Ela me fez menino, eu a tornei mãe. A maternidade passava a ser a grande missão de sua existência. Foi a primeira mão a me amparar, o primeiro colo a me aquecer, a primeira voz a me dizer palavras de carinho. Seus lábios foram os primeiros a tocar meu rosto, e deles brotaram minhas primeiras canções. Seu olhar foi o primeiro a me bastar, e seu sorriso o primeiro a me fazer sorrir também. Foi ela quem moldou meus primeiros conceitos, muitos deles reformulados ao longo da vida. Foi com ela que entendi que crescer constantemente é importante, mas amar é imprescindível. Seguimos juntos por quase 50 anos, até que a distância – até então esporádica e pontual – tornou-se definitiva.
Não passava de um menino quando a vi pela primeira vez. Já era homem feito (mais na teoria do que na prática), e tive receio de que seu brilho revelasse toda minha mediocridade. Só percebi a oportunidade que estava prestes a perder quando ela convocou a distância para ser minha conselheira. Voltei. Voltei para confirmar que somente ao lado dela eu teria alguma chance de crescimento. Voltei para que pudéssemos desbravar nossas próprias trilhas, para que ela pudesse redefinir meus conceitos de amor, de cumplicidade, de união. Voltei para vê-la se transformar na mais inacreditável das mães, para me encantar com sua forma de ensinar sem perder a firmeza, a coragem e a doçura. Voltei para ser testemunha de sua sabedoria, e tentar aprender – com ela – a um dia ser guia também.
Ele ainda era um menino na última vez em que estivemos juntos para comemorar o seu aniversário. Cresceu muito nos 4 anos nos quais a distância sempre foi a primeira a confirmar presença nas nossas celebrações. Hoje decidimos deixá-la de fora, não por desforra ou desagravo. Afinal, somos gratos por sua ajuda em transformar em homem um garoto cheio de sonhos, dúvidas e expectativas. Foi ela que redefiniu seus conceitos de superação, de trabalho, de família, de saudade. Foi ela que lhe deu confiança para sustentar seu olhar diante da vida. Foi ela que o ensinou a voar. Hoje, caberá a nós cubri-lo com os beijos e abraços por tanto tempo deixados de fora da festa. Caberá a nós mostrar a ele que nossos conceitos de orgulho e amor também ganharam nova dimensão. Caberá a nós lhe dizer que estaremos unidos, mesmo quando a distância voltar se fazer presente.
Este 14 de maio celebra, como poucos, três gerações que tanto aprenderam umas com as outras. Três seres humanos que fizeram da distância uma inspiração para se tornarem melhores a cada dia. Três exemplos de que sempre há espaço para que os conceitos individuais possam ser ampliados. Três amores que deram – e dão – sentido à minha vida.
Diante deles, ainda pareço um menino.