– Velho amigo, há quanto tempo.
– Puxa, tempo demais. Que coisa boa te encontrar.
– Pena que seja em uma circunstância como esta.
– Nem me fale. O que você está fazendo aqui? Não me diga que é por causa da Tati.
– É por causa dela sim. Estou arrasado. A gente avisa, avisa, mas parece que as pessoas não ouvem.
– Sei bem como é isso. Estou vivendo problema igual.
– Você não está falando do Pedrinho, está?
– Dele mesmo.
– Não é possível. O Pedrinho sempre foi sensato, pé no chão, preparado… Como é que ele entrou nessa?
– Não sei dizer. No início, tudo parecia tranquilo. Mas, mesmo naquela época, eu falava pra ele ter cuidado com o vício.
– Eu dizia a mesma coisa, meu amigo. Eles nunca acham que vão chegar nesse ponto. Não sei mais o que fazer.
– Você tentou convencê-la a buscar algum tipo de ajuda?
– E quem disse que ela aceitou? Nessa fase as pessoas não fazem ideia do quanto estão alucinadas. O Pedrinho buscou?
– De jeito nenhum. E ainda fugiu de casa pra morar na rua.
– Que tristeza. O caso dele parece até mais grave.
– Não sei se existe essa coisa de mais ou menos grave, sabe? Todos estão desnorteados. Meu medo é que não tenha volta.
– Vira essa boca pra lá. Os valores familiares que a gente ajudou a passar pra eles não podem ter se perdido.
– Tomara que você esteja certo.
– Tenha fé. A gente aprendeu com a idade, não foi?
– Bom, vamos entrar. Parece que estão abrindo os portões.
– Pai!
– Mãe!
– Filho, você não vai acreditar. Os patriotas que estão na minha cela estão por dentro de tudo. A guerra tá pra começar, filho. Não conta pra ninguém, ok? As paredes têm ouvidos. Mas Deus tá no comando, e o Brasil vai se livrar do comunismo!
– …
– Boa sorte, velho amigo.
– Pra nós. Vamos precisar…