Que a nossa classe política está inteiramente desacreditada, todo mundo já sabe. Ninguém, com um mínimo de bom senso, é capaz de se sentir representado pela quase totalidade dos políticos deste país. E a culpa desta total descrença recai sobre os ombros de cada um dos nossos representantes, de todas as esferas do poder público. Não tenho dúvidas de que serão necessárias décadas, se tivermos sorte, até que o número de políticos honestos e bem intencionados supere o número de ladrões eleitos pelo próprio povo. Um processo lento e doloroso que não temos mais como postergar. Afinal, chegamos ao fundo do poço.
Há, entretanto, um outro processo em curso que parece querer minar toda a esperança na futura recuperação deste país. Diferentemente dos políticos, que fazem por merecer todo o seu descrédito, uma outra classe vem sendo sistematicamente atacada, caluniada, difamada e menosprezada injustamente. Refiro-me aos empreendedores. “Ah, os empresários?”, algum caluniador de plantão poderá dizer. “Sim e não”, responderei eu. Explico. Todo empreendedor é empresário, mesmo que gerencie uma empresa que tenha apenas ele próprio como funcionário. Mas nem todo empresário é empreendedor. E exemplos dessa diferenciação não faltam.
Hoje, temos testemunhado histórias e mais histórias de empresários que são, na verdade, meros lobistas. A preocupação destes não é com a eficiência do serviço prestado, ou com a qualidade do produto entregue, nem com a constante busca de maior produtividade e economia das metodologias cotidianas. Eles se preocupam, diariamente, apenas em angariar maior apoio político. Buscam respaldo para que deputados e senadores possam aprovar leis reguladoras que os beneficiem, para que vereadores mantenham distantes deles (e próximos dos concorrentes menores) os órgãos fiscalizadores do município, para que os presidentes e governadores sejam generosos na distribuição de créditos absolutamente inacessíveis aos demais mortais. Para que isso aconteça, eles se esmeram na tarefa de fazer com que todos, absolutamente todos os políticos sejam sempre muito bem recompensados por sua postura “altruísta e desinteressada” para com as grandes empresas do país, exemplos da competência da iniciativa privada e da capacidade de liderança brasileiras.
Claro, um modelo como esse tem prazo de validade e, assim, temos visto ruir, dia após dia, a imagem do empresariado brasileiro. Mas, qual empresariado? Eike, Odebrecht, os irmãos Batista, os donos das grandes empreiteiras, todos agora servem como motes de lições e conclusões deturpadas, distribuídas fartamente por uma corrente ideológica que, ironicamente, apoia o governo que mais difundiu a prática que agora condenam. E o fazem de forma vil, torpe, desleal. Porque colocam, maldosamente, o lobista e o empreendedor no mesmo barco, ambos sob a pecha de “empresário”. Ao assim agirem, passam a considerar o empreendedor um explorador da classe trabalhadora, um bon vivant, um privilegiado que busca apenas formas de lucrar mais enquanto o trabalhador recebe cada vez menos. E isso não é apenas uma inverdade. É uma inverdade que está, literalmente, acabando com o Brasil.
Formadores de opinião tem repetido conceitos arcaicos de demonização do lucro, de divisão de classes, de um conflito de interesses que, no fundo, deveria inexistir. Tenho visto, com preocupante frequência, professores tentando incutir no cérebro de seus alunos os mesmos preceitos corrompidos, generalizando – maldosamente, repito – comportamentos, como se todo empreendedor agisse sempre como os lobistas que não saem das manchetes dos jornais.
Por isso, aqui vai o meu apelo a todos os professores, colunistas, blogueiros, jornalistas, políticos, palestrantes e demais formadores de opinião deste país: parem com isso! Vocês não estão apenas aniquilando as esperanças de um país mais próspero no futuro. Vocês estão, na verdade, amputando os sonhos de milhões de jovens que querem crescer como pessoas, que querem se sentir produtivos, que querem fazer parte de uma mudança pessoal que irá impactar em uma imensa elevação de patamar para todo o Brasil. Empreendedores não são desonestos, não são exploradores, não são pessoas que só visam lucro e mais nada. Empreendedores são cidadãos que se arriscam em busca de um sonho. Um sonho tão importante que, ao se materializar, cria oportunidades para que outras pessoas também o abracem e o adotem, tornando-o comum a todos. Se o sonho de empreender for desencorajado, se o sonho de arriscar tudo o que você tem para que uma ideia saia do papel for rotulado de egoísta, manipulador, e quase maquiavélico, em breve não haverá país, não haverá sociedade, não haverá motivos pelos quais lutarmos. Egoísmo e empreendedorismo são conceitos diametralmente opostos. O egoísta aplica seu dinheiro com o único objetivo de lhe gerar renda. O empreendedor, ao contrário, coloca o que possui e, muitas vezes, até o que não possui em um negócio, correndo o sério risco de perder tudo (principalmente no Brasil), e, assim, passa a gerar empregos, a arrecadar impostos, a fazer a economia girar e, consequentemente, a fazer o país crescer. Não sejam levianos a ponto de separar trabalhadores e empreendedores em bons e maus. Não sejam injustos. Não sejam desagregadores. Todos trabalham muito e todos possuem a capacidade de empreender. Muitos simplesmente não querem, e esse é um direito absolutamente legítimo. Mas não ajudem outros tantos a desistirem dos seus sonhos em nome de uma idelogia tacanha e retrógrada. Ninguém consegue crescer dessa forma. O Brasil, muito menos!