Não se viam há anos. Seis? Sete? Nenhum deles se lembrava ao certo. Ele a reconheceu primeiro. Viu-a de costas junto ao balcão da cafeteria. Quando notou que ela passaria ao seu lado, virou o rosto para que não lhe coubesse a iniciativa do cumprimento. Em alguns segundos de ansiedade, visualizou do abraço carinhoso ao olhar de desdém. Mas foi sua imagem saindo pela porta e desaparecendo na multidão que o fez voltar a buscá-la.
Lá estava ela, a poucos metros de distância, sentada em uma mesa junto à antiga jukebox que dominava a ala mais intimista da casa. Tinha os cabelos mais claros, em contraponto ao semblante sombrio. Tomava seu café sem pressa, e olhava na direção oposta à dele. Percebeu que pouco tinham mudado. O orgulho ainda os dominava.
Por fim, entreolharam-se.
Ele quis sorrir, mas seus lábios não obedeceram. Seus olhos, sim. Pegou seu lanche no balcão e caminhou em direção à mesa. Ela sustentou o olhar o quanto pôde. Então vacilou. Um instante de hesitação que ele chamou de esperança. A música ambiente dizia que o tempo não para. Ao chegar ao lado dela, ele parou.
– Posso me sentar?
– Se quiser – disse, com frieza.
– Não sabia que tinha voltado.
– Faz mais de ano.
– Não pensou em me ligar?
– Por que deveria?
– Sei lá.
– Pois é. Eu também não.
– Voltou sozinha?
– Então… o que você anda fazendo?
– Ah, vivendo no mesmo clipe sem nexo de sempre.
Ela sorriu timidamente. Ainda se lembrava.
– Você continua se achando um sedutor.
– Não tenho como evitar. Faz parte do meu show.
Ela baixou os olhos. Ele aproveitou para se certificar de que seus anelares não traziam sinais de alianças.
– Será que podemos voltar a nos ver de vez em quando?
– De vez, ou quando?
– Vez ou outra.
– Acho que não nos restam motivos.
– Eu quero um motivo pra viver.
– Desculpe, mas não tenho vocação pra tábua de salvação.
– Será? Foi só você partir e eu me afoguei.
Suas mãos oscilaram. Pousou a xícara no pires, na esperança de que ele não tivesse notado.
– E aprendeu a nadar?
– Na marra.
– Então somos todos sobreviventes.
– A vida continua, não é?
– Mas a emoção acabou. A nossa música nunca mais tocou.
– Eu jamais deixei de ouvi-la.
Entreolharam-se sem hesitações, pela primeira vez.
– Quem sabe você não a canta pra mim amanhã?
– Por que não agora?
– Tenho que treinar meus ouvidos.
– Pra que usar de tanta educação pra destilar terceiras intenções?
– Você me conhece. Minhas intenções são sempre muito claras. Amanhã, aqui, neste mesmo horário.
– Chegarei antes. E lhe trarei mil rosas roubadas.
– Exagerado.
– Sou. Mas preciso te ganhar ou perder sem engano.
– Talvez suas chances aumentem se, amanhã, você me chamar pelo codinome. Ainda é o mesmo…