Uma sociedade entre aspas…

Quando escrevo, procuro sempre evitar as repetições, sejam de palavras, expressões ou até mesmo de sinais de pontuação. A não ser, evidentemente, quando a repetição é proposital e busca ressaltar uma ideia ou opinião. Detesto, por exemplo, escrever usando aspas em excesso. Explico. Naturalmente, uso as aspas para delimitar citações ou títulos em geral. Até aí, nenhum problema. Mas, claro, as utilizo também quando minha intenção é exprimir ironia ou sarcasmo. E é esse o ponto que realmente me incomoda. Quando um assunto me irrita em demasia, tendo a ser mais irônico e as aspas se multiplicam. Não me agrada escrever dessa forma mas, muitas vezes, simplesmente não tenho como evitar.

“Não as use” (olhem elas aí!), alguém poderá dizer. “Deixe que a interpretação de cada um se encarregue de perceber, ou não, a sutileza da sátira”. Maravilha, perfeito, concordo plenamente. Aliás, busco me valer desse princípio sempre que posso. Mas, e quando o que está se tornando senso comum é justamente o que me irrita? Quando a frase dita ou escrita me deixa tão indignado que gosto de repetí-la exatamente como a li ou ouvi, usando as aspas para destacar apenas a palavra ou expressão que a torna, no meu entendimento, verdadeiramente absurda?

Querem um exemplo? Li ontem que “as marchinhas de carnaval com conteúdo ofensivo estão sendo banidas do repertório da maioria dos blocos que irão desfilar pelo país”. Nada a ser destacado aqui, não é? Mas, quando leio que o tal “conteúdo ofensivo” (não tem como evitar, perceberam?) inclui clássicos como “Maria Sapatão”, “Cabeleira do Zezé”, “O teu Cabelo não Nega, Mulata”, “A Pipa do Vovô” e outros “atentados” às minorias, vejo que não posso suprimir nenhuma das aspas. Na verdade, as aspas começam a me parecer absolutamente insuficientes. Tenho que me controlar para não começar a usar o itálico, o negrito e as fontes em vermelho, tudo junto!

Outro exemplo: há dois dias, o assunto mais discutido nas redes sociais era a tal da “apropriação cultural”. Essa expressão é tão imbecil que deveria vir obrigatoriamente acompanhada de aspas, não importa em qual frase estivesse inserida. Como é que alguém se julga porta-voz de um grupo que, por sua vez, se acha dono de uma cultura que não permite inspirações ou compartilhamentos? Especialmente no mundo globalizado em que vivemos hoje? Paciência tem limites! Já as aspas, parece-me que não.

As empresas de recursos humanos passaram a determinar que o próximo menor aprendiz que alguém contratar passe a ser chamado, daqui por diante, de “jovem aprendiz”, para não contaminá-lo com uma denominação que possa marcá-lo como um ser inferior. Sério, ninguém aguenta mais isso. Haja aspas!

Já neste ano que mal começou, uma empresa de engenharia demitiu um estagiário porque este postou na sua rede social que estava à espera das feministas para descarregarem um caminhão de cimento que havia chegado na obra. E a empresa veio a público para afirmar que a demissão ocorreu porque sempre exigiu de seus funcionários o respeito às diversidades. Mentira! O motivo não foi esse. A empresa se “retratou” (como se tivesse alguma coisa com isso) apenas para se adequar ao insuportável “politicamente correto” (outra das expressões que deveriam vir sempre acompanhadas de aspas) que domina a sociedade atual. Mas o estagiário, certamente, se lembrará para sempre da primeira lição de sua vida prática. Daqui por diante, ele vai pensar de uma forma e agir de outra. É o culto à hipocrisia, é a valorização da superficialidade em detrimento da essência, é a vitória daquele amigo falso que costuma sorrir na sua frente e te ferrar pelas costas. Ferrar sem aspas nenhumas para amenizar o ato.

Antigamente, as “regras” do mundo eram mais claras. Antigamente, as pessoas dançavam ao som de “Maria Sapatão” e “Cabeleira do Zezé” sem nenhum sentimento de homofobia, e todo mundo sabia que era brincadeira. Antigamente, as crianças cantavam “Atirei o pau no gato” e as estatísticas de gatos maltratados não aumentaram por conta disso. Antigamente, os comediantes eram livres para contar piadas sobre o assunto que quisessem e os escritores tinham autonomia para criar seus personagens sem se preocuparem com os estereótipos que estariam criando ou reforçando. Antigamente, meus colegas eram livres para me chamarem de magrelo, de quatro-olhos, e eu tinha estrutura psicológica para levar na brincadeira ou para superar, mais cedo ou mais tarde, o que me incomodava de verdade. E essa superação me ajudava a crescer.

Não havia regras para me proteger. E é uma tremenda ilusão pensar que, hoje, essas regras existem. As regras do “politicamente correto” não protegem ninguém. Ao contrário, elas afastam as pessoas delas mesmas. Ninguém se conhece mais. Pior, ninguém sabe mais como se conhecer. E aqueles que pensam saber, na verdade não são realmente capazes de se aceitarem plenamente. Eles só são capazes de reconhecer suas próprias “identidades”. Assim mesmo, entre aspas!

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Desesperança…

Vivemos em um país onde grande parte da população acha normal saquear lojas e mais lojas só porque sabe que a polícia não vai molestá-la. E não falo da parcela da população que vive nas ruas ou que não tem o que dar de comer a seus filhos. Falo de pessoas que param seus carros e enchem seus porta-malas com eletrodomésticos, engradados de cerveja, roupas e todo tipo de bens furtados de pessoas que se matam para empreender em um país que sabe cobrar, mas não é capaz de oferecer nada em troca. Saques feitos em plena luz do dia! Com diversas pessoas em volta filmando! Repararam na gravidade da coisa? Inexiste qualquer noção de ética, qualquer resquício de vergonha, qualquer constrangimento. Isso sem falar nos bandidos “profissionais”, acostumados a praticar crimes e que, com a total ausência de policiamento, arrombam, invadem, assaltam e matam sem serem incomodados. Mesmo porque sabem que o cidadão comum não tem como se defender, não possui armas e nem tem a quem recorrer. Dependemos exclusivamente do estado também nesse aspecto e, infelizmente, depender do estado brasileiro é sinônimo de desastre.

Por incrível que pareça, a maioria dos saqueadores não se considera criminosa. Dizem que jamais seriam capazes de portar uma arma e invadir uma residência para roubar. Dizem até que têm medo e também sofrem com a violência nas cidades. Mas pegar mercadorias de uma loja já invadida? Bobos são os que não aproveitam. Imagine, não há risco de punição. A polícia está em greve! E a mesma cena se repete toda vez que um caminhão tomba na estrada, em qualquer estrada, em todas as estradas deste país. A sua carga, seja lá qual for, é imediatamente roubada. Afinal, os motoristas que passam logo depois não são culpados pelo acidente e é melhor levar uma parte antes que não sobre nada, não é mesmo? Em que tipo de realidade alternativa, de universo paralelo estamos vivendo?

Qualquer análise que se faça sobre esse tipo de comportamento leva a uma conclusão desoladora: um país como esse está longe de poder ser chamado de civilizado. É um país sem perspectivas, um país sem rumo, um país sem futuro. É o país do jeitinho, do mais esperto, do sacana. E, enquanto uma parte tão significativa da nossa população continuar agindo ou achando normal um comportamento como esse, não adianta sonharmos com um governo decente, justo e honesto. Por mais que a gente reclame dos ladrões que ocupam há décadas a nossa presidência, os governos estaduais, as prefeituras, o congresso e as câmaras, na verdade eles nos representam muito bem. Eles são apenas o reflexo do nosso próprio fracasso. São embustes, retratos perfeitos do verdadeiro embuste que é a sociedade brasileira!

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Assim vou me lembrar de Obama…

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Hoje, depois de oito anos, um governante absolutamente diferenciado se despede da Casa Branca. Diferenciado não apenas por ter sido o primeiro presidente negro eleito nos Estados Unidos, indiscutivelmente um fato histórico por si só. Fato que corria o risco de ter sido o único ponto de destaque de seu governo caso as expectativas criadas à época da sua eleição não tivessem se confirmado. Mas Barack Obama não decepcionou. E, não, essa não é uma mera opinião pessoal minha. Ele não decepcionou porque não fez nada diferente do que se propôs a fazer. Suas convicções, seus objetivos e suas metas sempre foram deixadas muito claras desde o princípio. Ele não se apresentou de uma forma e se comportou de outra. Portanto, aqueles que o criticam com veemência, alguns chegando ao despautério (sinto muito, não consigo ver de outra forma) de considerá-lo um dos piores presidentes da história americana, não podem afirmar que seu comportamento como presidente os tenha surpreendido. Não se pode falar em decepção quando a conduta adotada vai ao encontro das promessas feitas.

Nos últimos meses, tenho lido muitos comentários, análises e estatísticas sobre os oito anos do governo de Barack Obama. Mas nenhuma delas realmente isenta, justa e imparcial. Como sempre, oito ou oitenta, nada diferente daquela esquizofrenia com a qual o mundo já se acostumou a lidar diariamente. Ou consideram o homem um santo que recuperou a nossa esperança na humanidade, ou o amaldiçoam como um esquerdista que quase levou a América ao comunismo. Como sempre, ambas imagens muito distantes da realidade. Afinal, muitos avanços foram feitos no governo que hoje se despede. E muitos erros foram cometidos. Nenhuma novidade…

Já que mencionei as estatísticas, é bom lembrar que Barack Obama recebeu um país com desemprego em alta, fruto de uma enorme crise financeira iniciada no governo Bush, e que acabou abalando o mundo inteiro em 2008. Desemprego que chegou a 10% e hoje está em pouco mais de 4%. Esse índice, somado à melhora da economia, à recuperação do mercado imobiliário americano, à inflação e juros baixos, são bons exemplos de suas conquistas no campo econômico. Em compensação, a explosão da dívida pública, as restrições provocadas pelo número recorde de regulações de mercado, e o aumento de impostos sobre a classe média estão entre os itens mais lembrados por aqueles que já ansiavam por sua saída do governo. Números positivos de um lado, negativos de outro. Situação que irá se repetir em qualquer setor do seu governo que alguém isento se dispuser a avaliar. Mais uma vez, nenhuma novidade…

Então, se as novidades não aparecem nos números, o que teria feito Barack Obama para ser considerado um presidente realmente diferenciado?

Na minha opinião, a resposta está nele mesmo. Já tinha visto presidentes com uma boa capacidade de oratória. Também me lembro de presidentes altamente carismáticos. Houve presidentes que se destacaram pela sua postura serena em momentos de crise. E, com certeza, outros tiveram esposas que deram personalidade, relevância e simpatia ao posto de primeira-dama. Mas não me recordo de nenhum presidente que tivesse reunido todos esses atributos simultaneamente. Obama conseguiu, ao longo de oito anos, fazer o mundo parar para ouví-lo a cada discurso. Conseguiu comunicar, com clareza, os ideais nos quais se engajou. Mesmo aqueles que não concordam com o conteúdo, não são capazes de criticar a forma. Obama diminuiu a distância que separa as pessoas normais do posto mais importante do planeta. Foi atencioso, humilde e solícito com seus subordinados. Foi sempre carinhoso com sua família, com seus amigos e com seu povo. Manteve, por longos oito anos, uma atitude ponderada, centrada e coerente. Alguns dizem que isso é o que menos importa. Não poderia discordar mais. As pequenas atitudes da pessoa mais poderosa do mundo são sempre de uma importância incalculável.

Pessoalmente, considero Barack Obama um dos grandes presidentes dos Estados Unidos. Não apenas pela sua postura pessoal, mas também por suas atitudes, suas decisões, seus conceitos e, principalmente, suas intenções. Creio que, mesmo quando errou (e acho que ele errou muitas vezes), ele sempre buscou fazer o que entendia ser o melhor. Dizem que, de boas intenções, o inferno está cheio. Eu penso diferente. Acho que, se existisse, o inferno já estaria superpopulado apenas com aqueles que escolhem, propositadamente, o caminho errado. Não acredito ter sido esse o caso de Obama.

Talvez todas essas minhas convicções sejam fruto de uma ingenuidade incurável. Talvez eu tenha a tola mania de sempre valorizar mais o caráter do que a ideologia ou a eficiência de cada um. De qualquer forma, tolo ou ingênuo, sei que ficaria muito feliz se encontrasse, na política brasileira, alguém que eu pudesse admirar, simplesmente, por querer acertar de verdade!

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Há dois anos…

O tempo passa rápido, não é, pai? Lá se vão dois anos desde o dia em que se apagou o sorriso mais verdadeiro que já conheci. Pra mim, já são dois anos e dezoito dias desde que vi de perto seu olhar doce, desde que nos beijamos, desde que nossas mãos se entrelaçaram pela última vez. Não sei se você sabe mas, naquela manhã, tive que me segurar pra não voltar no seu quarto e te abraçar de novo. Só não voltei porque não queria que me visse chorando, que me visse pedindo, em prantos, que você estivesse melhor no meu retorno. Depois daquilo, nos falamos por telefone, vi você pelo skype, escutei sua voz pelo WhatsApp. Usei o quanto pude as tecnologias que aproximam o som e a imagem das pessoas, mas não substituem o calor de um abraço, a ternura de um beijo, a energia de duas mãos juntas. Há exatos dois anos, a única coisa que me movia era o desejo de chegar logo e sentir tudo isso novamente ao seu lado. Eu estava tão perto…

Hoje, sonho com o dia em que o telefone, o skype ou o WhatsApp poderão fazer chamadas bem mais distantes ou, pelo menos, bem mais complexas de serem completadas. Sonho bobo, eu sei. Afinal, pai, nossos encontros ainda acontecem de várias formas, e continuarão acontecendo. Porque você continua vivo na minha mente, no meu coração, na minha alma. Você, seu sorriso, sua voz e sua doçura continuam comigo, a todo instante. Também seus conselhos, sua sabedoria e suas palavras, que tento replicar a cada dia. Seus netos também não se esquecem de tudo o que aprenderam e, pequenos rios que são, já começam a formar seus próprios vales e a irrigar suas próprias margens. São promessas de corredeiras produtivas, remansos reparadores e solos férteis. Promessas de rios largos e abundantes, netos do rio mais generoso que conheceram.

Dois anos se passaram, pai, e hoje acordei olhando para a sua foto na cabeceira da cama. Você sabe que todas as nossas fotos sempre me transportam para o momento em que foram tiradas. As sensações, os perfumes e os sons reaparecem imediatamente com nitidez. Mas, por maior que seja a saudade que evocam, gosto de rever cada uma delas. Antes de tudo acontecer, eu me perguntava qual seria a minha reação diante de fotos de situações felizes ao seu lado. Hoje eu posso dizer que elas me machucam menos do que eu poderia imaginar, mas dizem muito mais do que eu esperava ouvir. E você ainda continua me dizendo tanta coisa…

São dois anos, pai, sem novas fotos, sem novas mensagens pelo WhatsApp ou pelo Facebook, sem novos emails, sem novas ligações, sem novos abraços. São dois anos sem ouvir a risada mais gostosa e a voz mais serena. São dois anos sem meu grande ídolo, sem meu herói imbatível, sem o maior orgulho da minha vida. São dois anos sem você, pai. E que falta você faz!

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A felicidade é um legado…

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Dizem que, para que o coração e a alma possam superar um evento doloroso, é importante que os ciclos se fechem. É importante que sejam vencidos todos os traumas, que sejam revistas todas as questões que ainda provocam angústias, que sejam revisitados os lugares que atiçam memórias e lembranças intencionalmente deixadas de lado.

No meu caso, todos os muitos lugares marcantes pela constante presença das minhas maiores referências de vida haviam sido devidamente enfrentados, com maior ou menor dificuldade. Entretanto, a ideia de voltar em alguns dos nossos destinos de viagens sempre me causou um certo frio no estômago. Seja pela emoção que um determinado local tenha lhes causado, seja pela intensidade dos momentos vividos junto a eles, seja pelo fato de que muitas dessas viagens foram feitas recentemente e estão ainda muito vivas na minha lembrança. Por isso, sei que os lugares que conhecemos juntos nunca mais poderão ser vistos da mesma forma. Jamais serei capaz de voltar ao Lago di Como sem deixar de ouvir o som de uma melodia inesquecível. Os pratos daquele restaurante em Lisboa, sobre o qual já escrevi, jamais terão o mesmo sabor. Um novo espetáculo do Natal Luz de Gramado jamais poderá repetir o mesmo brilho. E o Grande Hotel de Araxá, onde nos hospedamos poucos meses antes da rápida partida deles, jamais será considerado simplesmente uma boa opção não muito longe de casa. E é aqui, revisitando o local da nossa última viagem, que me encontro agora.

Na verdade, não foi com a intenção de fechar ciclos que voltei. Voltei porque não dispunha de muitas opções de vagas, de datas e, naturalmente, de pré-requisitos que atendessem às demandas de uma família com filhos em idades tão distintas. Para ser sincero, mesmo diante de pouquíssimas opções, relutei bastante antes de fechar a reserva e dizer aos meninos para onde iríamos no início do ano. Acabei cedendo porque, afinal, se me dispusesse a evitar lugares que ficaram marcados pelos momentos inesquecíveis que passei junto a meus pais, não teria sequer como me sentir feliz em minha própria casa. Definido o destino, acabei adotando – dissimulada e convenientemente – a desculpa da conclusão de ciclos, sem dúvida uma razão muito mais nobre e corajosa do que uma mera questão de logística.

Independente da motivação que tenha me guiado, aqui estou disposto a começar mais uma sessão de autocatarse. E a inicio repetindo a mesma trilha feita há dois anos e meio em torno do lago. O reflexo da fachada do hotel, o silêncio da mata que margeia a vereda, o aspecto dos bancos e do pergolado em frente à Fonte Dona Beja, nada parece ter mudado. As cores, os perfumes, os sons são exatamente os mesmos. As sensações, entretanto, são completamente diferentes. Uma das inúmeras árvores do parque debruça seus galhos frondosos sobre a placidez das águas. Por alguma razão, ela me parece particularmente familiar. Talvez tenhamos nos recostado no seu tronco antes de seguir caminhando. Talvez seus galhos tenham sido objeto de admiração daqueles que sempre adoraram, como ninguém, a combinação de água e mata nativa. Talvez eu mesmo tenha associado a beleza daquela imagem ao meu sentimento de êxtase por poder estar caminhando ao lado deles.

Completo a trilha e entro no salão principal das Termas. O amplo e lindo cômodo circular tem, no teto e no chão, seus pontos de maior destaque. A luz do sol continua revelando a beleza dos vitrais coloridos, e estes continuam suavizando os raios que penetram naquele ambiente místico. O belo octograma no piso de mármore continua emprestando um simbolismo único às imagens que ali presenciei. Hoje, no centro, um violonista traduz em música uma atmosfera normalmente intangível. Ontem, no mesmo centro da estrela de oito pontas, a imagem dela em oração revela com clareza que o conceito de infinito foi compreendido e apaziguadamente consentido.

Saio dali meio atordoado e continuo meu passeio pela memória, visitando as diversas salas bem conservadas de um hotel que testemunhou incontáveis histórias ao longo de décadas. Caminho pelos corredores que levam aos restaurantes, ao teatro, aos salões de baile, aos quartos decorados com a mesma mobília dos tempos em que o Grande Hotel era considerado um ícone da hotelaria nacional. À noite, chego no grande salão para o primeiro jantar. A disposição do buffet permanece a mesma. Procuro uma mesa no lado oposto ao que costumávamos nos sentar. O sabor dos pratos e dos doces mineiros também não mudou muito. Como sempre acontecia, nossa mesa não fica ocupada por muito tempo. Os meninos já buscam encontrar suas turmas e procuram passar o menor tempo possível com aqueles que insistem em colocar regras em tempos de férias. Não ouso pedir uma garrafa de vinho. Não na primeira noite. Brindes com vinho são lembranças fortes demais. Quem sabe amanhã?

Termino o primeiro dia por aqui com o coração mais leve. Um ciclo teria se fechado? Existe mesmo algum sentido nisso? Sinceramente, não sei dizer. Talvez meu coração leve signifique algo diferente. Que voltar a lugares como este apenas reforça a certeza do quanto meus pais foram verdadeiramente felizes. E o quanto cada momento junto a eles foi único e inesquecível. Portanto, mais importante do que se fechar um ciclo é estar pronto para se abrir o próximo. Que cada viagem que eu fizer ou refizer possa me lembrar que a vida continua e vale a pena ser vivida. Que eu sempre busque vivenciar vários momentos únicos e inesquecíveis para que, um dia, meus filhos sintam também alegria ao recordá-los. Talvez, então, eles possam entender a dimensão do amor que une pais e filhos. E talvez, finalmente, eles possam sentir seus corações também mais leves ao perceber que a saudade e as lágrimas não são incompatíveis com a alegria das lembranças. São apenas temperos e nuances de uma coisa extraordinária chamada vida.

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2017 motivos pra investir…

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O ano de 2016 finalmente está acabando. Até o chamado “ano que nunca termina”, chega agora ao fim! Um ano de desafios, de preocupações, de conflitos e atentados pelo mundo, de dificuldades, de desemprego, de restrições, de contenções de gastos, de perdas em vários campos. Mas será que é somente dessa maneira que me lembrarei de 2016? Será que este ano de crise foi mesmo mais difícil do que 2014, quando perdi minha mãe, mas tinha mais dinheiro no banco? Ou do que 2015, quando perdi meu pai, mas tive a oportunidade de viajar com uma frequência muito maior?

A verdade é que não existem anos ou períodos sem perdas, dificuldades e desafios. Mas também não existem anos sem alegrias, sem momentos eternos, sem oportunidades únicas, sem sorrisos nunca antes vistos, sem novas descobertas e amizades, sem crescimento interior, sem novos motivos para agradecimentos e reflexões. Por isso, me recuso a entrar na onda de difamação do já combalido 2016. Sei que, em diversos setores, termino o ano com o saldo dos meus investimentos altamente positivo. Afinal, muitas das minhas aplicações deram resultados como poucas vezes vi.

Minha conta “amigos”, por exemplo, terminou o ano recheada. Foram tantas amizades feitas em 2016, tantos reencontros, tantos abraços e beijos repletos de admiração e carinho genuínos, tantas conversas inesquecíveis, tantas gargalhadas noite adentro! Como sou ambicioso, minha meta é continuar diversificando investimentos para que essa conta chegue novamente transbordando de amigos ao final de 2017.

Meus ganhos na conta “família” foram ainda mais relevantes. Meus filhos sorriram muito mais do que choraram, e cresceram em caráter, em honestidade, em responsabilidade, em confiança. Vi seus olhares se transformarem e amadurecerem, sem que perdessem a doçura. Vi seus objetivos sendo moldados, vi muitas de suas dúvidas se desfazendo, e vi novos questionamentos sendo formados. Ao final do ano, eu e minha esposa nos olhamos com ainda mais amor e admiração, em um investimento que jamais conheceu perdas. Meus irmãos, minhas cunhadas e meus sobrinhos continuaram depositando cada vez mais união, carinho e amizade na conta aberta e administrada, até muito pouco tempo, pelas duas maiores referências no assunto. Meus investimentos com meus afilhados, primos e tios tiveram altíssima rentabilidade com dividendos de fofura e afeto sendo distribuídos ao longo de todo o ano.

Minhas aplicações em saúde familiar também tiveram um ótimo retorno. Depois de anos seguidos de prejuízos irreparáveis, 2016 finalmente caminhou sem grandes sobressaltos.

Até a conta “trabalho”, a mais afetada ao longo do ano, teve momentos de enorme rentabilidade, nos quais os retornos em qualidade e reconhecimento superaram em muito os momentos de dificuldade e de revisão de metas.

Por tudo isso, minha conta “gratidão” foi, como sempre acontece, a que mais cresceu ao longo do ano. Ainda assim, sei que às vezes, por mero esquecimento ou acomodação, deixo de investir nela como deveria. Agradecer de verdade por todos os momentos vividos ao longo de cada ano. Cada amanhecer, cada abraço, cada sorriso de bom dia, cada beijo de boa noite, cada palavra amiga, cada encontro, cada chegada e cada partida. Agradecer de verdade pela dádiva de estar vivo e, dessa forma, ter a oportunidade de fazer com que o próximo ano seja sempre melhor do que o anterior. E é com esse objetivo, de ser melhor do que sou, que entro em 2017! Para que isso aconteça, já tracei meu plano de metas e vou investir mais e mais, sem medo de riscos ou perdas. Investir trabalho, otimismo, amor, amizade, determinação, perseverança e confiança. Investir com a certeza de que, independente dos fatores externos que não tenho como controlar, meus rendimentos irão, inevitavelmente, proporcionar serenidade, paz de espírito, harmonia e felicidade!

Por isso, obrigado por tudo, 2016! Que, em 2017, saibamos todos investir naquilo que nos faz feliz! E que o nosso ano seja realmente inesquecível, produtivo, lucrativo e inteiramente abençoado!

Feliz Ano Novo!

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Papai Noel pra sempre…

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O final de cada ano sempre foi, pra mim, uma das épocas mais aguardadas. Mesmo depois de adulto quando, consequentemente, o Natal e o Réveillon deixaram de ser sinônimos de férias, essa preferência se manteve. Ansiava vivenciar aquela atmosfera diferente que tomava conta das pessoas, caminhar pelas ruas mais cheias e enfeitadas, acompanhar minha mãe nos preparativos para as ceias, participar dos encontros, das conversas e das orações que sempre marcavam as noites de festa. Mas um motivo em especial sempre pesou nessa minha escolha…

Personificado pelo meu primo, depois pelo meu pai e, por último, pelo meu irmão, Papai Noel se fez presente durante muitas e muitas noites de Natal. E, em cada uma daquelas noites, acompanhei de perto os olhinhos de várias crianças se iluminando ao primeiro badalar do sino com o qual Papai Noel anunciava sua chegada. Os gritos de ansiedade e excitação e as expressões de encantamento dos pequeninos, inevitavelmente contaminavam meu rosto com sorrisos duradouros e lágrimas veladas. À medida em que as crianças cresciam, outras tomavam seus lugares, e a magia daquela noite permanecia intacta. Ano após ano, os sorrisos e as lágrimas se repetiam e se renovavam. Afinal, com o passar do tempo, muitas daquelas crianças se tornaram irmãos mais velhos, se tornaram tios, se tornaram pais, e a emoção apenas trocava de lado. Quando deixavam de acreditar no mito, os outrora meninos passavam a ter certeza da existência de tudo que ele representava. Passavam a entender que o nosso Papai Noel sempre fora, simplesmente, amor. Por isso, a cada ano, a voz e os conselhos do Papai Noel ficavam gravados na minha memória e nos corações de cada criança. E a gente mal podia esperar pela visita dele no Natal seguinte.

Nos últimos Natais, entretanto, Papai Noel deixou de fazer parte das nossas celebrações. Assim, meu filho menor e minhas sobrinhas pequenas acabaram vivenciando muito menos aquela ansiedade gostosa, aquele frio na barriga, aquela expectativa boa que antecedia o encontro com o velhinho sorridente que trazia muito mais do que presentes. Trazia bondade, admiração e ternura no olhar. Trazia paz e sabedoria nas palavras que ecoavam no silêncio profundo de uma sala envolta em uma penumbra quase etérea. Um silêncio tão grande que, sempre que me lembro daqueles momentos, não consigo dissociar a voz do Papai Noel do som das batidas apressadas do meu próprio coração. Quem teve a oportunidade de estar presente em alguma daquelas noites fascinantes, sabe o quanto os conselhos do Papai Noel foram importantes na formação da índole de tantas pessoas. O quanto aquele Papai Noel sintetizava a mensagem de paz e de harmonia que deveria fazer parte do Natal de todos.

Papai Noel foi embora não por escolha própria. Na verdade, sua partida representou apenas o fim de um ciclo. Por mais tristes que sejam os fins, eles sempre marcam outros inícios, igualmente abençoados. Espero, entretanto, mesmo neste novo ciclo, que Papai Noel um dia ainda volte para emocionar novas crianças que ainda hão de chegar. E, quando isso acontecer, estou certo de que ele irá me reconhecer e se recordará de todas as palavras, de todos os conselhos e de todos os olhares que já me dirigiu ao longo de tantos anos. Ao enxugar minhas lágrimas de emoção por vê-lo novamente, Papai Noel irá perceber que, a cada Natal, a minha oração mais fervorosa pedia apenas que ele voltasse no próximo ano. Que estar com ele sempre foi o meu mais precioso presente. Por isso, antes de ir embora, sei que Papai Noel vai me beijar, segurar a minha mão, olhar no fundo dos meus olhos, e me dizer baixinho: “Filho, não houve uma única noite de Natal que eu não estivesse aqui”!

Neste e em todos os Natais, que o verdadeiro Papai Noel esteja sempre presente nos corações dos homens.

Feliz Natal a todos.
Feliz Natal, Papai Noel.
Feliz Natal, papai!

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De palhaço pra palhaço…

Oi palhaço. É, você mesmo que está lendo este texto. Independente de quem seja, saiba que você é um palhaço. Se você é homem ou mulher, se você é culto ou analfabeto, se você é de direita ou de esquerda, se você gosta ou não de política, se você é ateu ou cristão, pobre ou rico, branco ou negro, gay ou hétero, nada disso importa. Você é um verdadeiro palhaço! Mas não se ofenda, eu também sou. Aliás, todos nós, brasileiros, somos grandes palhaços. Não palhaços por vocação, aqueles que vivem para levar alegria e sorrisos a cada criança. Nós somos palhaços no sentido pejorativo mesmo. Aquele que indica uma pessoa passiva, alheia às decisões que afetam o seu próprio destino, e que é feito de bobo com extrema facilidade. Você pode até pensar o contrário, que luta pelos seus direitos, que não permite que outros tomem decisões por você, que cobra dos seus representantes. Sem querer te desanimar, mas isso só faz de você um palhaço iludido. Existem também os palhaços ingênuos, que acham que existem partidos que querem mesmo o bem da população. Os palhaços utópicos, que acham que existem órgãos, sindicatos e movimentos sociais realmente apartidários e altruístas. Os palhaços imbecis, que insistem em defender políticos. E existem os palhaços conscientes, que sabem que são palhaços e que continuarão sendo por muitos anos, pelo menos enquanto existirem políticos eleitos no sistema viciado, podre e asqueroso vigente hoje no Brasil. Sim, porque a única possibilidade de você, caro leitor, deixar de ser palhaço, é se tornando um político brasileiro!

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Exemplos que não podem morrer…

Se existia um time no Brasil no qual as palavras planejamento, gestão eficiente, responsabilidade e profissionalismo foram levadas, ano após ano, realmente a sério, esse era o time de Santa Catarina. O time que, em 2016, passou a ser o segundo preferido de todo torcedor. O time que, em apenas seis anos, subiu da série D para a série A do futebol brasileiro e, mais importante ainda, lá se manteve, a cada ano com mais facilidade e maior competência. O time que venceu campeões tradicionalíssimos para ter a honra de disputar, tão cedo na sua história, a sua primeira final internacional, e com grandes chances de vitória.

É difícil encontrar explicações para uma tragédia dessas. É difícil não se revoltar ao ver um trabalho tão sério sendo interrompido, especialmente em um momento em que precisávamos muito perceber que honestidade, competência e seriedade são, realmente, valores que podem levar a cada um de nós, e ao país por consequência, a uma condição mais digna, mais leve e mais feliz. Precisávamos ter exemplos concretos de que as nossas escolhas são muito importantes para se conseguir vencer na vida de uma forma verdadeiramente abrangente. O mundo ainda precisa de exemplos como esses. O mundo, tão pouco evoluído, ainda precisa de casos de sucesso que decorram das boas condutas, e não das falcatruas, das roubalheiras, das tiranias endeusadas, das deslealdades, das opções quase sempre feitas pelos caminhos mais curtos e muito menos nobres. Talvez a Chapecoense fosse apenas um ponto fora da curva em um mundo acostumado a conviver diariamente com o pior do ser humano. Mas hoje, além do conforto aos familiares das vítimas desse acidente trágico, peço apenas a Deus que permita que a Chapecoense e os muitos outros pontos fora espalhados por aí, jamais deixem de procurar mudar o rumo de uma curva que me parece destinada a repetir o mesmo mergulho feito hoje por uma aeronave na Colômbia!

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Fidel ainda vive…

Fidel Castro morreu! Mas, qual deles? O ditador sanguinário ou o arauto de um mundo mais digno e igualitário? O que cerceou liberdades, perseguiu dissidentes e fuzilou inimigos ou o que enfrentou potências em busca de justiça? O que impediu o desenvolvimento econômico e social do seu país ou o que o transformou em referência em áreas como saúde e educação? O que oprimiu seu povo e governou por décadas com mão de ferro ou o que dizia lutar pela liberdade dos povos? O caudilho calculista temido por todos ou o líder carismático que emocionava sua gente a cada aparição?

Apenas um deles morreu hoje. O outro seguirá vivo enquanto houver um imbecil capaz de associar a figura de um tirano desprezível com valores tais como justiça, liberdade, crescimento, bem estar social, igualdade, democracia e tolerância. Como a imbecilidade humana é imortal, para sempre então viverá o mito do grande comandante Fidel Castro!

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