Natividade…

— Qual é a sensação?

— Puxa, nem sei dizer.

— Não pensei que tivesse dificuldades para encontrar a palavra certa.

— Até parece que não me conhece.

— Foi só uma provocação.

— E eu não sei?

— Ainda estou esperando.

— Folhear você me lembra o balbucio de um bebê.

— Por quê?

— As páginas passam depressa. Os olhos não identificam mais do que uma sílaba aqui, outra ali.

— Pena que balbucios não digam muita coisa.

— Espero que tenha sido só mais uma provocação.

— Hehe. Fale mais.

— Dá pra sentir seu cheiro.

— Tenho cheiro de livro, não?

— Sim. Mas também tem cheiro de sorrisos, cheiro de saudade.

— Entendo os sorrisos, mas… saudade? Acabei de nascer. Deveria ter cheiro de filho.

— E tem. De filho de rio. Daí a saudade.

— Por que a usou tão poucas vezes comigo?

— Preferi rio, mar, mãos, ombros, silêncios. São todos sinônimos.

— Pra você?

— Pra nós dois.

— Será que quem vier conseguirá perceber?

— Talvez perceba até o que tentamos disfarçar.

— Isso te assusta?

— Pouco importa, agora. Não está mais nas minhas mãos.

— Ainda está falando da saudade?

— Não. Falo de você.

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