Exemplos e exemplos…

Hoje, no dia em que o marqueteiro das campanhas do PT foi preso, acho oportuno publicar neste blog um texto que escrevi em outubro de 2014, logo após a reeleição da atual presidente. Reeleição que jamais teria ocorrido se não tivesse sido criado, pelo famoso “Feira”, o Brasil de conto de fadas que adornava os programas petistas (e ainda adorna, acreditem). Era o auge do sucesso e da competência do marketing do Sr. João Santana. Mas, pelo menos da minha parte, a admiração pelo seu trabalho nunca existiu…


Meu filho me perguntou hoje quais são as profissões mais lucrativas atualmente. Ele está naquela fase da vida em que as escolhas parecem ainda mais difíceis do que realmente são. Quando cada passo que se dá, é analisado mais sob a ótica imposta pela sociedade do que pela sua própria visão de mundo. Mesmo porque, aos treze anos de idade, a sua visão de mundo ainda se encontra longe de estar formada, embora esteja, para a minha satisfação, promissoramente encaminhada.

Imediatamente lhe disse que isso não era importante. Que o que importa é que ele venha a fazer o que gosta e realize o seu trabalho com amor e dedicação. Que, ao materializar de forma bem feita as suas próprias aptidões, ele encontrará certamente reconhecimento e realização pessoal. E que isso é essencial para que ele possa ser realmente feliz!

Pensei, então, em ilustrar minha retórica com exemplos próximos. Seu tio maestro foi, naturalmente, a escolha mais óbvia. Afinal, quantas orquestras existem hoje no Brasil? Qual é a chance real que um jovem tem de se destacar em um ramo com tão poucas oportunidades? Mas essa dúvida não o impediu de trilhar o seu caminho, pois o que ele sempre buscou foi o seu sonho, a sua realização pessoal, a sua vocação. E quando vocação, talento, dedicação, honestidade e comprometimento se juntam, não há como não se obter sucesso.

Meu filho pareceu ter ficado feliz com a resposta, embora eu também tenha lhe dito que são raras as vezes em que um jovem tem maturidade suficiente para reconhecer sua vocação tão cedo na vida. Mas que tudo viria a seu tempo, desde que ele fosse sempre fiel aos seus princípios!

Entretanto, quisesse eu, poderia ter lhe dado exemplos bem menos inspiradores. Pelo menos no Brasil de hoje, se existe uma atividade que realmente se destaca, essa atividade é o marketing. Não o marketing positivo, que tem por objetivo valorizar as qualidades reais daquilo que se anuncia. Mas o marketing que engana, que transforma, que deturpa. Que pode fazer uma mesma frase ser ouvida como solução ou como problema, dependendo de quem a diz. Que é capaz de transformar defesa em ataque agressivo, questionamento em ironia, proposta em atentado às conquistas obtidas. Que consegue transformar uma pessoa despreparada, inexpressiva e com seríssimas limitações intelectuais, em líder competente, atuante, interessada e de coração valente. Que consegue, por incrível que pareça, mesmo depois de desmascarada sua personagem, ainda fazer com que milhões de pessoas achem que o crime estava em quem a mostrou de verdade, e não no próprio ato de deturpação das suas reais características. Quanta competência, quanto preparo e quanto sucesso financeiro tem hoje esse profissional de marketing. Estamos hoje em suas mãos! Mesmo assim, jamais o usaria como exemplo pois, na minha opinião, lhe falta um atributo que eu considero fundamental para que meu filho seja realmente feliz na sua futura escolha de vida: a verdade!

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Chega de idolatria…

Cada um tem direito de acreditar no que quiser. Assim como tem todo direito de se manter fiel às suas ideologias e aos seus posicionamentos. Mas eu realmente não consigo compreender a força da lavagem cerebral a que são submetidos os seguidores do partido da estrela vermelha. É inacreditável que eles continuem afirmando que não existe crise no Brasil. Que essa ideia foi plantada pela elite para que as empresas pudessem justificar a dispensa indiscriminada de trabalhadores. E que a prova disso é que os shoppings estavam todos lotados no Natal. Não adianta mostrar os dados oficiais que indicam que um milhão e meio de empregos foram perdidos só no ano passado, que cem mil lojas foram fechadas, que milhares de indústrias pediram recuperação judicial, e que esta é a pior recessão da economia desde 1930. Não, tudo isso é culpa da elite, que não suporta ver pobres nos aeroportos.

Para eles, a Lava Jato é uma farsa montada para acobertar a corrupção dos tucanos. E a PF é inteiramente controlada pelo PSDB. Sim, aquele mesmo PSDB que está fora do governo federal há mais de treze anos. Fico realmente impressionado com o poder que tem esse partido. Só não conseguiu ganhar as quatro últimas eleições, mas quanto ao resto, não há nada que não consiga fazer. O juiz Sérgio Moro trabalha para a CIA e tem o objetivo de minar a Petrobrás e entregá-la a preço de banana para o imperialismo americano. Sério? As delações e suspeitas (quase evidências) contra o Lula são uma tentativa de macular a imagem do maior estadista que este país já teve. Mas basta que o mesmo delator mencione um nome da oposição, para que essa última suspeita passe a ser considerada absolutamente verdadeira. O triplex e o sítio jamais pertenceram ao Lula porque as escrituras e contratos assim o provam. Mas quanto à mansão dos Marinho em Angra, também em nome de outros e igualmente envolvida em suspeitas, já não há qualquer dúvida quanto aos crimes cometidos. O mesmo se aplica a qualquer membro da oposição. Será que eles não veem o menor traço de incoerência nessas atitudes?

Eles sempre encontram justificativas para tudo. Os politicos presos? Injustiçados e condenados sem provas. Verdadeiros heróis do povo brasileiro! O desastre econômico no governo Dilma? Estamos muito melhores do que na época do FHC! Epidemia de Zica? Há indícios fortes que estamos sendo vítimas de um ataque biológico perpetrado por aqueles que querem desestabilizar o país para tomar à força o nosso pré sal. A imagem do Brasil lá fora? Nunca fomos tão independentes e tão respeitados. A volta da CPMF? Só a elite não quer pois vai dificultar a sonegação de impostos. A imprensa? Toda comprada e cúmplice de uma tentativa de golpe. Exceto, claro, os repórteres e blogs “independentes e imparciais” que são sempre os primeiros a afirmar, sem nenhuma investigação, que todos os envolvidos do ParTido são inocentes. Críticas à incapacidade da presidente? Não passam de comentários sexistas e misóginos. Quando uma gravação não deixa dúvidas sobre as falcatruas praticadas por um de seus políticos? Ele nunca foi petista, sempre foi um PSDBista infiltrado! Quando alguém pergunta sobre o retrocesso visível em todas as áreas? Esse não passa de um coxinha, paneleiro, leitor de Veja e eleitor de Aécio! Bom, desisto!

Por mais absurdos que pareçam, nenhum desses “argumentos” foi inventado por mim. Estão à disposição para quem quiser ler nos blogs, nos perfis, nas redes sociais, e até na boca de muitos jornalistas da grande mídia, aquela mesma acusada por eles de golpista. Cansei de ouvir bobagens como essas ao (tentar) conversar com os defensores do PT. O pior é que sempre sou acusado por eles de me comportar da mesma forma em relação aos partidos de oposição. Pois aqui vai (mais) uma declaração pública: eu queria ver todos os políticos corruptos na cadeia. De qualquer partido! Fico tão feliz ao ver condenado o Eduardo Azeredo quanto fiquei ao ver o José Dirceu. Se provados os crimes, ficaria radiante ao ver o Lula e o Aécio na mesma cela. Os Marinho e o Paulo Henrique Amorim em outra. Não é possível que esse povo não consiga entender que estamos todos no mesmo barco, e que o barco está afundando! Não é mais uma questão de amor ao Brasil. Não é mais uma questão de patriotismo. Não é mais uma questão de ideologia. É uma mera questão de inteligência!

Jamais cogitaria a hipótese de defender quem quer que fosse na classe política brasileira, muito menos antes de concluída qualquer investigação. Meus presidentes favoritos foram assim escolhidos pelas ações tomadas em prol do país e, mesmo assim, não me arriscaria a defender a índole e a honestidade de qualquer um deles. Não os conheci a esse ponto. Nenhum deles foi, é ou será um ídolo pra mim. Na verdade, não creio que algum político mereça ser assim considerado. Ídolos deveriam ser exemplos de caráter. Pelo menos, assim sempre foram os meus. Além do mais, na política, não precisamos de outros ídolos. Precisamos sim, mais do que nunca, de novos e verdadeiros líderes. Que não sejamos, portanto, meros seguidores e defensores dos nossos políticos. Mas cidadãos com senso crítico e com discernimento suficientes para cobrarmos competência, coerência e atitude de quem nos dispusermos a eleger!

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O setor mais próspero do país…

A cliente chega em frente ao balcão de atendimento da grande loja. O espaço é imenso, bem montado, e tem gente entrando e saindo o tempo todo. Apesar do grande número de pessoas, todas são atendidas rapidamente. Tudo funciona tão bem que parecem existir mais atendentes do que clientes. Chegada a vez dela, diversos funcionários aparecem para recebê-la. Que empresa eficiente, ela pensa.

Todos os funcionários estão impecavelmente uniformizados, trajando camisas pretas e calças com pequenas listras brancas. Todos têm também o mesmo biotipo: altos, muito magros e com a mesma voz constante e irritantemente unitonal. A cliente releva esse ponto e fica encantada com a presteza de todos.

– “Bom dia, senhora! Como podemos ajudá-la?” Perguntam três deles ao mesmo tempo.
– “Antes de qualquer coisa, gostaria de parabenizá-los pela loja. Passo por aqui sempre e nunca tinha reparado. Ficou pronta há muito tempo?”
– “Obrigado, senhora.” Responde um deles. “Começamos há bastante tempo mas temos prosperado rapidamente. Esta loja aqui era apenas uma portinha há alguns meses. Hoje, já estamos pensando em ampliar.”
– “Que coisa boa ver um segmento prosperar tanto nestes tempos de crise.”
– “Crise é uma palavra que não existe no nosso vocabulário. A cada dia, crescemos mais. Só para a senhora ter uma ideia, há pouco mais de um ano, entregávamos apenas um produto. Hoje, já são três. E não vamos parar por aí.”
– “Estou impressionada!”
– “E o nosso crescimento foi maior ainda no número de entregas. Em alguns lugares, crescemos mais de cem vezes.”
– “Puxa, parabéns mesmo!”
– “Obrigado, e desculpe-me por ficar aqui me gabando. O que posso fazer pela senhora?”
– “Bom, eu recebi uma intimação pra vir aqui. Parece que eu fui sorteada e tenho que escolher uma entre três opções de prêmios. Será que você poderia me mostrar quais são?”
– “Claro! Que sorte a sua. A maioria das pessoas não tem a chance de poder escolher. Na verdade, as nossas opções são até similares. Eu, por exemplo, posso entregar à senhora dores de cabeça, febre alta, dores nas articulações e manchas vermelhas. Meu colega aqui, além de tudo isso, pode lhe fornecer uma artrose e uma coceira quase insuportáveis. E o nosso funcionário novo ali à esquerda é o responsável pela distribuição de um bônus imperdível. A senhora por acaso está grávida?”
– “Estou sim, de dez semanas.”
– “Excelente! Esse é o período ideal. Como já ia lhe dizendo, ele está distribuindo um bônus especial a todos os bebês: uma microcefalia absolutamente grátis. Essa opção é a nossa maior atração no momento. Estamos muito orgulhosos.”
– “Nossa, mas são muitas opções. E vocês são muito organizados. Só existe este ponto de distribuição na cidade?”
– “De forma alguma, senhora. Temos, pelo menos, um ponto de distribuição por bairro. Em algumas localidades, estamos com dois ou mais pontos em cada quarteirão. Obrigado pelos elogios. Estamos trabalhando bastante para conseguir atender a todos.”
– “Eu já tinha ouvido falar de vocês. O funcionário novo se chama Zica, não é?”
– “Não, senhora. Zica é apenas o nome de um dos três produtos que entregamos.”
– “Puxa, perdoe-me pela ignorância.”
– “Imagina, até o ministro da saúde tem dificuldade em entender como o processo funciona.”
– “Bom, eu estava pensando em ficar com o bônus. Mas será que isso não poderá fazer mal para o meu bebê? Ele não poderia ficar diferente dos outros?”
– “Não se preocupe, senhora. Hoje, no país, as pessoas com cérebro pequeno são muito mais comuns do que a senhora imagina. O maior exemplo está na presidência.”
– “Mas ela é péssima! Não sei como conseguiu ser eleita.”
– “Pois é. E a senhora achando que gente com cérebro atrofiado era a minoria…”

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O motor e o barco…

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Há exatamente cinquenta anos, um homem e uma mulher decidiram caminhar juntos. Ela, já com trinta anos de idade, era também três anos mais velha do que ele. Fatos raros na época, e que já demonstravam o quanto essa união sempre esteve à frente do seu tempo. Ele, recém-formado em Direito, depois de anos difíceis trabalhando durante o dia e estudando à noite, não tinha ainda como exercer sua profissão pois era seu emprego como bancário que lhe garantia o sustento. Ela, que passara a sustentar sua mãe com apenas treze anos de idade, jamais teve a oportunidade de cursar uma faculdade. Compensou essa lacuna sendo uma leitora voraz, curiosa e obstinada. Tudo lhe interessava e acabou adquirindo uma cultura admirável, tanto que poucos acreditavam que não tinha chegado a cursar sequer o ensino médio.

Tendo que se virar sozinha desde cedo, ela sempre fora uma guerreira, uma mulher determinada que buscava seus objetivos e que sabia se impor junto aos seus colegas de trabalho, majoritariamente homens. De temperamento diferente, embora tendo enfrentado quase as mesmas dificuldades, ele sempre se distinguira por ser a personificação da doçura. Perspicaz ao extremo, sempre foi consciente do quanto os argumentos eram mais poderosos do que os brados. Assim, se completavam. Ela era o motor. Ele, o barco. E começaram a navegar juntos pelos rios de suas vidas.

Após o casamento ocorrido há cinquenta anos, ela lhe pediu que largasse o emprego e começasse a exercer a profissão pela qual tanto batalhara. Mesmo relutante, foi o que ele fez. Sempre determinada, sustentou a casa sozinha até que ele encontrasse seu caminho profissional. Foi o primeiro dos inúmeros momentos em que ela o levaria, com amor e firmeza, a crescer e a evoluir ainda mais. Eles já se conheciam bem. Ambos vinham do interior. Foram amigos antes de serem amantes. Curtiram fossas amorosas juntos. E adoravam praticar esportes. Órfã de pai desde os sete meses, ela recebeu como primeiro presente dele seu próprio pai, que a adotou como filha. E assim passou a chamá-lo até o fim da vida: paiê. Em retribuição, ela lhe emprestou sua mãe, e foi essa quem deu a ele o carinho maternal que não conhecera na infância, não pela ausência, mas sim pelo temperamento mais sisudo que caracterizava sua mãe.

Seguiram pela vida afora, enfrentaram dificuldades, perderam muitas de suas referências e ganharam outras. Caíram muito, mas sempre se levantavam logo depois. Choraram muitas vezes, mas sorriam muito mais. Tiveram quatro filhos. Quatro homens que ele costumava chamar de seus quatro cachorrões. Quanto carinho e orgulho estavam evidentes naquela brincadeira. Ela sabia que havia nascido para ser mãe e fez dessa tarefa a grande missão da sua vida. Distribuiu amor incondicional, deu limites, foi severa quando preciso, foi meiga e suave a todo instante. Além dos filhos, sempre foi mãe também dos amigos, das namoradas, e principalmente das esposas. Soube transcender como poucas o conceito de maternidade. Ele, guiado pela força de sua companheira de vida, cresceu profissionalmente e pôde propiciar à sua família educação, cultura e lazer. Guiado pela força de sua companheira de alma, cresceu ainda mais como ser humano. Seu olhar se tornou mais doce, suas palavras mais profundas, seu sorriso mais espontâneo, sua alegria mais contagiante, sua sabedoria mais avassaladora.

Nunca tiveram muitos bens materiais, mas sempre foram riquíssimos em amor, em paz, em cumplicidade, em tolerância. Tão forte foram os seus exemplos que a felicidade sempre fez parte daquela família, e sempre fez parte também das famílias que dela se originaram. Mesmo os momentos tristes não eram decorrência da ausência de felicidade. Eles entenderam e mostraram a todos que ser feliz não é um objetivo, é simplesmente a forma como alguém escolhe caminhar. Não é um fim, é todo o meio.

Jamais passaram despercebidos. A cada ano juntos, angariavam um número maior de amigos, de admiradores, de pessoas que se perguntavam como era possível uma família tão numerosa viver em tamanha harmonia. Foram amantes, cônjuges, pais, avós, amigos. Viveram e ensinaram com as palavras e com o silêncio, com mansidão e com persistência, com amor e com mais amor ainda. E foi assim que navegaram pelos rios que a vida lhes proporcionou. Chegada a hora de um deles ir embora, não havia como o outro continuar navegando. Quando o motor deixou de funcionar, o barco já não podia ir muito longe. Na verdade, àquela altura, motor e barco eram um só, absolutamente indissociáveis. Três meses apenas foi o tempo em que permaneceram afastados.

Durante muitos e muitos anos, o dia de hoje foi acompanhado de sorrisos, de abraços, de beijos, de brindes, e de um cartão escrito em nome dos quatro cachorrões. E, durante muitos e muitos anos, os quatro cachorrões sonharam poder comemorar as Bodas de Ouro dessa união iluminada. Planejaram fazer uma grande festa, repleta dos amigos cujas vidas foram tocadas de forma definitiva pelo amor e pela bondade de cada um deles. Teria sido difícil encontrar um lugar onde coubessem todos juntos. Uma celebração a um casal que guiou, que abençoou, que orientou, que amou e que viveu intensamente. Por pouco isso não foi possível…

Hoje, no lugar dos sorrisos, dos abraços, dos beijos e dos brindes, fica a inevitável constatação de como aquela jornada fez bem ao mundo. Fica, portanto, a imensa felicidade por ter sido testemunha do brilho daquela união que começou, pelo menos neste plano, há cinquenta anos. Parece muito tempo mas passou como um piscar de olhos. Hoje, no lugar de um cartão que os faziam chorar de emoção, há somente o pranto transformado em palavras. E não há palavras, não há pranto, não há nada que possa descrever a falta que eles fazem. Hoje, sei que eles estão juntos comemorando essa data tão especial. E estão caminhando da forma como sempre fizeram, ao longo de toda a vida. Da forma como aprenderam a fazer desde que eram apenas amigos. Hoje, eles estão caminhando de mãos dadas.

E posso dizer que hoje, por um breve instante, a alma do cachorrão número um foi caminhar com eles!

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A amnésia do homem mais honesto do Brasil…

O homem mais honesto do Brasil sempre teve um problema de memória, e isso não é de hoje. Sempre foi péssimo fisionomista, e se esquecia instantaneamente das pessoas que indicava para os cargos comissionados do seu governo. Sempre foi extremamente altruísta, tanto que costumava contemplar desconhecidos com cargos estratégicos nas maiores estatais brasileiras. E isso sem pedir nada em troca, pelo menos nada de que ele pudesse se lembrar. Como se esquecia facilmente de tudo, deixou até de prestar atenção ao que acontecia à sua volta. Seus assessores, seus companheiros e amigos próximos se envolviam com todo tipo de corrupção, mas o homem mais honesto do Brasil não percebia. Mesmo porque, se tivesse percebido, certamente não teria se lembrado. As falcatruas dos companheiros lhe proporcionaram governabilidade, lhe forneceram recursos ilimitados para suas campanhas, lhe deram condições de agir com a liberdade que sempre quis. Os amigos foram sendo presos e condenados, mas o homem mais honesto do Brasil só conseguia ficar cada vez mais indignado. Nada mais natural, afinal, ele não era capaz de se lembrar sequer de um leve desvio de conduta por parte de qualquer um deles. Com uma memória tão falha, ele sempre dizia que precisava anotar tudo, para que pudesse se lembrar mais tarde. Mas o problema continuava porque ele nunca sabia onde mantinha guardados os seus apontamentos. Com o tempo, esqueceu-se definitivamente de fazer anotações e, desde então, qualquer registro dos seus atos deixou de existir. Às vezes não imaginamos como a vida pode ser tão dura. Até mesmo a vida do homem mais honesto do Brasil!

Cientes dos problemas vividos pelo homem mais honesto do Brasil, seus amigos leais jamais citavam seu nome. Negavam as acusações sofridas ou assumiam sozinhos a responsabilidade pelos atos dos quais haviam sido acusados. Não queriam trazer problemas ao amigo de longa data, principalmente quando esse amigo era, simplesmente, o homem mais honesto do Brasil. Um homem cada vez mais limitado diante de um problema neurológico tão sério. E assim, sem os estímulos necessários, o homem mais honesto do Brasil cada dia se lembrava menos das coisas.

Hoje, o problema de memória do homem mais honesto do Brasil atingiu um estágio crítico. Mesmo com toda sua falta de memória, ele sempre conseguia voltar para casa sozinho. Sabia seu endereço, sabia onde morava. Mas agora, o homem mais honesto do Brasil está perdido. Ele não se lembra sequer do seu apartamento no Guarujá. Não se lembra que comprou armários novos, que instalou um elevador privativo, que trocou o piso, que construiu um novo espaço gourmet na cobertura. Não se lembra que sua esposa já levou quadros, escolheu as cores das paredes e das portas, que decorou o apartamento com todo esmero só para que ele pudesse relaxar e assim, quem sabe, recuperar parte de sua memória perdida. Mas o problema está só piorando.

Até mesmo do sítio no interior, onde ele e sua família passam os fins de semana há muitos anos, o homem mais honesto do Brasil se esqueceu. Um lugar que já foi palco de festas, de encontros, de receber amigos e companheiros, hoje parece ser completamente estranho para o homem mais honesto do Brasil. Claro que a impossibilidade de contar com a presença de tantos amigos encarcerados pode ter contribuído para a aceleração do processo degenerativo que afeta, tão fortemente, a sua memória. Mas, mesmo sem ter como se lembrar, tenho certeza de que o homem mais honesto do Brasil sente falta de ver aquele sítio repleto de pessoas desconhecidas, ou daquelas cujos nomes ele não conseguia se lembrar. Afinal, o que ele sente falta mesmo é da grande farra que sempre acontecia.

Minha preocupação maior hoje, mais do que a saúde do homem mais honesto do Brasil, é que uma parte importante da memória deste país possa estar correndo o risco de se perder. E seria uma grande lástima se isso viesse realmente a acontecer. Felizmente, existem indícios, cada vez mais contundentes, de que o homem mais honesto do Brasil possa vir a se consultar com um dos maiores especialistas em memória hoje no país. Seu consultório em Curitiba está mais movimentado a cada dia, e é impressionante como as pessoas passam a se lembrar de quase tudo depois de uma única consulta. Acho que essa será a última esperança para que o homem mais honesto do Brasil possa recuperar a sua memória. Entretanto, se, mesmo assim, ele não conseguir se lembrar de nada, espero apenas que o povo brasileiro jamais se esqueça dele!

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Um dia, há um ano…

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Não me lembro do que vi quando abri meus olhos pela primeira vez. Não sei qual foi a minha primeira imagem. Não me lembro qual foi o primeiro som que ouvi. De quem foi a primeira voz. Não me lembro do que primeiro me fez sorrir, ou me fez chorar. Mesmo agora, depois de tantos anos, não poderia apontar qual foi a maior alegria já vivenciada, qual a maior frustração, qual o maior susto. Não saberia dizer qual dos nascimentos dos meus filhos me trouxe maior felicidade, ou qual dificuldade me causou as maiores preocupações. Ao longo de uma vida, até mesmo os momentos mais marcantes dificilmente conseguem ser mensurados.

Posso afirmar, entretanto, que, há exatamente um ano, vivi o momento mais triste de toda a minha vida. Apenas três meses depois de me despedir daquela que fez do seu amor o alicerce para a felicidade de toda uma família, um telefonema materializava o medo de anos a fio. Naquele telefonema, o instante em que se percebe a própria vida em toda a sua brevidade. O instante em que se percebe que o abraço esperado não iria acontecer, que o beijo não teria reciprocidade, que as lágrimas iriam rolar em apenas um dos rostos. O instante em que se percebe que palavras e sorrisos ficaram apenas no meu coração, que a doçura de um olhar passara a ser a minha mais preciosa lembrança, que chegara a hora da melhor pessoa deste mundo iluminar planos bem mais elevados.

Eu não estava por perto, pai, e sei muito bem o que você teria me dito se eu estivesse com você naquele momento. Sei o quanto você tentou ficar, o quanto tentou atender ao pedido que lhe fiz naquela noite em que nossos olhos transbordavam lágrimas, e nossas mãos permaneceram entrelaçadas por um tempo ainda maior que o habitual. Eu não tinha o direito de lhe pedir algo que não estava ao seu alcance, pai. Mas, para mim, você sempre esteve tão acima das leis que regem o universo, que pensei que pudesse ser capaz de controlar sua própria hora de partir. Perdoe-me por ter lhe feito aquele pedido, pai. Perdoe-me também por não ter estado ao seu lado no momento em que você percebeu de vez que não iria conseguir me atender. Perdoe-me por não ter lhe dado a chance de me dizer o quanto você tentou. Mas eu sempre soube, pai. Perdoe-me por não ter conseguido voltar logo, como você tão carinhosamente me pediu. Perdoe-me por não ter lhe dado os últimos beijos e abraços, com a exata consciência do significado que eles teriam para você, e também para mim. Perdoe-me por não ter percebido o quão completa já estava a sua missão aqui ao nosso lado.

Hoje, pai, um ano depois do dia mais triste da minha vida, terei você na minha mente mais ainda do que em todos os outros dias. Sua doçura, sua alegria, sua serenidade, sua paz estarão ainda mais presentes. Farei de suas palavras, ditas ou escritas, minhas próprias palavras no dia de hoje. Meu amor por você, alçado há tempos a uma condição inalcançável de veneração, estará ainda mais nitidamente estampado no meu olhar. E o dia 19 de janeiro será muito mais do que apenas uma data triste a ser relembrada. Muito mais também do que uma data a ser celebrada, afinal, ela marcou o término de uma jornada inspiradora, iluminada, e que, por tanto tempo, tocou e transformou a vida de tantas pessoas. Este 19 de janeiro, pai, será lembrado como o dia em que o Rio mais lindo e fértil que conheci finalmente se encontrou com o Mar que ansiosamente o aguardava. E, desde então, Rio e Mar são um só… para sempre.

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A Lula o que é de Dilma…

Perdi a conta de quantas vezes critiquei a falta de capacidade administrativa da atual presidente da República. Estou certo de que não existem registros na história política brasileira de uma governante tão incapaz, tão limitada, tão inexpressiva, tão incompetente. Uma pessoa com idéias econômicas ultrapassadas, que está promovendo o maior retrocesso fiscal já visto na história deste país. Nunca houve um gestor tão negligente, que, ainda hoje, só toma a iniciativa de começar a considerar a remota possibilidade de alguma pequena alteração de rumo, depois que o desastre já foi feito, depois que a porteira já foi arrombada. Nunca retrocedemos tanto no tempo. Nunca voltamos tantos degraus de uma escada em que cada passo para cima leva anos para ser dado. Nunca houve um encolhimento desta magnitude por um período tão prolongado. Encolhimento devido exclusivamente a uma matriz econômica desastrosa, populista, inflacionária, recessiva e inconsequente. Essas são “conquistas” inquestionáveis que o governo Dilma levará consigo ao longo da história (a não ser, naturalmente, que a nova ordem curricular mude por decreto o que deveria constar em todos os livros daqui por diante).

Entretanto, por maior que seja sua incompetência, a presidente não é o personagem central de toda essa história. Ela é apenas um fantoche, uma caricatura de gestora fabricada por uma competente equipe de marketing. Central mesmo é o mentor do assalto ao país. Aquele que enxerga o Brasil e suas instituições como seus brinquedos particulares. Que se sente livre para interferir em todos os aspectos da nossa sociedade. Que, fazendo jus ao seu nome, tem a capacidade de infiltrar seus tentáculos em todas as esferas da administração federal, em todas as autarquias, em todos os órgãos públicos, em todas as estatais, e até em grandes empresas privadas. Que, tal qual o personagem de Charles Chaplin em “O Grande Ditador”, brinca com seu balão verde e amarelo (ou seria vermelho?) até estourá-lo no final. A diferença é que o Brasil explode sempre nas mãos dos outros, nunca nas mãos dele. Ele nunca é o responsável por nada de mal. Ao contrário, é sempre tratado como o arauto das boas novas, sempre inéditas na história deste país. Ele nunca sabe de nada que possa comprometê-lo, nunca indicou ninguém envolvido em corrupção, nunca recebeu benefício proveniente de qualquer ação inadequada por parte de quem quer que seja. Um homem tão sórdido, que não se furta a abandonar “companheiros” apenas para não ser contaminado. Companheiros que se sacrificam abnegadamente por ele, para que jamais se perca a imagem imaculada de “homem do povo”, santificado como um Hugo Chaves brasileiro, travestido de democrata. Um homem blindado por um partido cuja única missão é se manter no poder a qualquer custo!

Pois esse homem acaba de ser, mais uma vez, citado nominalmente por um delator, na apuração do interminável e gigantesco esquema de corrupção que assola o país. Sim, o delator também citou nomes de adversários dele, criando uma situação, no mínimo, curiosa, pois quando as menções estavam restritas aos membros do governo, os defensores acéfalos do partido da estrela vermelha se apressavam em afirmar que essas vinham de uma fonte sem a menor credibilidade. Mas bastou que a mesma fonte citasse o nome de um membro da oposição para que essa citação (e apenas essa) passasse a ser prova irrefutável do envolvimento do citado. Incoerências já previstas à parte, torço para que todos os envolvidos, da situação e da oposição, terminem abraçados na mesma cela.

Voltando ao dono dos tentáculos, é impressionante a cara de pau com a qual ele busca se dissociar das agruras de um governo que ele mesmo impôs ao povo brasileiro, com o único objetivo de poder se apresentar, em 2018, como uma alternativa a si próprio. As críticas pontuais feitas a um modelo econômico que ele mesmo implantou no final do seu segundo mandato, não resistem sequer a uma análise superficial dos fatos. As mentiras que ele ajudou a propagar antes das últimas eleições, o transformaram em um dos grandes responsáveis pelo maior estelionato eleitoral da história do país. Dissociar-se como?

Não há como se dissociar do endividamento monstruoso imposto à maior empresa brasileira, em função de uma gestão corrupta e de uma ideologia tacanha, que reduziu e até inviabilizou, por muitos anos pelo menos, a maior parte da receita oriunda da exploração petrolífera. Do endividamento de todo um país, em função da incompetência administrativa e dos gastos constantes com a compra de apoio parlamentar. Da ausência de reformas estruturais em um período de bonança, que poderia ter pavimentado um caminho próspero para o Brasil nas próximas décadas. Do incentivo à divisão ideológica da nação, como se não estivéssemos todos no mesmo barco. Do processo de desindustrialização promovido pelo incentivo à dependência das commodities e pelo aumento desmedido de barreiras protecionistas. Da completa falta de rigor com as contas públicas, como se dele não dependesse, em última instância, a manutenção dos tão propagados programas sociais. Todos esses são “legados” que não podem ser, erroneamente, colocados apenas na conta do engodo que hoje governa o Brasil.

Espero apenas que ambos, criador e criatura, possam, sem blindagens, assumir as suas respectivas responsabilidades na imensa crise que enfrentamos hoje, e que ainda enfrentaremos por muito mais tempo. Mas que jamais se coloque em dúvida quem é o verdadeiro protagonista dessa história. A Lula, o que é de Lula. A Lula, o que é de Dilma!

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Pai, hoje já é Natal…

Hoje já é Natal, pai. Impressionante como o tempo voa, não é? Como acontece a cada ano, tem tanta coisa ainda a ser providenciada, você sabe. Muitos preparativos para a ceia, para a mesa. Presentes de última hora a serem comprados. A lista de todas as pessoas que a gente gostaria de ligar para desejar um feliz Natal. Nada muito diferente do que ocorre todos os anos nesta época. E parece que foi ontem o Natal passado, não é? O nosso primeiro Natal sem a mamãe. As rabanadas dela fizeram uma falta enorme, não foi? As castanhas portuguesas que ela gostava de comprar e que ninguém se lembrou. A preocupação com o ponto certo da carne, com aquele molho que só ela sabia fazer, com a textura do bacalhau que ela fazia questão de sempre colocar no cardápio da noite. Mas o que realmente fez falta foram o sorriso e a ternura dela. Faltaram as brincadeiras com os netos, o olhar emocionado no reencontro de todos os filhos, as orações preparadas para a meia noite, a mão sempre entrelaçada à sua, os abraços e os votos de saúde, de paz, de amor. Faltou ela!

Hoje já é Natal, pai. E, pela primeira vez, você não estará presente. Sei que ninguém vai sentir falta de algum prato que você costumava cozinhar e nem da sua supervisão dos preparativos para a festa. Essas tarefas nunca lhe couberam mesmo. Mas você não imagina a falta que a gente vai sentir quando formos brindar, ou a cada garrafa de vinho que eu abrir, ou a cada gargalhada que me fizer lembrar da sua. Você não imagina a falta que vamos sentir do seu silêncio, daquele olhar que observava tudo e que transbordava brilho e agradecimento pela união e pela alegria vivenciada. Aquele olhar que não precisava de palavras para transmitir sabedoria e mansidão. Mas as suas palavras farão mais falta ainda, pai. Vamos sentir falta das suas conversas com cada um de nós, das suas piadas, das suas brincadeiras, dos seus sorrisos suaves e desarmados, do seu carinho condescendente com cada neto. Vamos sentir falta de ouvir vozes de crianças chamando pelo Vovô Doce e pela Vovó Nilda. Vamos sentir falta das suas conversas tão divertidas com o Papai Noel, quando ele chegava cansado do Polo Norte e ainda tinha que distribuir todos os presentes. Vamos sentir falta das suas palavras nas orações da noite, e eu vou sentir uma saudade enorme de poder acariciar os seus cabelos enquanto você dizia, com imensa naturalidade, aquelas verdades que emocionavam a todos. Quantas e quantas vezes eu escutei cada uma dessas suas mensagens, e pedia silenciosamente ao meu Papai Noel, que me desse o presente de ter você mais uma vez conosco no Natal seguinte. E, durante muitos e muitos anos, o Papai Noel me concedeu esse presente. Até que chegou o momento em que essa opção não mais lhe cabia. Até que chegou o momento em que você mesmo entendia já ter dito tudo que precisava.

Hoje já é Natal, pai. E as palavras ditas por você ao longo de tantos anos ainda ecoam na minha mente, ainda aquecem o meu coração, ainda iluminam a minha alma. Há um ano, no nosso último Natal juntos, na última vez em que esteve na minha casa, você agradeceu a todos pelo amor e pediu a Deus que a gente continuasse sempre juntos, nos amando. “Nós somos amor, nós somos família” você disse. Nós somos mesmo tudo isso, pai. E hoje, um ano depois, se pudesse, eu gostaria de fazer apenas dois pedidos nesta noite de Natal. Um pedido a você e outro ao Papai Noel. Pediria a você que me transmitisse a sua capacidade de abrir caminhos, de guiar meus filhos, de tocar os corações das pessoas, de dizer verdades tão lindas a ponto de fazer, de cada Natal, um momento de redenção plena e coletiva. Ao Papai Noel, pediria apenas um breve e único instante.

Hoje já é Natal, pai. E sei que jamais serei capaz de tocar, com tamanha lucidez, os corações de tantas pessoas. E se, eventualmente, viesse a adquirir tal capacidade ao final da minha caminhada, sei que jamais poderia fazê-lo de uma forma tão doce e tão verdadeira quanto a sua. Restaria-me, portanto, apenas o pedido ao Papai Noel. Mas o instante que eu desejo é tão precioso, que sei perfeitamente que este é um presente que ele não teria como me dar. Um instante em que eu pudesse, mais uma vez, afagar os seus cabelos macios, mergulhar nos seus braços e sentir todo o calor que o seu amor transmite, olhar nos seus olhos doces e brilhantes e, lentamente, beijar-lhe a face. Não lhe diria nada, pai, pois tudo já estaria dito. Também não lhe pediria nada, apenas deixaria o instante passar, sorrindo, e segurando firme a sua mão. E esse instante seria eterno.

Hoje já é Natal, pai. E eu percebo agora que não sou capaz de contar os muitos instantes que estarão pra sempre comigo! E entendo agora o quanto o meu Papai Noel foi e é generoso a cada Natal. Afinal, ele me deu inúmeros e indescritíveis instantes com você. Por isso, o meu presente, deste e de todos os Natais que eu vier a comemorar, já foi recebido. E esse presente, pai, vai iluminar pra sempre todos os meus Natais, por toda a minha vida. Esse presente fará de cada Natal, um momento de felicidade plena, como todos aqueles que passamos juntos. E espero que assim seja, a cada ano, até o dia em que, finalmente, passe a ser a vez dos seus netos perceberem que o Papai Noel é muito mais real do que eles possam imaginar!

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Quando um nove é muito mais que um dez…

Não poderia imaginar uma maneira melhor de se começar a semana do Natal! Uma apresentação inesquecível da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, acompanhada de uma performance magistral do Coral Lírico da Fundação Clóvis Salgado e de quatro solistas com vozes estupendas.

Para a música que elevou os espíritos de todos os presentes na Sala Minas Gerais, não cabem adjetivos. Nenhum ser humano normal, com o ouvido mais apurado do mundo, seria capaz de compor uma peça tão bela. Mas quem a compôs jamais precisou de ouvidos. Ele compunha apenas com a sua alma. Os três primeiros movimentos já seriam suficientes para se comprovar essa tese. Mas o quarto transcende, emociona, arrebata, inebria. A música não apenas emoldura o lindo poema de Friedrich Schiller. Ela o transforma em uma experiência etérea. Mais do que uma ode à alegria, o que nos envolve é um hino ao amor, à esperança, e à amizade!

Por isso, acompanhando essa aura de paz e de plenitude, me comprometo a fazer como o poema de Schiller e falar apenas de coisas boas até o Natal. Repetirei mentalmente as frases que aconselham: “amigos, mudemos de tom. Entoemos algo mais prazeroso e mais alegre.” Agradecerei pelos amigos e pelo amor, pois “quem já conseguiu o maior tesouro de ser o amigo de um amigo, quem já conquistou uma mulher amável, rejubile-se conosco. Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma, uma única em todo o mundo.” Nesta semana, vou procurar elevar meu pensamento, e pedir que “abracem-se milhões e enviem este beijo para todo o mundo. Irmãos, além do céu estrelado mora um Pai amado. Mundo, você percebe seu Criador? Procure-o mais acima do céu estrelado. Sobre as estrelas onde ele mora.”

Ao findar o último acorde da nona e derradeira sinfonia do compositor que ouvia através da alma, atônitos, percebemos que, ao longo daquela última hora, foi o céu estrelado que desceu à Terra. Não há aplausos que possam exprimir a emoção e o agradecimento pelo privilégio de vivenciar um momento tão eterno. Não há aplausos nem lágrimas suficientes que possam dizer ao compositor que o mundo ficou mais completo depois que, por aqui, ele passou. Talvez Beethoven jamais tenha tido a consciência disso. Mas a alma dele sempre soube…

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Muito além do impeachment…

O descontentamento com o governo Dilma é quase unânime hoje. Apenas dez por cento da população aprova as suas decisões e sua forma de governar. Cada vez menos gente confia na presidente e quase ninguém acredita que ela será capaz de tirar o país da recessão profunda em que nos encontramos. Não vou perder meu tempo tentando entender por que motivo alguém ainda consegue aprovar um governo tão desastroso como esse. Mas, como dizem que toda unanimidade é burra, deixemos que esses poucos remanescentes sirvam para manter a percepção da sociedade brasileira inserida, pelo menos, em uma esfera estatística de inteligência. Além do mais, a análise que quero fazer é outra.

Mais da metade do eleitorado brasileiro já estava insatisfeito com o governo Dilma desde o ano passado. Tanto isso é verdade, que essa maioria não se mostrou favorável à sua reeleição. É bom lembrar que a quantidade de votos obtidos por ela foi menor do que o número de votos obtidos pelo Aécio somados aos nulos e brancos. E aqui se trata apenas de uma observação, pois esse fato, obviamente, não desmerece a eleição da presidente. Assim são as regras eleitorais e essas devem ser respeitadas. Minha atenção se volta agora para aqueles que se juntaram ao grupo dos insatisfeitos somente após a reeleição ter sido alcançada. Aqueles que deixaram de gostar da presidente a partir do momento em que ela passou, sempre de forma tímida e ineficaz, a tentar consertar as bobagens feitas desde o início do seu governo. Aqueles que se sentiram traídos, pois a então candidata havia prometido um Brasil próspero, com inflação baixa, com pleno emprego. Aqueles que acreditam ter sido justamente essa mudança de postura do governo a causa da imensa crise que estamos vivenciando. Aqueles que, enfim, esperam que a presidente volte a aplicar a política econômica do primeiro mandato e que abandone de vez a busca pelo ajuste das contas públicas.

Será que essas pessoas não percebem que foi justamente o conjunto de medidas tomadas nos primeiros quatro anos de governo o grande responsável pela crise de hoje? A inflação explodiu porque estava artificialmente contida. Os juros subiram ainda mais porque não deveriam ter sido reduzidos no princípio do primeiro mandato (na primeira das muitas interferências diretas do executivo nas decisões do Banco Central). A conta de luz disparou porque não deveria ter sido baixada por decreto, principalmente em um momento de crise hídrica. Os recursos desapareceram porque o governo aumentou seus gastos ano após ano, a ponto de ter que lançar mão de empréstimos ilegais junto a bancos públicos. As agências internacionais rebaixaram seguidamente a nota do país porque o descaso com o controle fiscal só aumentou desde o início do primeiro governo. E a situação piorou ainda mais no ano passado porque, ao invés de mudar de rumo, o governo aprofundou seus gastos e mascarou, deliberadamente, grande parte dos graves problemas enfrentados, com o único intuito de ganhar as eleições, no maior estelionato eleitoral já visto na história deste país.

Outro ponto que me chama a atenção, é que hoje se tornou lugar comum imputar ao congresso a maior parte das dificuldades que enfrentamos. Os defensores do governo Dilma afirmam que o comportamento da oposição apenas ajuda a aumentar a instabilidade econômica do país. Que as manobras indefensáveis do presidente Eduardo Cunha também contribuem, e muito, para a paralisia do governo neste momento de crise. Que a debandada de parlamentares do PMDB e de outros partidos da base aliada está deixando o governo cada vez mais isolado, em um momento em que precisava de apoio para promover as reformas necessárias. Que o atual congresso é o mais conservador e retrógrado dos últimos anos. E que a verdadeira responsabilidade pelo caos brasileiro é do congresso, e não das ações do governo.

Pois bem, apesar de concordar inteiramente com as críticas ao nosso legislativo, composto realmente de políticos que só sabem defender seus próprios interesses, faço duas ponderações para contra-argumentar essa última afirmação tão simplista e que busca apenas, e mais uma vez, reduzir o protagonismo do governo e da presidente na crise instaurada.

Em primeiro lugar, é bom lembrar que o governo hoje depende do congresso para a aprovação de medidas que visam corrigir decisões tomadas no passado. O estrago maior foi feito lá atrás, nos dois últimos anos do governo Lula e ao longo dos quatro primeiros anos do governo Dilma. Portanto, culpar o legislativo pela atual crise é esquecer que, em economia, as consequências de um conjunto de ações raramente são imediatas. Poderemos até vir a imputar ao legislativo a responsabilidade pelas dificuldades que enfrentaremos daqui a alguns anos. Mas jamais pelas de hoje.

Em segundo lugar, será que a rebeldia do congresso não se trata, na verdade, de mais uma grande incompetência deste governo? Estamos no primeiro ano do novo mandato e o executivo não conseguiu sequer eleger seu candidato para a presidência da câmara, logo após ter tomado posse. Não conseguiu, em nenhum momento, controlar e reorganizar sua base aliada. As poucas vitórias que conquistou foram graças à distribuição de mais cargos e poder, ou à custa de chantagens feitas aos deputados, tais como o condicionamento da liberação de verbas parlamentares à aprovação da flexibilização da meta fiscal votada no final do ano passado. E hoje, ironicamente, a presidente se coloca como vítima indefesa diante da chantagem explícita de outro cafajeste. E eu fico me perguntando quem é santo nessa história…

Não sei quais serão os desdobramentos do processo de impeachment recém instaurado. Apesar de considerar esta hipótese ainda improvável, estaria sendo hipócrita se dissesse que não torço para que a presidente seja afastada, pois não acredito que ela reúna a mínima capacidade de reconduzir o país ao caminho do crescimento e da prosperidade. Confesso que não tenho conhecimento jurídico e, portanto, não me considero apto a opinar se as muitas irregularidades praticadas são suficientes para impedí-la de continuar no comando do Brasil. Mas já li pareceres de grandes juristas defendendo tanto um quanto outro entendimento. Portanto, imagino que não seja uma decisão tão óbvia como os partidários de ambos os lados nos fazem crer. Além do mais, é sempre bom lembrar que a justificativa para o impeachment de Fernando Collor foi uma Fiat Elba. Justificativa essa que, muitos anos depois, foi derrubada pelo STF. Assim, fica claro que um impeachment não se restringe à análise de argumentos técnicos e jurídicos. É uma decisão de âmbito político. Sempre foi e sempre será. Ou paramos com a hipocrisia de chamar o processo atual de golpe, ou assim deveremos nomear todos os pedidos anteriores, invariavelmente comandados pelo PT!

Para o bem do Brasil, espero apenas que, independentemente do resultado do processo de impeachment, toda a sucessão de acontecimentos e debates vistos a cada dia sirva para promover uma verdadeira limpeza nos nomes e, principalmente, nas práticas adotadas pelos políticos deste país. Quem sabe, superado todo esse turbilhão, possamos finalmente nos reencontrar como uma nação mais madura, mais justa, mais honesta e mais democrática. Posso estar sendo até otimista demais, mas esse é o único cenário no qual reside a minha esperança. Mais do que isso, uma mudança no comportamento da nossa classe política é, na minha opinião, o único cenário que pode vir a reservar um futuro melhor para todo o povo brasileiro. Que façamos a nossa parte para que isso aconteça!

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