Tentei escrever uma crônica à altura dos acontecimentos do último fim de semana. Afinal de contas, agora devo zelar pela minha condição de escritor. Busquei metáforas que revelassem as nuances do sorriso insistente, longevo, incansável que se apossou do meu rosto. Não as encontrei. Caminhei por jardins de figuras de linguagem na esperança de colher hipérboles que fizessem jus ao tsunami de afeto que me envolveu. Tampouco as vi. Enveredei-me por outros campos — agora semânticos — na tentativa de encontrar vocábulos que fossem mais enfáticos do que o batido “muito obrigado”. Nada.
Resignei-me.
Talvez as palavras tenham se cansado de me levar pela mão. Talvez essa coisa de cronista não tenha passado de um sonho de verão. Seja como for, aqui estou, outra vez incapaz de descrever sentimentos que não se restringiram às mágicas três horas e meia de uma longa fila de carinhos e abraços emocionados. Meu coração começou a bater mais forte já na noite de sexta, em que as taças usadas nos primeiros brindes eram sustentadas por mãos vindas do Rio, de Cuiabá, de São Paulo, de Sorocaba, de BH. A essas juntaram-se — no sábado — outras mãos cariocas e paulistanas. Mãos de Pirenópolis, de Sertãozinho, de Assis, de Vila Velha. Mãos de um mineiro que há muito mudou-se para o Rio, e há pouco mudou a minha vida. Mãos velhas conhecidas e mãos recém-chegadas. Mãos de afagos tímidos e mãos de contatos efusivos. Mãos tagarelas e mãos silentes. Mãos acostumadas a me a tocar, e que — por alguma razão — estavam ainda mais ternas. Mãos ao meu alcance e mãos que eu daria tudo para poder acariciar novamente. Tamanho êxtase só poderia terminar em comunhão com a natureza, sob as bênçãos da arte. Sempre a arte.
Se tudo não passou de um sonho, que eu continue a sonhar.