O tempo passa rápido, não é, pai? Lá se vão dois anos desde o dia em que se apagou o sorriso mais verdadeiro que já conheci. Pra mim, já são dois anos e dezoito dias desde que vi de perto seu olhar doce, desde que nos beijamos, desde que nossas mãos se entrelaçaram pela última vez. Não sei se você sabe mas, naquela manhã, tive que me segurar pra não voltar no seu quarto e te abraçar de novo. Só não voltei porque não queria que me visse chorando, que me visse pedindo, em prantos, que você estivesse melhor no meu retorno. Depois daquilo, nos falamos por telefone, vi você pelo skype, escutei sua voz pelo WhatsApp. Usei o quanto pude as tecnologias que aproximam o som e a imagem das pessoas, mas não substituem o calor de um abraço, a ternura de um beijo, a energia de duas mãos juntas. Há exatos dois anos, a única coisa que me movia era o desejo de chegar logo e sentir tudo isso novamente ao seu lado. Eu estava tão perto…
Hoje, sonho com o dia em que o telefone, o skype ou o WhatsApp poderão fazer chamadas bem mais distantes ou, pelo menos, bem mais complexas de serem completadas. Sonho bobo, eu sei. Afinal, pai, nossos encontros ainda acontecem de várias formas, e continuarão acontecendo. Porque você continua vivo na minha mente, no meu coração, na minha alma. Você, seu sorriso, sua voz e sua doçura continuam comigo, a todo instante. Também seus conselhos, sua sabedoria e suas palavras, que tento replicar a cada dia. Seus netos também não se esquecem de tudo o que aprenderam e, pequenos rios que são, já começam a formar seus próprios vales e a irrigar suas próprias margens. São promessas de corredeiras produtivas, remansos reparadores e solos férteis. Promessas de rios largos e abundantes, netos do rio mais generoso que conheceram.
Dois anos se passaram, pai, e hoje acordei olhando para a sua foto na cabeceira da cama. Você sabe que todas as nossas fotos sempre me transportam para o momento em que foram tiradas. As sensações, os perfumes e os sons reaparecem imediatamente com nitidez. Mas, por maior que seja a saudade que evocam, gosto de rever cada uma delas. Antes de tudo acontecer, eu me perguntava qual seria a minha reação diante de fotos de situações felizes ao seu lado. Hoje eu posso dizer que elas me machucam menos do que eu poderia imaginar, mas dizem muito mais do que eu esperava ouvir. E você ainda continua me dizendo tanta coisa…
São dois anos, pai, sem novas fotos, sem novas mensagens pelo WhatsApp ou pelo Facebook, sem novos emails, sem novas ligações, sem novos abraços. São dois anos sem ouvir a risada mais gostosa e a voz mais serena. São dois anos sem meu grande ídolo, sem meu herói imbatível, sem o maior orgulho da minha vida. São dois anos sem você, pai. E que falta você faz!