Os Natais e a brisa…

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A maioria das minhas noites de Natal foi passada ao lado de muita gente. Tios, primos, cunhados, sobrinhos e amigos insistiam em me mostrar o quanto as famílias podem ser inusitadas, controversas, generosas e divertidas. Outras foram passadas somente com meus pais e irmãos, contrariando nossa vocação de convidar meio mundo a cada momento de celebração. No mais solitário dos meus Natais, eu e dois amigos estávamos bem longe de casa. Ainda assim, a noite gelada foi aquecida por sorrisos e prantos, trivialidades e reflexões, saudades e certezas de que as ausências – assim como os Natais – fazem parte da vida.

Os últimos anos, entretanto, trouxeram novos ingredientes a uma receita já consagrada. Passei a enxergar no Natal a maior oportunidade de me completar. Os enfeites, as árvores e os presentes tornaram-se irrelevantes diante dos toques, dos cheiros, das mãos entrelaçadas, das longas conversas que independem da tecnologia para acontecer. Assim, nossas noites de Natal passaram a ser inestimáveis como aquelas em que Papai Noel transformava sua presença em catarse coletiva. Aquelas em que as palavras de meu pai tocavam tão profundamente o coração das pessoas que até as lágrimas apareciam para ouvi-las também. Aquelas cuja profusão de emoções ajudou a definir meu conceito de família.

Lembramo-nos de muitas delas ontem à noite, quando a brisa do mar foi a única a nos fazer companhia. Cantamos, abraçamo-nos, reconhecemo-nos. Em nossas divagações, perguntamo-nos quando meu irmão terá novamente coragem de usar a roupa vermelha que revela o Papai Noel que ele jamais deixou de ser. Arrisquei – em vão – palavras que guardassem uma fração da sabedoria que testemunhei ao longo de tantos anos. Ao final, ficamos novamente com a certeza de que as ausências – assim como os Natais – fazem mesmo parte da vida.

Tenho a impressão de que a brisa do mar também foi dormir em paz.

Feliz Natal a todos.

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