Não tenho lugar de fala para opinar sobre o imbróglio envolvendo Israel e Palestina. Minha árvore genealógica (até onde eu sei) não inclui judeus ou árabes, nunca tive receio de que minha família pudesse ser exterminada por mísseis ou ataques terroristas, jamais escutei uma sirene que indicasse ser preciso me abrigar em um bunker. Nada disso – é claro – impede que tristeza, incredulidade, desânimo e sensação de impotência se manifestem a cada notícia sobre a guerra. Não é fácil se manter são no meio de tanta loucura. Mais difícil ainda é deixar de se indignar com a banalização das mortes de tanta gente inocente. E é absolutamente impossível não se assustar diante do radicalismo que tomou conta de todos os debates sobre o assunto.
Chegamos ao ponto em que opiniões perderam a capacidade de trazer qualquer benefício ao entendimento de um conflito milenar. E não me refiro apenas às mais extremadas – carregadas de verdades, ressentimentos e ideologias imutáveis. As ponderadas tampouco conseguem evitar que rótulos sejam atribuídos a povos que se caracterizam justamente pela sua diversidade. Há gente boa e bem intencionada em ambos os lados. Há quem se compadeça com o sofrimento de crianças que vivem do outro lado do muro. Há quem queira viver com dignidade, e deixar que todos em volta assim também vivam. A estigmatização – sempre perigosa – torna-se hedionda quando insufla ódio e xenofobia.
Recuso-me, portanto, a emitir qualquer opinião pessoal sobre o assunto. Prefiro me ater aos fatos. Muita gente anda se esquecendo do conceito, mas fato é algo cuja existência é inquestionável. Vacinas, por exemplo, salvam vidas, mesmo que aquele grupo do Telegram insista em divulgar o contrário. Governos repressores e totalitários não podem ser chamados de democracias, por mais que o aquele amigo de esquerda afirme que a luta deles é por liberdade. Fato é fato.
Um grupo de guerrilheiros que se dispõe a invadir as casas de centenas de civis, e assassinar homens, mulheres e crianças com requintes de crueldade é uma organização terrorista. Isso é fato, independentemente das opiniões sobre as motivações do movimento. Também é fato que, há décadas, Gaza é uma prisão a céu aberto, mesmo que muitas opiniões encontrem justificativas para o cenário. O Hamas usa civis como escudos humanos? Sim, é fato, há inclusive declarações de seus membros que o corroboram. O governo de Israel sabe que os bombardeios vão atingir civis inocentes? Sim, também é fato. São fatos que o objetivo do Hamas é a aniquilação completa de Israel, que os líderes palestinos recusaram todas as propostas feitas até hoje para coexistência de dois estados, que há um antissemitismo latente – e crescente – em todo o mundo. Também são fatos que houve uma falha injustificável na segurança israelense, que a guerra está sendo usada como arma política por um governo fraco e impopular, que a imagem de Israel se deteriora a cada criança palestina morta.
Tanta morte, tanta dor, tanta desesperança. Há quem garanta existir uma solução pacífica e viável a curto prazo. Pena que não se trate de fato, apenas de opinião.