E o 7 de setembro mais badalado dos últimos tempos finalmente chegou. Iniciamos hoje a contagem regressiva para os 200 anos da independência do Brasil. Há quase dois séculos, tornávamo-nos uma nação livre. Ao longo desses 199 anos, entretanto, nem sempre pudemos usufruir de nossa ansiada soberania. Vivemos muitas décadas de restrições, perseguições, cerceamentos e censuras nas mãos dos vários governos autocráticos que nos foram impostos. Mesmo assim, parte da sociedade brasileira insiste em deturpar e minimizar as ações dos líderes que calaram nossa voz. Os abusos cometidos por Getúlio Vargas (reverenciado há poucos dias por Lula, Ciro e outros setores da esquerda) e pelo regime militar (idolatrado incessantemente pelos adoradores de Bolsonaro), não foram suficientes para ensinar a esses brasileiros o conceito de liberdade. Infelizmente, nem todos aprendem com a história…
Hoje, parte desses brasileiros acha que vai conquistar uma independência para chamar de sua. Prometem sair às ruas vestidos de verde e amarelo, repetindo gritos de guerra patrióticos em defesa da liberdade e da democracia. Julgam-se defensores da família, da pátria, de Deus e da verdade. Acreditam ter sido ungidos pela luz divina e pela sabedoria humana. Assim, reivindicam para si a alcunha de “pessoas de bem”. Consideram-se os únicos e legítimos representantes do povo brasileiro e, como tal, pensam possuir procuração para “autorizar” o presidente a tomar as medidas necessárias – sejam elas quais forem – para aniquilar definitivamente quaisquer ameaças de comunismo, em especial aquelas em forma de pandemia, urnas eletrônicas, órgãos de imprensa, livros de educação sexual, movimentos sociais, partidos de oposição e membros do judiciário e do legislativo.
Hipócritas!
Vão, “brasileiros de bem”, invadam Brasília, tomem a Avenida Paulista, lotem a Praça da Liberdade. Disfarcem o quanto puderem a bolha em que vivem. Marchem, gritem, buzinem, mas saibam que o barulho de seus berros não produz eco. A “autorização” de vocês de nada vale. Na prática, seus esforços são tão inofensivos quanto as bravatas inconsequentes que seu ídolo costuma repetir todos os dias. Nenhuma ruptura ocorrerá.
O STF continuará praticando arbitrariedades, porque – ao contrário do que vocês pensam – não basta um cabo e um soldado para intimidá-lo. As duas únicas oportunidades viáveis e democráticas de renovação foram desperdiçadas pelo seu mito, que nomeou gente da mesma estirpe de muitos dos que lá estavam.
O congresso continuará a aprovar medidas irresponsáveis, sem se importar com a situação atual do país. E terão, como de costume, a bênção de um presidente fraco, populista, corporativista, e refém da distribuição de verbas, cargos e benesses. Sim, ele é parte do sistema. Sempre foi. Só vocês, nessa veneração cega e tonta, recusam-se a perceber.
As urnas eletrônicas serão utilizadas, como sempre, na eleição do ano que vem. Sim, haverá eleições, e qualquer ameaça de insurgência quanto ao resultado do pleito será rechaçado prontamente, não só pela polícia como pela sociedade. Acostumem-se à ideia.
O exército brasileiro não irá apoiar qualquer tentativa de ruptura institucional, mesmo porque – ao contrário de vocês – a imensa maioria da população brasileira repudia golpismos, principalmente quando o golpista é inepto, obtuso, incompetente, corrupto e sem nenhuma capacidade de liderança.
Governadores e prefeitos continuarão fazendo valer seu direito constitucional de determinar medidas de isolamento, e a CPI da Covid continuará apontando desvios de recursos, de conduta e de caráter, apesar de algumas figuras nefastas que a compõem.
Portanto, “brasileiros de bem”, fiquem à vontade para protestar. Gritem por uma democracia sem congresso, sem STF, com o executivo comandado indefinidamente por um incapaz. Peçam por uma liberdade que, no fundo, só quer calar a voz de muitos. Nada vai mudar, mas não desanimem. As manifestações de hoje irão mesmo entrar para a história. Afinal, sem elas, talvez jamais tivéssemos condições de identificar com exatidão quais de vocês apoiariam abertamente a implantação de uma nova ditadura militar no Brasil. Esse tipo de pensamento me dá nojo. Desse tipo de “patriotismo”, eu quero distância.
Feliz dia aos milhões de brasileiros que têm a mínima noção do significado da palavra independência!