Tem gente que não admite ir a um show de humor sem se acabar de rir. Nada contra, muito pelo contrário, acho que esse deve ser mesmo o espírito de quem sai de casa com o intuito de se divertir.
Mas tem gente que exagera.
Sabe aquele sujeito que já começa a gargalhar quando o humorista aparece no palco? Cá entre nós, humorista que faz graça sem abrir a boca não existe desde os tempos de Golias e Costinha.
Particularmente, sempre fui um cara que sorri com facilidade. Mas, pra me fazer gargalhar de verdade, o humorista tem que estar muito inspirado ou, pelo menos, ter dado a sorte de me encontrar saindo de uma longa – e farta – degustação de vinhos.
Não me entendam mal, a minha dificuldade em gargalhar não tem necessariamente relação com a qualidade do humorista ou do espetáculo. Pra ser sincero, prefiro muito mais um texto inteligente, temperado com boas doses de ironia fina e algumas pitadas de sarcasmo, do que aqueles quadros no estilo pastelão em que o ator sempre faz coincidir o final de uma piada com o volume máximo de decibéis que sua voz histriônica é capaz de alcançar. Ainda que o segundo possa, breve e eventualmente, me fazer gargalhar, o primeiro será sempre merecedor de um perene e eloquente sorriso de admiração.
Mas nada me deixa mais avesso às gargalhadas do que me deparar com o humorista corporativo. Aquele que é contratado pra enaltecer (ou conceber) as qualidades de uma empresa e detonar as concorrentes. Aquele que busca sempre dosar as palavras para não ofender o contratante e abre mão da característica primordial do bom humor: a contestação. Aquele que finge satirizar um personagem pois, quando o faz, seu real objetivo é fazer com que os outros se sintam ridicularizados. Aquele que, na verdade, não passa de um baba-ovo.
Humoristas desse tipo me fazem sentir ainda mais saudades dos textos ricos e provocadores que muitos gênios desfilaram ao longo de tantos anos. Talvez eles sejam apenas reflexos dos nossos dias. Talvez os personagens atuais sejam tão toscos, tão caricatos, tão grotescos, que acabam por tolhir a capacidade criativa dos nossos humoristas. Pelo jeito, isso pouco importa. O que não falta é gente pra rir de piada sem graça…