoje, neste dia de domingo.

Pela primeira vez na minha vida, nada do que já foi dito em um domingo me parece bastante, e tudo o que escrevi nos domingos anteriores me sufoca pela inexatidão e pela insuficiência.

Pela primeira vez na minha vida, este domingo mostra a dimensão da falta que me faz aquele carinho, aquele olhar, aquele beijo, aquele toque.

Pela primeira vez na minha vida, o som de uma voz doce e carinhosa é a única música que eu gostaria de ouvir neste domingo.

Pela primeira vez na minha vida, este é um domingo que me faz ansiar pela segunda.

Pela primeira vez na minha vida, este domingo festivo para tantos não me chama pra festa, e as lembranças de todos os outros domingos me arrebatam e me consomem.

Pela primeira vez na minha vida, resta o alento de que muito foi vivido nos domingos passados, incontáveis sorrisos, cada um dos inúmeros brindes, cada emoção compartilhada.

Pela primeira vez na minha vida, percebo que o meu amor por ela continua crescendo, da mesma forma como sempre cresceu a cada ano, a cada domingo.

Pela primeira vez na minha vida, posso sentir sua força e sua ternura, mesmo sem sua presença neste domingo.

Pela primeira vez na minha vida, sei que as silenciosas declarações de amor que eu fizer neste domingo, chegarão sussurradas diretamente aos seus ouvidos.

Pela primeira vez na minha vida, consigo visualizar seu rosto se iluminando neste domingo, sua boca se abrindo em um sorriso nostálgico, e seus olhos derramando lágrimas de saudade, mas também de agradecimento pela absoluta felicidade vivida ao longo de tantos anos, de tantos momentos, de tantos domingos…

Por isso, pela primeira vez na minha vida, embora cercado por mães maravilhosas, a começar da luz que, junto aos meus filhos, são as maiores bênçãos com as quais eu poderia sonhar, vou me permitir dedicar cada hora deste domingo àquela que sempre considerou essa a data mais aguardada do ano. Àquela que fez da missão de ser mãe o objetivo maior da sua própria vida. Àquela que, não contente com seus quatro filhos, acolheu a todos com o mesmo espírito maternal inerente à sua personalidade, tornando-se assim, mãe de todos. Àquela que fez da sua passagem física por este plano, uma inesgotável fonte de crescimento para a sua alma. Àquela que me acalentou, guiou, orientou, protegeu, abençoou e amou como ninguém mais foi capaz nesta vida. Àquela que sempre foi o tronco forte e a base sólida para a construção de uma família repleta de harmonia, de amor, de tolerância, e de felicidade plena.

Que me perdoem todas as mães mas, pra mim, hoje, pela primeira vez na minha vida, este domingo é só seu, minha querida, meu amor, minha mãe!

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