Estou entre aqueles que esperaram anos e anos pelo dia de hoje. Afinal, não é todo dia que um criminoso dissimulado travestido de estadista perde legalmente o direito de concorrer a cargos eletivos. Um marginal, uma pessoa desprovida de qualquer caráter e qualquer senso de ética, um corrupto, um arrogante arremedo de homem público que, liderando uma gangue de delinquentes igualmente mal intencionados, usou seu carisma como arma para amealhar uma horda de seguidores ineptos. Não é todo dia que a bruma do retrocesso que pairava no horizonte do país recebe uma rajada de vento suficientemente forte a ponto de nos fazer acreditar que o brilho de um novo amanhecer finalmente poderá ser visto.
Mesmo assim, não creio que o dia de hoje marque a volta da crença na justiça, a sensação de que o bem sempre prevalece, ou a confirmação de que, no fim, colhe-se aquilo que se planta. Na verdade, o dia de hoje deveria ser celebrado com extrema moderação, mesmo com a derrocada de alguém tão desprezível e que tanto mal tem feito ao país e à sua população. E razões para isso não faltam. Primeiro porque existem centenas de outros políticos que deveriam estar igualmente impedidos de se apresentarem à sociedade, e assim não estão devido a uma legislação capenga, corporativista e ultrapassada que os protege através do privilégio do foro e da subserviência do Supremo. Segundo porque, em se tratando de Brasil, nenhuma reviravolta jurídica ou política pode ser descartada antecipadamente. E terceiro porque, mesmo com o afastamento do líder, a idolatria desmedida, a ideologia tacanha e a seita de fanáticos permanecerão. Mais ainda, continuarão a ser alimentadas pelas convicções dos “progressistas”, divulgadas pelos inúmeros jornalistas comprometidos com a “causa”, aplaudidas pelos artistas e outros ditos formadores de opinião que se autoproclamam arautos da justiça e da igualdade. Todos hipócritas conscientes do quanto seus aclamados ideais são seletivos. Nenhum deles capaz de avaliar o fato, basta-lhes conhecer o autor. Hipócritas que existem também no outro extremo e que, infelizmente, também continuarão a bradar suas incoerências igualmente estúpidas e desprovidas de autocrítica. Espero apenas que, com o enfraquecimento de um dos extremos, o outro também esmaeça. Essa é a esperança derradeira para aqueles que acreditam no equilíbrio, no meio-termo e na moderação como os únicos elementos capazes de indicar um caminho robusto e sustentável ao país. Essa é a grande esperança que surge neste dia histórico!
Hoje, a maioria dos brasileiros vai dormir mais aliviada. A “alma mais honesta do país” sofreu uma derrota dura de ser absorvida, mesmo para uma pessoa que se acostumou a ser blindada por seus fiéis seguidores. Durante muitos anos, sempre houve aquele disposto a assumir a culpa no lugar do deus fictício, mantendo-o imaculado, puro, intocável. Durante muitos anos, quase todos ao seu redor caíram, foram denunciados, presos, condenados. Ele jamais soube de coisa alguma. E a horda de fanáticos cegos sempre acreditou. A horda ainda acredita e, para estes, não há absolutamente nada capaz de convencê-los do contrário. Evidência alguma jamais será comprometedora, denúncia alguma jamais será confiável, prova alguma jamais será suficiente. Pois que continuem com a imagem casta que criaram para o seu deus. Que chamem a justiça de parcial, os juízes de agentes da CIA, a condenação de golpe, a prisão de atentado à democracia, o condenado de santo, mártir ou guerreiro, não me importa. O que realmente importa é que, agora, temos a oportunidade de recomeçar. Depois de tantos e tantos anos sendo governados por bandidos incompetentes, e me refiro aqui a grande parte da história contemporânea brasileira, temos finalmente a chance de escolher pessoas com ideias novas, modernas, sem os vícios de um sistema podre e corrompido. A partir de hoje, enquanto a horda continua venerando a imagem de seu presidiário de estimação, que os demais brasileiros voltem a acreditar que o futuro do Brasil, o eterno país do futuro, pode, quem sabe um dia, virar presente!