Ao contrário do que se imagina, as formas de comunicação instantânea não nasceram com a internet. Muito antes da invenção do Whatsapp, a humanidade já conseguia se comunicar à distância em tempo real. E falo de meios bem mais democráticos e acessíveis do que um telégrafo, por exemplo. Afinal, para que este último funcionasse, era preciso pelo menos um segundo aparelho que recebesse e registrasse o que o primeiro informava.
Milhares de anos antes disso, homens já enviavam mensagens usando métodos de comunicação que, apesar de sua simplicidade, conseguiam compartilhar informações de forma simultânea a toda uma comunidade.
No passado, fumaça, fogo e música já serviram de alerta para tentativas de invasão, movimentação de grupos inimigos, mortes de líderes e até nascimentos, comemorações e eventos, dando origem às primeiras colunas sociais da história.
A tecnologia mudou tudo isso, naturalmente. Durante muitos anos, o telefone, os jornais, o rádio e a televisão foram os veículos mais usados na comunicação à distância. E com o advento da Internet e das redes sociais, a comunicação se democratizou de vez.
Curiosamente, mesmo com a tecnologia disponível a todos, o ser humano não se esqueceu das rudimentares formas de comunicação utilizadas há milênios.
Há cinco anos, o brasileiro voltou a utilizar a comunicação por tambores tão difundida em povos primitivos. Por questões de logística, os grandes e pesados tambores foram substituídos por panelas, bem mais leves e acessíveis.
A novidade foi objeto de reportagens e estudos antropológicos pelo mundo afora, e de veemente repúdio por parte daqueles que não concordavam com a mensagem divulgada. Segundo estes, os donos das panelas não tinham lugar de fala – ou de ritmo – para se manifestarem.
De qualquer forma, o objetivo daquela comunicação foi atingido e o som das panelas cessou por alguns anos. Mas veio a pandemia, veio a quarentena e as panelas voltaram a ser utilizadas como instrumentos de comunicação, inclusive por aqueles que tanto as criticaram.
O grande problema agora é que as mesmas panelas estão sendo usadas para mensagens contraditórias. Aí, convenhamos, vira bagunça. Não dá pra ficar marcando hora pra panela que fala mal e pra panela que fala bem. Perde-se a espontaneidade do movimento, entende? Além do mais, o som da panela está indissociavelmente ligado à crítica. Quem quiser falar bem deveria bater palmas e não panelas. Mas as palmas já estão sendo usadas como homenagem aos profissionais da saúde.
Como resolver tamanho dilema e, ao mesmo tempo, dar espaço para que todos possam se manifestar livremente?
Cheguei a pensar em trocar as panelas por copos mas isso seria perigoso demais. Nossos hospitais não estão preparados para uma avalanche de solicitações de suturas, principalmente no atual momento.
Objetos de plástico também não seriam adequados pois não emitem sons que possam fazer frente às panelas.
Caixas de som voltadas para as janelas tocando “Eu te amo, meu Brasil” serviriam bem ao propósito mas o aspecto arcaico da coisa estaria perdido (refiro-me obviamente ao uso da tecnologia, não à música).
Por fim, pensei em apitos e vuvuzelas mas imaginei que a menção a mais um fracasso brasileiro talvez não fizesse bem ao ego nacionalista dos usuários.
Pedi a opinião de diversos especialistas em sons mas ainda não encontrei algo que consiga passar a mensagem da forma única e peculiar que seus usuários merecem. Continuo aceitando sugestões.
Um especialista do interior chegou a me sugerir a utilização de berrantes. Seria uma boa ideia se não fosse justamente de um berrante o som que convoca cada manifestação…