– Adélia, que cara é essa?
– Marlene, tô muito preocupada com você.
– Gente, por quê?
– Você não para de falar sozinha.
– O quê? Eu não falo sozinha.
– Fala sim, e muito.
– Você bebeu, só pode.
– Ah, é? Você começou falando sozinha no corredor dos cereais, depois ficou tagarelando um tempão em frente às carnes e agora na fila do caixa voltou a falar com o além. Não vem tentar me enganar.
– Amiga, agora quem tá preocupada sou eu. Eu só parei pra conversar com outras pessoas.
– Eu tava te vendo aqui de fora, Marlene. Não tinha ninguém do seu lado.
– Olha só, Adélia, primeiro eu cumprimentei a Ana Tainá, mas foi rapidinho.
– Nossa, aquela falsa? Vê se eu ia deixar de enxergar aquele entojo.
– Você não deve ter reconhecido. Depois fiquei conversando com a Rihana, que era nossa colega de academia.
– Nunca mais vi.
– Pois é, e agora no caixa tava falando com a Graça, lembra dela?
– Claro. A maior maria-vai-com-as-outras que eu conheço.
– Ela mesma.
– Só tem um probleminha, Marlene. Eu tava aqui fora o tempo todo. Nenhuma delas passou por aqui e eu vi que você tava falando sozinha.
– Adélia, rápido, abre seu Facebook.
– Por quê?
– Entra nas páginas das três.
– Calma…
– …
– Meu Deus, todas elas me bloquearam.
– Sabia. É por isso que elas não aparecem pra você.
– Mesmo aqui fora?
– Sim, lembra do Marquinhos, aquele babaca do meu vizinho de porta?
– Lembro.
– Bloqueei o sujeito. Nunca mais vi a cara dele.
– Menina, tô passada.
– Amiga, encare como um livramento.
– Será que mais alguém me bloqueou?
– Qualquer hora você acaba descobrindo.
– Marlene, não olha agora mas tem um cara ali atrás que não tira os olhos de você.
– Ah, é o Clóvis, um rolo que eu tive no mês passado.
– Ué, se vocês se conhecem, por que ele não vem falar com você?
– É que eu coloquei ele como restrito…